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Livro revela sexo e rixas na Jovem Guarda
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
24/06/2001 | 18:57
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O Rei Roberto, o Tremendão Erasmo, a Ternurinha Wanderléa e toda a corte da Jovem Guarda estão no livro Jovem Guarda – Cronistas Sentimentais da Juventude (Companhia Editora Nacional, 174 págs., R$ 14), que a andreense Ana Barbara Aparecida Pederiva lança terça na Casa da Palavra (praça do Carmo, 171, Santo André. Tel.: 4992-7218).

Para a autora, a Jovem Guarda foi “o maior movimento musical da cultura popular dos anos 60 e um dos porta-vozes das transformações comportamentais, incluindo as sexuais, da década”. Sexo era muito valorizado e se envolver com fãs era norma. “Pelo menos com as, digamos, mais atrevidas”, diz Ana.

A autora conta que a maior motivação não estava no dinheiro. Os artistas queriam “subir no palco, cantar algumas músicas e ganhar a mulherada”. Outro fato: havia, sim, rixas entre músicos de diferentes tendências.

Ana passou dois anos e meio pesquisando o tema para seu mestrado na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “O texto do livro é exatamente o mesmo da dissertação”, afirma. A obra, porém, não contém ranços acadêmicos que costumam afastar leitores. No momento, ela prepara a tese de doutoramento, também pela PUC-SP, sobre a música dos anos 60 – bossa nova, canções de protesto e tropicalismo, além da Jovem Guarda.

O que despertou a curiosidade de Ana pelo tema – ela tem 29 anos e, portanto, não traz na memória aquela época – foi a falta de material bibliográfico sobre o movimento quando realizava pesquisas para o curso de graduação em História na PUC-SP. “Um vácuo por conta de preconceitos intelectuais contra um movimento qualificado como alienado. Mas a Jovem Guarda é o movimento de massa de maior sucesso, merece ser estudado”, afirma.

Calcificada em baladas românticas, a decantada rebeldia da Jovem Guarda já foi taxada de programada. “Eu também tinha essa impressão, mas percebi que essa rebeldia refletia uma mudança de comportamento. Houve naquela década uma reação às imposições”, afirma.

A indústria cultural, é certo, descobriu um belo filão a ser explorado. “Mas a participação dos artistas foi natural, não estudada. As músicas retratavam o cotidiano, a paquera”, diz.

Jovem Guarda, o programa da TV Record que batizou o movimento, foi ao ar em 1965. Embora Roberto e Erasmo já fizessem sucesso no rádio, a autora revela que o programa nasceu para tapar um buraco na programação com o fim das transmissões ao vivo do Campeonato Paulista de futebol aos domingos. Após o término do programa, em 1968, o movimento conheceu sua decadência.

A autora recolheu depoimentos não somente de expoentes da Jovem Guarda, como Eduardo Araújo (exceto Roberto Carlos), mas também de gente estranha ao movimento, como Chico Buarque. Entre as 119 músicas que Ana destaca na pesquisa, figuram Rua Augusta (Hervê Cordovil), gravada em 1964 por Ronnie Cord, e É Papo-Firme (Renato Corrêa e Donaldson Gonçalves), gravada em 1966 por Roberto Carlos.




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