Economia Titulo Nicho
Vendas de veículos para deficientes aceleram

Ao mesmo tempo que mercado automotivo
se retrai, busca por carros adaptados cresce

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
07/09/2015 | 07:28
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Enquanto as vendas totais de veículos zero-quilômetro no País vão de mal a pior, com queda que supera 20% neste ano, em comparação com os números de 2014, e a projeção é de fechar o ano com queda de 23,8% nos licenciamentos, um nicho específico do setor automotivo segue em ascensão. Trata-se de carros destinados a pessoas com deficiência ou seus familiares: o volume comercializado para esse público deve crescer 20% em 2015, alcançando a marca de 100 mil carros, de acordo com projeção da Abridef (Associação Brasileira das Indústrias e Revendedores de Produtos e Serviços para Pessoas com Deficiência).

Pode parecer pouco perto do tamanho do mercado da indústria automotiva no País, que chegou no ano passado a 2,5 milhões de automóveis novos vendidos. Mas o ritmo é expressivo. Em 2012, haviam sido licenciados só 26 mil carros para deficientes no País, número que subiu para 46 mil em 2013 e atingiu 84 mil em 2014. O presidente da Abridef, Rodrigo Rosso, assinala que, não fosse a turbulência econômica, seria possível chegar a 150 mil carros vendidos.

Obter melhores condições de mobilidade é um dos fatores que ajudam a impulsionar essa demanda, apesar da crise. “O carro adaptado me dá muita liberdade”, conta, com satisfação, a jornalista de Santo André Maria Paula Vieira, 22 anos, que possui doença genética que atrofiou seus pés e mãos. Ela comprou seu primeiro automóvel, um Honda Fit, há três anos. Ela acrescenta que vantagens como isenções de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na primeira compra e de IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), ajudaram. “Com tanto gasto que já tenho devido à deficiência, ficaria complicado arcar com mais essas despesas.”

A possibilidade de ter autonomia motivou, desde cedo, a diretora de marketing Alice da Silva, 49, de Cotia, que tem paraplegia. “Cresci sem andar, e percebi que precisava cuidar de mim, para trabalhar e estudar”, diz. Ela também assinala: “Com os R$ 10 mil de abatimento do carro, eu gasto com cadeira de rodas e cadeira de banho, por exemplo”. Rosso cita que a economia na compra varia dependendo de cada Estado, mas pode chegar a 28% com esses descontos.

Toda essa economia motiva o aposentado Marcelo de Paula Torres, 42, de Santo André. Ele, que aos 19 foi atropelado e perdeu a perna esquerda, recentemente comprou um automóvel de segunda mão e mandou fazer a adaptação, colocando embreagem manual. Porém, para início de 2016, ele planeja adquirir um carro zero e se beneficiar dos descontos.

FAMILIARES - Outro motivador para impulsionar o mercado foi a mudança da legislação que, a partir de janeiro de 2013, estendeu a isenção de IPI e ICMS a não condutores, ou seja, favoreceu familiares que utilizam o automóvel para transportar o deficiente. A isenção do IOF no financiamento e do IPVA até agora só vale quando o condutor é o deficiente – no caso do IPVA, há Estados que isentam também o familiar, mas não em São Paulo.


Faltam informações sobre isenções e quem pode usufruir delas

A falta de informação ainda é um limitador, que impede o crescimento ainda mais rápido das vendas de veículos para deficientes. No entanto, na avaliação do presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Moan, o foco das empresas do ramo em atender necessidades específicas da população – como nesse mercado – é uma tendência não só no Brasil, mas no mundo inteiro.

Rodrigo Rosso, da Abridef, cita que muita gente não sabe, mas os carros adaptados, aos quais há direito a isenção, são acessíveis não apenas a deficientes, mas também a pessoas que têm patologias (dependendo do gravidade), como diabetes, câncer de mama, HIV positivo, mal de Parkinson, artrite, artrose e hérnia de disco, entre outras. “Tem também uma parcela enorme da população que tem direito, os idosos que têm problemas no joelho, quadril etc”, assinala.

Para conseguir o desconto, é preciso passar por médicos credenciados pelo Detran. Também é necessário, para dirigir carro adaptado, obter habilitação própria. Miriam Passarelli, diretora da autoescola Javarotti, especializada nesse público, conta que passam, mensalmente, pela unidade de Santo André, de 60 a 80 pessoas com deficiência. Fundada há 22 anos, a rede, hoje com dez filiais, está em expansão. Acaba de abrir unidade em Mauá e está em vias de inaugurar filial em São Caetano.

Além da habilitação, é preciso juntar documentação na compra do carro, como cartas da Receita Federal e da Secretaria da Fazenda do Estado. O processo é trabalhoso e Rosso avalia que compensa contratar despachante especializado. Alice da Silva concorda. “É mais confortável, não preciso perder o dia na Secretaria da Fazenda e na Receita em filas esperando”, diz.

Alice trocou de carro no ano passado e adquiriu um Prisma, da Chevrolet. Ela conta que, entre o tempo de juntar documentos pessoais, holerite, extrato bancário e laudo médico expedido por clínica credenciada do Detran e obter as cartas para o IPI e ICMS, mais a espera para retirar o carro, foram cerca de três meses. Porém, tem gente que demorou bem mais, como foi o caso de Maria Paula Vieira, que esperou seis meses até receber o carro.

EVENTO - Com o apoio da Abridef, será realizado nos dias 19 e 20 o 1º Mobility Show, evento no autódromo de Interlagos, em São Paulo, com entrada e estacionamento gratuitos que concentrará em um mesmo espaço o que é necessário para pessoas com deficiência, familiares, idosos e portadores das mais diferentes patologias se informarem sobre como aproveitar os benefícios.

Haverá desde despachantes, médicos credenciados pelo Detran, montadoras com veículos para test-drives, bancos, seguradoras a outras empresas e instituições.

Será disponibilizado transporte gratuito partindo do Metrô Jabaquara para o local. Mais informações pelo site www.mobilityshow.com.br. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;