Turismo Titulo Suiça
Entre o frio e o quente dos Alpes
Por Adriana Ferraz
Enviada à Suíça
23/10/2008 | 07:04
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No quarto dia de viagem, uma proposta diferente: conhecer o Labirinto da Aventura, em Evionnaz. O trajeto, como era esperado, foi feito de trem, em menos de 40 minutos. O parque é um refúgio para as crianças. Por lá, é possível se divertir em mais de 100 brincadeiras artesanais, muitas montadas pelo próprio dono e idealizador da área. Entre as atrações, também há muro de escalada, um tobogã de 30 metros e, claro, um labirinto que dá nome ao local. Para entrar, adultos pagam 16 francos.

Ainda em território dominado pelos suíços de origem francesa, a próxima parada chama-se Sion. Uma cidade charmosa e acolhedora, considerada a capital dos vales.

Para conhecê-la, a melhor dica é caminhar vagarosamente pela área, parando nas pequenas praças e vielas que formam a parte velha. O prato típico da região é composto por queijos, salames, pães e frutas. Para acompanhar, peça o tradicional ‘vinho novo', que mais parece um suco de maçã concentrado. O passeio pode ser feito em meio dia.

Se sobrar tempo, estique até a vizinha St-Léonard e conheça o lago subterrâneo do vilarejo, habitado por gente simples e simpática. O responsável pelo local, de propriedade da população local, leva o turista de barco num passeio que dura cerca de 20 minutos. Durante a viagem, descobre-se que o lago é usado até para cerimônias de casamento.

Aproveite a estada na vila para observar os costumes regionais e perceber que nos quintais da maioria das casas, mesmo as menores, há plantações de uva para fabricação de vinho. Os guias explicam que os moradores fazem o investimento por hobby. Alguns vendem para vinhedos; outros cultivam para consumo próprio.

O dia, cansativo, terminou em Saas-Fee. Pela primeira vez, troquei o trem pelo ônibus, igualmente confortável e pontual. Na viagem, paisagens de águas cristalinas e montanhas não tão verdes. A exploração do turismo, mesmo sustentável, deixa marcas até na Suíça. Campos devastados revelam que nada pode ser tão perfeito. O excesso de hotéis e pousadas dedicadas, principalmente, aos esquiadores e às famílias que buscam descanso tomam o lugar da vegetação nativa.

Durante a noite, experimentei a primeira sensação de gelo. Não esqueça casacos, gorros e luvas. Nesta época do ano, é bem provável encontrar temperaturas negativas. Para esquentar, ceda à tentação dos vinhos, sopas e chocolates. E para economizar, a dica é comprar parte da alimentação - pelo menos o lanche - nos dois mercadinhos que abastecem a população. Apesar de pequenos, eles oferecem variedade de produtos e preços.

Caleidoscópio de aventuras na neve

O dia amanhece e o tempo não colabora. A neve fina que caía sobre as montanhas da região impediu a visão completa do topo de Allalin, mais de 3.500 metros acima do nível do mar, depois de meia hora de viagem em carros de teleférico.

Apesar da falta de visibilidade, o percurso já é válido apenas pelo contato com esquiadores locais. Para quem pratica o esporte, o frio não parece um entrave. Vestidos com equipamentos adequados, adultos e crianças se divertem a temperaturas abaixo de zero.

Do lado de dentro do complexo montado no topo da montanha, a opção para quem não sabe deslizar pela neve é visitar a caverna de gelo. O nome faz jus ao local. A sensação térmica parece ainda mais baixa nos corredores da atração. O passeio vale a pena, desde que feito apressadamente. O frio maltrata a pele dos desavisados e a altitude pode fazer a pressão cair, causando desconforto e tontura. Alimente-se bem e não tenha pressa.

Antes de retornar a Saas-Fee, passe pelo restaurante rotativo (o solo gira para que o turista tenha uma visão completa do local), lotado de esportistas e boas opções gastronômicas. Uma boa pedida é o tradicional estrogonofe, servido com purê de batatas e legumes. Apenas lembre-se de que a paisagem tem um custo: o almoço não sai por menos de 30 francos ou o equivalente a cerca de R$ 60, por pessoa e sem sobremesa.

