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Série discute alienação humana
Por Do Diário do Grande ABC
23/06/2010 | 07:03
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Chega em cena, a partir de sexta-feira, no Club Noir, na Capital, um novo autor de teatro - o inglês Richard Maxwell, até então inédito no Brasil - e uma proposta de encenação minimalista ao extremo, com a apresentação em série dos espetáculos Burger King, Casa e O Fim da Realidade.

As três montagens, apresentadas respectivamente sexta, sábado e domingo, compõem o projeto Tríptico, com direção de Roberto Alvim.

"Essas peças, que podem ser vistas separadas, juntas são arquetípicas. Elas compõem um panorama sobre o homem de hoje. Trabalho, família e violência são, cada um, o tema central de um texto. O que está insinuado na primeira história é desdobrado e aprofundado na segunda, sendo catapultado para complexidades ainda maiores na terceira", conta Alvim.

"O que percebi foi um olhar muito original, específico, sobre aspectos da nossa normalidade aparente. Todas as peças são escritas em linguagem muito expressiva, de aparente normalidade nas situações. Mas, através dos procedimentos artísticos criados por Maxwell, essa normalidade racha".

Burger King apresenta o ambiente corporativo de uma rede de lanchonetes, um ambiente de alienação, onde imperam os clichês de marketing adotados pela gerência, que muitas vezes remetem à ditadura de personagens como Mussolini ou Hitler.

O enredo de Casa conta a história de um homem pequeno-burguês e o cotidiano de sua casa-modelo que é interrompido por um desconhecido. Ele invade o lar e o mata depois de uma discussão. Com a casa vazia, pois o filho também foi morto, a mulher decide ocupar o espaço com o assassino de seu marido e filho.

O último espetáculo, O Fim da Realidade, fala sobre uma sala de segurança que vira e mexe tem de lidar com as ameaças e a insegurança que vêm de fora.

"Nas personagens existe uma espécie de alienação de si mesmas que é tão brutal que é quase como se não houvesse subjetividade. O texto, a forma como eles saem da boca dos atores foi uma das coisas que ensaiamos bastante porque elas trabalham meio disassociadas. Há uma qualidade de zumbi nesses seres".

O grupo se destaca por privilegiar a força do texto, ressaltado pela imobilidade do elenco e pela iluminação sombria. A cenografia desse projeto conta com uma tela suja e rascunhada, que se desdobra em variações minimalistas para compor a ambientação de cada espetáculo. A iluminação não conta com refletores, mas com lâmpadas fluorescentes.

Alvim diz que o casamento dos textos do inglês com a proposta de encenação do grupo foi perfeito. "Os textos dele são difíceis de você saber como levar em cena, porque não têm rubrica, são imagens poéticas, muito fora do esquadro, vultuosas, tortas. Foi onde nos desbruçamos por mais tempo e hoje, eu acho, descobrimos uma maneira que me agrada muito de trazê-las à cena".

Burger King. 6ª, às 21h. Casa, sáb., às 21h. O Fim da Realidade. Dom., às 20h - Teatro. No Club Noir - Rua Augusta, 331, São Paulo. Tel.: 3255-8448. Ingr.: R$ 10. Até 26 de setembro.




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