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Futuro do PDT é incerto sem Brizola
23/06/2004 | 00:20
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Nascido de uma frustração de Leonel Brizola, que, ao voltar do exílio, ‘perdeu’ a sigla PTB para Ivete Vargas, o PDT vinha sofrendo um processo de esvaziamento há mais de dez anos. Agora, com a morte de seu único líder nacional, está fadado ao desaparecimento ou à fusão com outra legenda, possivelmente o PPS. A avaliação é do cientista político da Fundação Getúlio Vargas Carlos Eduardo Sarmento. "É inequívoco que o PDT é tão-somente o partido do Brizola. Não se pensa no partido com uma linha programática clara, com lideranças de vulto. O PDT está tangenciando a possibilidade de desaparecimento, porque vinha enfrentando dificuldades para atender aos requisitos da Lei Eleitoral. Sem Brizola, a possibilidade de haver uma coesão em torno da legenda é ínfima", avalia.

Na mesma linha, o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que Brizola sempre centralizou em suas mãos o poder no partido e, de certa forma, era o único a encarnar a herança do trabalhismo de Getúlio Vargas. Por essas razões, não deixou sucessores. "Não há ninguém que possa exercer ou mesmo pretenda exercer o papel que ele exercia. Ele era tudo no partido."

"O trabalhismo é uma bandeira confusa em um país complexo, onde a definição de classe não é tão nítida, mas onde existe uma clara motivação de ajudar às populações mais carentes", disse a cientista política Celina Vargas, neta de Getúlio Vargas.

Fusão - Uma opção imaginada por Sarmento é a união com outro partido, "criando um eixo de oposição a Lula, mas não muito significativo". A representação na Câmara é um bom exemplo do esvaziamento do PDT. Em 2002, a sigla elegeu 21 deputados e hoje tem apenas 12. Em 2000, fez 288 prefeituras - anos antes tinha alcançado 436. Em todo país, há apenas 68 deputados estaduais pedetistas e 2.700 vereadores.

O vice-presidente do PDT, Carlos Lupi, amigo e correligionário de Brizola há 25 anos, prefere acreditar que a morte do líder vai despertar uma retomada dos velhos tempos do PDT. "Temos ainda 1 milhão de filiados e, quem sabe, entre mil e três mil lideranças que podem segurar o partido", diz Lupi.

Militantes do PDT do Rio Grande do Sul lembram que o futuro do trabalhismo também foi questionado com a morte do ex-presidente Getúlio Vargas e acabou se revigorando com o ex-presidente João Goulart e com o próprio Brizola. "O partido vai crescer", previu o deputado Pompeo de Mattos.

Na prática, Brizola até lançou dentro do partido vários possíveis sucessores. Políticos importantes como o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, e os ex-governadores Anthony Garotinho, Jayme Lerner, Dante de Oliveira e Marcello Alencar, e o ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira tiveram seus principais momentos na política pelo PDT. Todos acabaram rompendo politicamente com Brizola, exatamente quando alcançavam o máximo de sua popularidade.

Em pelo menos dois Estados, Rio de Janeiro e Paraná, os grupos originários do PDT se tornaram a força política local majoritária. No Rio, César Maia conseguiu dois mandatos de prefeito. Apesar de ter sido o secretário de Fazenda de Brizola no governo do Rio, a partir de 1992, Maia se elegeu pelo PMDB e depois pelo PTB. Hoje, está no PFL.

Maia, porém, acha que não há herdeiros para Brizola. "Com Brizola termina o século 20 na política brasileira. Ele encerra o ciclo que começa na revolução federalista de 1893, com os maragatos, e encerra o ciclo do varguismo. Não pode, por isso mesmo, ter sucessor."

No Rio de Janeiro, Garotinho parecia ser o sucessor natural de Brizola. Pela idade, representaria a renovação do partido. Mas depois de chegar ao governo, acabou não aceitando o estilo centralizador de Brizola e também rompeu, saindo para o PSB e, depois, ingressando no PMDB.




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