De volta à vila, aventure-se por atrações praticadas em meio a florestas de pinheiros ligeiramente amarelados. São duas opções: arvorismo ou uma pequena montanha-russa. Ambos seguros e divertidos.

Mas se a intenção é apenas apreciar a região, faça uma caminhada pela cidade, visite as lojas de suvenires e abuse das fotos. Não espere, porém, um clima festeiro. A população é bastante religiosa e quieta. A maioria se declara católica e faz questão de mostrar isso. O maior símbolo é um crucifixo estilizado, com detalhes das chagas de Cristo e dos instrumentos usados na tortura anterior à morte.

Saas-Fee ainda dispõe de hotéis requintados, com opções diversificadas de hospedagem. Alguns, inclusive, oferecem spa aos visitantes. Na mesa, mais luxo, representado em receitas típicas, como o fondue - preparado com uma mistura de queijos suíços, como camembert, brie e roquefort - e a raclette, feita com legumes, batata e queijo de mesmo nome. Nos restaurantes, a temperatura é bem mais quente. A climatização interna permite que os visitantes deixem os casacos pendurados na porta e aproveitem, confortavelmente, as delícias do lugar..

Lucerna, a cidade das pontes

Depois de cinco dias rodando por vilas e pequenas cidades suíças, chegou a vez de seguir para os centros urbanos. Já era tempo. Para quem mora na Grande São Paulo, o silêncio às vezes é perturbador.

Em rumo à estação de trem de Visp, entrei num ônibus responsável pelo trajeto no meio da montanha. O horário marcado para a partida era 8h02. O motorista, já preparado, subiu no veículo às 8h. Um minuto depois sentou no banco e ligou o carro. Pontualmente, engatou a primeira marcha e saiu do estacionamento. Dá até raiva. Tudo dá certo na Suíça. É só ajustar o relógio e obedecer as normas. Por lá, nem o jeitinho brasileiro resolve. Se atrasar, espera o próximo.

A viagem até Lucerna foi longa, cerca de três horas. No trajeto, paisagens incríveis à beira do lago que dá nome à cidade. Nas ruas, gente correndo, fila na estação e barracas de comida espalhadas pela praça principal, que contava, ainda, com um pequeno parque de diversões para alegria da garotada.

O clima de cidade grande (aos padrões suíços, diga-se de passagem, já que a população não passa de 125 mil habitantes) é exemplificado por construções centenárias, como o mosteiro beneditino e as pontes que cruzam o Rio Reuss.

O símbolo, sem dúvida, é a Ponte da Capela, do século 14. A construção coberta de madeira, porém, só foi aberta ao público 300 anos depois, quando o artista Henry Wagmann completou 147 pinturas ilustrativas para adornar a passagem.

Os desenhos relatavam lendas referentes à cidade e eram orgulho para a população. Em 1993, a maioria delas foi destruída em um incêndio. Mas apesar da tragédia, o local continua ponto de turismo.

Cuidadosamente adornada, com flores por toda a lateral, a ponte fica ainda mais bonita à noite, quando um jogo de luzes lhe dá o devido destaque.

Os guias locais também fazem questão de mostrar pinturas que enfeitam fachadas de prédios usados como lojas, centros financeiros ou hotéis. As torres de observação - Lucerna ainda mantém boa parte de suas muralhas - são outros atrativos, já que estão abertas à visitação.

E por falar em visitantes, deixar a cidade sem conhecer o Museu dos Transportes é como ir à Suíça e não andar de trem. Separe uma tarde para entender a paixão do povo pelos diversos meios de locomoção. O local dispõe de tecnologia suficiente para o turista se sentir no comando de aviões, barcos e até carros de Fórmula 1.

Mas não se engane, o charme da cidade está mesmo no conjunto de edificações e pontes (são sete, ao todo) que cercam o rio, aterrado em 1860. Nas redondezas, uma torre guarda o relógio mais antigo do local, finalizado em 1535.

Os moradores contam que suas badaladas, apesar de atrasadas (em um minuto, como tradição), orientam até turistas. Para conhecer todas essas atrações, a melhor saída é mesmo caminhar ou tomar o ônibus nas plataformas espalhadas pelas principais avenidas.

Pena visitar Lucerna no penúltimo dia de viagem. Os bares e restaurantes em frente à Ponte da Capela convidam o turista a passar, pelo menos, um final de semana.




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