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Inmet admite ter menosprezado força do 'Catarina'
Por Do Diário OnLine
Com AE
30/03/2004 | 00:16
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O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) admitiu nesta segunda-feira que os serviços meteorológicos brasileiros menosprezaram a intensidade do ciclone 'Catarina', que devastou 41 municípios entre o litoral sul de Santa Catarina e litoral norte do Rio Grande do Sul, neste último fim de semana. "A meteorologia brasileira subestimou a intensidade do ciclone ao chegar ao litoral", declarou o diretor do Inmet, Antônio Divino Moura.

Para justificar essa 'falta de preocupação' com a intensidade do até então incomum fenômeno meteorológico, Moura explicou que falta ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e ao próprio Inmet informações locais, decorrente da ausência de bóias de pesquisa no sul do Oceano Atlântico, próximo aos dois Estados atingidos. Ele revelou que as conclusões tiradas na sexta-feira e no sábado, antes de 'Catarina' chegar ao continente, foram baseadas em fotos tiradas por um satélite, que, segundo Moura, indicavam ventos com velocidade inferior a 90 km/h.

Furacão ou um simples ciclone? - Apesar de assumir que a força do ciclone surpreendeu, tanto o Inmet quanto o Inpe divulgaram nota nesta segunda confirmando que o 'Catarina' não era um furacão de intensidade 1, como o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos informou na sexta-feira.

De acordo com os especialistas dos dois institutos, a forma do ciclone era idêntica a de um furacão. No entanto, sua estrutura interna divergia das características apresentadas pelo fenômeno meteorológico mais forte. A partir do momento em que apareceu o olho do ciclone e as bandas de nuvens em rotação, surgiu a especulação de que poderia se tratar de um furacão.

Porém, o processo de formação do furacão é diferente do processo observado no ciclone. De acordo com as explicações do Inmet e do Inpe, o 'Catarina', em sua fase final, perdeu seu núcleo frio e passou a apresentar rotação no sentido contrário em altos níveis. Este comportamento é próprio de ciclone com características híbridas. Ao contrário, o furacão apresenta um núcleo (olho) extremamente quente.

Os esclarecimentos dos dois institutos não convenceram, no entanto, boa parte dos estudiosos brasileiros. Um dele é Reinaldo Hass, professor da Universidade Federal de Santa Catarina. De acordo com o físico, uma das características marcantes de um furacão é a extensão da área, que varia de 100 a 500 km. Segundo informação de Hass, o 'Catarina' abrangeu uma área de 120 km, o que o classifica como um furacão.

Na sua exposição sobre o que aconteceu no fim de semana em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, o professor fez questão de exaltar que, ao contrário do que muitos afirmaram anteriormente, este não é o primeiro fenômeno meteorológico desta intensidade a acontecer nesta região do Brasil. Hass deixou claro que a falta de tecnologia para estudar os ciclones, tornados e furacões impede que os institutos tomem conhecimento de outras ocorrências. "Além disso, a região só foi povoada há cerca de 30, 40 anos."

O professor Augusto José Pereira Filho, do IAG-SP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências da Universidade de São Paulo), também defende a tese de que o fenômeno que devastou os municípios litorâneos era mesmo um furacão de intensidade 1. No entanto, ele acredita que o 'Catarina' nasceu ciclone e com o passar do tempo ganhou força de furacão. "Trata-se de um sistema híbrido com características de ciclone extra-tropical no início e força de um furacão no fim de seu ciclo de vida", disse. "O olho dele estava associado a ventos de mais de 150 quilômetros por hora, com chuvas fortes estimadas em mais de 300 milímetros."

Antes da polêmica ser lançada, o NHC (Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos), em Washington, já havia declarado que um furacão de intensidade 1, e não um ciclone de ventos até 90 km/h, se aproximava da costa brasileiras. "Queremos examinar o sistema que atingiu o Brasil tanto por causa de sua raridade como pelas interpretações diferentes que nós e os nossos colegas brasileiros fizemos", disse Jack Beven, um dos seis especialistas do NHC.




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