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A hora da onça beber água
Por Raphael Rocha
18/09/2016 | 07:00
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O Ministério Público abusou na entrevista coletiva sobre o indiciamento de Lula, como dizem os advogados de defesa, ou apenas demonstraram por que fizeram a denúncia? Tanto faz: o fato é que chegou a hora de a onça beber água, e Lula e o juiz Sérgio Moro devem encontrar-se frente a frente.

A denúncia contra Lula, sua mulher Marisa Letícia, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro já foi encaminhada a Sérgio Moro. Espera-se que ele decida até amanhã se aceita a denúncia e transforma os indiciados em réus ou se a rejeita e manda arquivá-la. Moro tem-se notabilizado não apenas pela dureza de suas providências (como o amplo uso – legal, segundo os tribunais superiores - da prisão cautelar, em que o investigado fica preso por longos períodos, à disposição do juiz) quanto pela celeridade de seu trabalho: por exemplo, sentenciou o pecuarista José Carlos Bumlai a nove anos e dez meses de prisão em dois minutos. As últimas alegações de um dos acusados no processo foram-lhe entregues às 7h52, e a sentença saiu às 7h54.

Há coisas no processo difíceis de entender. Atribui-se a Lula o recebimento de propina de R$ 3 milhões – isso quando de um gerente da Petrobras, Pedro Barusco, a Operação Lava Jato recuperou R$ 182 milhões.

Enfim, chegou a hora de a onça beber água. O grande problema é que há onças que não gostam de beber água. 

De um bicho a outro
Quando ficou claro que a Operação Lava Jato fixava a mira nele e foi determinada sua condução coercitiva para depor, Lula lançou um desafio: estava pronto para a briga. “Se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve.”

Com a possibilidade de ser julgado por Sérgio Moro, Lula chorou na entrevista coletiva. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, garantiu que o ex-presidente tem o couro duro. A julgar pelo couro duro e pelas lágrimas, a jararaca mal pisada se transformou em crocodilo.

O processo que falta
Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, deu entrevista famosa quando Waldomiro Diniz, subchefe da Casa Civil, homem de confiança do ministro José Dirceu, foi filmado ao tomar R$ 3.000 de bicheiros. O caso iniciou as investigações do Mensalão. Jefferson foi duro com Diniz, que se corrompia por tão pouco: chamou-o de “petequeiro”.

Mas transformar Lula em “petequeiro”, de forma depreciativa, é inaceitável. Seria o caso, então, de levá-lo ao Juizado de Pequenas Causas. Ou de simplesmente processá-lo por dumping.

Deslize – 1
De Lula, falando de seu prestigio popular: “No Brasil, só Jesus Cristo ganha de mim”.

Não ganha: Cristo foi condenado entre apenas dois ladrões.

Deslize – 2
De Lula, criticando os promotores da força-tarefa da Operação Lava Jato, que o denunciaram à Justiça: “Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem de ir para a rua encarar o povo e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O político não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego.”

Lula é o autor da imortal denúncia segundo a qual há 300 picaretas no Congresso. Mudou o Congresso ou mudou Luiz Inácio Lula da Silva?

E a vida continua
Só Lula? Não: a PF (Polícia Federal) indiciou, na sexta, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT); e, mais uma vez, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, do Grupo Odebrecht. Motivo: corrupção no BNDES. Segundo a Polícia Federal, Pimentel, como ministro do Desenvolvimento do Governo Dilma, recebeu vantagens indevidas para facilitar a liberação de financiamentos.

Importante: Pimentel participou da luta armada ao lado de Dilma e é provavelmente o seu amigo mais próximo e há mais tempo.

Pátria enriquecedora
Extraído do levantamento do número de funcionários no Palácio da Alvorada, a serviço exclusivo da presidente afastada, enquanto se aguardava o impeachment: 34 motoristas contratados pela Presidência, com 28 carros alugados. Entre eles, um furgão para transportar a bicicleta de Sua Excelência.

E por que 28 carros com 34 motoristas para atender a Dilma, sua mãe e uma tia? Porque sim. Não havia controle de despesas. O contrato de locação termina em 1º de novembro e, dizem, será reduzido.




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