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Região descarta 1,5 tonelada de remédios vencidos

Volume foi recolhido por meio de campanha em farmácias em seis cidades desde janeiro; apenas duas prefeituras contam com programas de coleta

Por Aline Melo
30/09/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Moradores de seis das sete cidades já descartaram 1.584 quilos de medicamentos vencidos por meio do programa Descarte Consciente – iniciativa da rede privada – desde janeiro (Rio Grande da Serra ainda não participa da ação). A região foi incluída neste ano na campanha e os endereços dos pontos de coleta podem ser encontrados no site www.descarteconsciente.com.br.

A iniciativa é gerida pela BHS (Brasil Health Service), que administra a rede de coleta e destinação correta dos remédios que já não estão aptos ao uso, patrocinada por farmácias e laboratórios farmacêuticos. A gerente do projeto, Luciana Siqueiras, explica que todo material recolhido é encaminhado para incineração e já foram descartadas 281 toneladas desde a criação do programa, em 2010. “O Brasil é o sétimo país do mundo em consumo de remédios”, relata. O programa Descarte Consciente supre, em parte, a falta de acordo setorial para logística reversa (retorno do produto para que o fabricante faça a destinação) que envolva toda a cadeia produtiva – indústria, distribuidores, varejo –, conforme prevê a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), sancionada em 2010.

A lei reúne série de medidas sobre como deve ser tratado o lixo, priorizando a reciclagem e a destinação correta de tudo o que se produz. “A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) está levantando todos os atores dessa cadeia, a fim de aumentar a pressão pela logística reversa, e desde abril, condicionou o licenciamento ambiental de grandes indústrias à adoção (da logística reversa).”

A coordenadora de TI (Tecnologia da Informação) Patrícia Ribas, 43 anos, moradora de São Caetano, soube em uma drogaria, há dois anos, que não poderia jogar no lixo comum os medicamentos. “Até então jogava tudo junto. Nunca soube que não era o certo nem vi qualquer campanha neste sentido”, relembra. Desde então, separa os restos de xaropes, comprimidos e até de soro fisiológico e entrega em farmácias.

A dona de casa Darci de Souza, 62, costuma dispensar comprimidos no vaso sanitário. O temor da moradora de Santo André era de que alguém pudesse encontrar os medicamentos no lixo e consumir. “Só depois minha sobrinha avisou que não podia. Agora vou levar na UBS (Unidade Básica de Saúde)”, justificou. Segundo a gerente da BHS, um quilo de medicamento pode contaminar 400 mil litros de água.

A gestora do curso de Farmácia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Cristina Vidal, alerta que medicamentos vencidos podem trazer riscos à saúde e não devem ser consumidos. “A ação pode estar comprometida e o mesmo não terá o efeito terapêutico esperado”, explica. “Pode ocorrer a formação de substâncias tóxicas no medicamento vencido e o seu consumo vai levar ao surgimento de reações adversas ou até mesmo intoxicações e alergias.”

Sobre o descarte inadequado, junto com o lixo comum ou no vaso sanitário, Cristina explica que o ato pode ocasionar a contaminação do meio ambiente, especialmente dos córregos e rios, uma vez que as estações de tratamento de água não conseguem eliminar a contaminação química.

Para especialista, abandono de tratamento resulta em acúmulo
A professora de Endocrinologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Maria Angela Marino, explica que o hábito de acumular medicamentos em casa é altamente prejudicial, pois representa desperdício de recursos e risco de automedicação e de intoxicação. A médica alerta, ainda, que a sobra de remédios indica que os pacientes não seguem a prescrição médica, abandonando o tratamento a partir da melhora dos sintomas.

Na avaliação da profissional, é trabalho das vigilâncias sanitárias dos municípios orientar a população e realizar e/ou informar sobre a coleta adequada. “Fala-se pouco deste assunto e a maioria das pessoas acaba descartando junto com o lixo comum, ou jogando pelo vaso sanitário”, relata.

Maria Angela lembrou que outra situação comum é a pessoa que faz uso de medicamentos contínuos esquecer de verificar a validade dos produtos. “Falar desse assunto nas UBS (Unidades Básicas de Saúde), nos hospitais, na imprensa, é fundamental para que as pessoas se conscientizem da importância tanto de ter mais atenção com a validade dos medicamentos, quanto do descarte adequado”, finalizou.

Apenas Mauá e São Bernardo têm programa de coleta
Apesar da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) prever que os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos devem fazer parte dos processos de logística reversa, apenas duas das sete prefeituras do Grande ABC contam com medidas para destinação adequada dos medicamentos vencidos: São Bernardo e Mauá.

Os munícipes podem entregar os itens vencidos ou que não serão mais usados nas unidades de Saúde de Mauá. Por meio do Programa Vai e Vem, o material é enviado para a Central de Tratamento de Resíduos (Lara), para que seja incinerado. A Prefeitura não informou o volume coletado.

São Bernardo recebe nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) medicamentos em bom estado ou impróprios para o uso, porém, não existe programa específico de coleta. Em 2017, foram recolhidos 300 quilos de remédios. Todo volume é enviado para incineração.

Ribeirão Pires estuda implantação de projeto de coleta por meio das UBSs. Santo André informou que os munícipes são orientados a levar os remédios inservíveis à grandes redes de drogarias e estuda implantação de gerenciamento para esses resíduos no município. As outras prefeituras não responderam até o fechamento desta edição.




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