Nacional Titulo Perda para o audiovisual
Incêndio atinge Cinemateca Brasileira, em São Paulo

Não há registro de vítimas ou feridos; três salas com filmes e documentos foram atingidas pelo fogo

Por Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
29/07/2021 | 18:55
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Reprodução


Atualizado às 20h45

Um incêndio atingiu na noite desta quinta-feira (29) o galpão da Cinemateca Brasileira, no bairro Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo. O prédio abriga o acervo fotográfico da instituição, responsável pela preservação do maior acervo audiovisual da América Latina. O Corpo de Bombeiros recebeu a ocorrência às 18h04 e, segundo o órgão, 15 viaturas trabalharam no local. Até o fechamento desta edição não havia registro de vítimas e a causa do fogo ainda era desconhecida.

O prédio no número 290 da Rua Othão, na Vila Leopoldina, foi doado à Cinemateca em 2009, pela Secretaria do Patrimônio da União. Com área total de 8.400 metros quadrados, dos quais 6.356 são de área construída, ele passou a abrigar dois anos mais tarde as reservas específicas de guarda de acervos, áreas de processamento de acervos fílmicos e documentais, laboratório de impressão fotográfica digital e demais instalações administrativas, de apoio e serviços da instituição.

O incêndio começou em uma das salas do acervo histórico do terceiro andar, durante a manutenção do ar-condicionado, realizada por empresa tercerizada, contratada pelo governo federal, de acordo com a comandante do Corpo de Bombeiros, capitã Karina Paula Moreira. “Essa parte do primeiro andar é dividida em três salas, sendo duas de filmes de 1920 e 1949, e uma parte de arquivos impressos e documentos históricos. Essas três salas foram atingidas pelo fogo e nós estamos levantando o que foi queimado e o que foi preservado. Provavelmente, não foi preservado nada, porém, no térreo tem uma parte grande do acervo histórico que não foi atingida”, explicou a comandante.

Com a função de preservar e difundir o acervo audiovisual brasileiro, a Cinemateca é administrada pela Secretaria Nacional do Audiovisual, braço da Secretaria Especial de Cultura e subjugada ao Ministério do Turismo. Há dois anos, o contrato que a Acerp (Associação Roquette Pinto) mantinha com o Ministério da Educação para a gerência da instituição não foi renovado. O governo federal prometeu lançar novo edital para a função, mas a promessa nunca saiu do papel.

Em maio do ano passado, ao demitir Regina Duarte da Secretaria Especial de Cultura, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou em vídeo, ao lado da atriz, que ela passaria a “fazer a Cinemateca”. Ela não assumiu a função. Já em agosto, o governo federal demitiu todos os funcionários que trabalhavam na instituição, alguns com décadas de carreira, e o portal oficial da Cinemetaca foi retirado do ar.

Ainda em 12 de abril deste ano, os ex-funcionários da Cinemateca Brasileira publicaram um manifesto alertando para “os riscos que correm o acervo, os equipamentos, as bases de dados e a edificação da instituição”. “O risco de um novo incêndio é real. O acompanhamento técnico e as demais ações de preservação, inclusive processamento em laboratório, são vitais”, dizia o comunicado, que atentava também para o teor inflamável dos materiais e da possibilidade de autocombustão das películas.

O abandono da instituição gerou críticas de profissionais do cinema brasileiro e da comunidade internacional. No ano passado, o francês Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes, disse que a Cinemateca estava “ameaçada pelo governo federal”.

Ainda em 2016, um dos galpões da Cinemateca foi atingido por um incêndio que destruiu 1.000 rolos de filmes, correspondentes a 500 obras – a maior parte cinejornais.

Repercussão
O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), disse que o incêndio na Cinemateca "É um crime contra a cultura do país". Em seu perfil no twitter, o governador continua "Desprezo pela arte e pela memória do Brasil dá nisso: a morte gradual da cultura nacional", a publicação foi realizada hoje, por volta das 20h. 

Governo pede à PF para apurar causa

A Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo informou ontem que pediu para a Polícia Federal investigar as causas do incêndio que atingiu a Cinemateca Brasileira, na cidade de São Paulo. De acordo com a pasta, o sistema de climatização havia passado por manutenção havia um mês.

“Só após o controle total pelo Corpo de Bombeiros poderá se determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico”, diz trecho da nota da secretaria.

A assessoria da pasta também disse que o secretário adjunto, Hélio Ferraz, viajará para São Paulo a fim de acompanhar os desdobramentos do caso. O secretário Mário Frias e o ministro do Turismo, Gilson Machado, estão na Itália participando de um evento do G-20, grupo de países desenvolvidos e emergentes.

Nas redes sociais, Mário Frias escreveu que a apuração da Polícia Federal vai indicar se o incêndio foi criminoso ou não. “Tenho compromisso com o acervo ali guardado, por isso mesmo quero entender o que aconteceu”, escreveu frias.

“Caso se confirme que o incêndio é fruto da falta de manutenção que nós e todo o setor audiovisual já tínhamos anunciado, vamos perceber que essa é mais uma ação de ataque à cultura e ao patrimônio cultural brasileiro por parte do governo federal, que tem linha ideológica completamente distanciada da cultura brasileira”, disse o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Alê Yousseff.

RISCO IMINENTE
A possibilidade de incêndio na Cinemateca foi documentada pelo MPF-SP (Ministério Público Federal de São Paulo) dia 20 de julho, em audiência. Os técnicos alertaram o governo federal, responsável pela Cinemateca, para o risco. “Pelo MPF, houve comentários sobre a visita realizada e sobre o fato de terem sido bem recebidos. Destacou, entretanto, o fato de risco de incêndio, principalmente em relação aos filmes de nitrato”, diz o termo da audiência, que faz parte de ação do MPF contra a União por abandono da Cinemateca. 




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