Setecidades Titulo Mobilidade
Fiscalização falha beneficia infrator

Segundo especialistas em Mobilidade, falta de policiamento nas ruas da região tem impactado diretamente na imprudência de motoristas

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
18/01/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 Está previsto em lei: descumprir normas do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) pode acarretar em punição de grau leve a gravíssimo ao motorista infrator. Para especialistas, no entanto, a fiscalização falha no sistema viário brasileiro tem contribuído cada vez mais para o desrespeito de condutores em relação à legislação vigente no País.

Embora destaquem, de modo geral, que o CTB tornou-se ferramenta importante para o aumento da disciplina de motoristas no sistema viário, especialistas são unânimes ao criticar a ausência de fiscalização mais ampla em vias do Grande ABC.

“De que adianta termos legislação embasada se não temos efetivo suficiente de policiais nas ruas para penalizar quem deve ser punido”, enfatiza o advogado Maurício Januzzi, presidente da comissão especial de Direito Viário da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Para Januzzi, a falta de fiscalização fica evidente ao analisar números de motoristas com habilitação suspensa. No Grande ABC, por exemplo, de janeiro a setembro do ano passado, 34.751 pessoas foram impedidas de dirigir pelo período de seis meses até um ano após cometer infrações de trânsito. “Esse levantamento deixa claro que não existe medo do motorista em relação à fiscalização de trânsito, caso contrário ninguém chegaria ao ponto de ter sua habilitação suspensa”, considera.

Por mais que o número de habilitações suspensas corresponda a somente 2,2% do total de registros de CNH entre os sete municípios da região – é 1,5 condutor entre as sete cidades –, especialistas também são enfáticos ao reforçar a falta de rigor na formação de condutores, inclusive, daqueles que passam pelo curso de reciclagem – processo necessário para recuperar a habilitação após ela ser suspensa (veja como funciona o processo na arte ao lado).

“É preciso que a educação de trânsito seja iniciada ainda na adolescência. Além disso, o procedimento de reciclagem precisa levar conscientização aos motoristas, caso contrário não tem efeito algum ”, avalia o especialista em Mobilidade Urbana e Gestão Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Luiz Vicente de Mello Filho.

A análise do docente tem como base levantamento feito pelo próprio Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), no qual é apontado que 12% dos motoristas são reincidentes, ou seja, já haviam tido sua habilitação suspensa ou cassada anteriormente. “Enquanto não houver mudança no sistema e uma fiscalização rígida na rua para inibir esses motoristas, ainda teremos condutores circulando sem habilitação”, afirma.

Para a palestrante Ana Beatris Piovan, 45 anos, que ontem finalizou o curso de reciclagem, a consciência tem de partir do motorista. “Em 25 anos de habilitada, esta foi a primeira vez que tive a CNH suspensa. Mesmo assim foi porque não tinha recebido as multas para ter o controle. Agora que terminei o curso, nunca mais vou deixar isso ocorrer”, revela.

Acidente que matou duas pessoas na Imigrantes poderia ter sido evitado 

A imprudência ao volante e a falta de fiscalização por parte de agentes de Segurança que resultaram, na semana passada, na morte de duas pessoas e no ferimento de outras seis – após colisão entre dois veículos na Rodovia dos Imigrantes, em São Bernardo –, são citadas por especialistas como exemplos para o desrespeito de condutores à legislação vigente do País.

Na oportunidade, os motoristas dos dois veículos envolvidos na tragédia estavam com a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) suspensa, sendo que um deles dirigia em velocidade acima do limite permitido, de 110 km/h.

“Se houvesse fiscalização da Polícia Militar Rodoviária, com certeza aquele acidente poderia ter sido evitado, ou seja, aqueles veículos teriam que ter sido parados por alguma blitz em algum ponto da rodovia. Nenhum dos motoristas estaria dirigindo sem habilitação se houvesse policiamento”, avalia especialista em Mobilidade Urbana e Gestão Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie Luiz Vicente de Mello Filho.




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