Economia Titulo Inflação
Custo de vida das famílias de baixa renda vai subir

Apesar de inflação menor em 2009, alta no poder
aquisitivo impactará no preço dos alimentos neste ano

Por Alexandre Melo
Do Diário do Grande ABC
06/01/2010 | 07:00
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O custo de vida das famílias com renda mensal entre um e dois salários mínimos e meio ficará mais caro neste ano em comparação com 2009. Isso se deve ao aumento do poder aquisitivo, que elevará a procura por alimentos, subindo os preços. O cenário será oposto ao do ano passado, quando itens como arroz branco, feijão carioca, pão francês e carne moída registraram forte deflação.

A inflação sentida por estas famílias será maior, visto que 40% do orçamento mensal delas é gasto com alimentos. Graças ao valor menor dos alimentos no ano passado, o IPC-C1 (Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1) apresentou alta de 3,69%, quase a metade da inflação apurada pelo índice em 2008 (7,37%).

De acordo com o economista da FGV (Fundação Getulio Vargas), André Braz, os alimentos subiram 1,52% em 2009, a elevação mais fraca desde 2006, quando os preços caíram 1,26%. No período, os itens que protagonizaram as quedas foram o feijão carioca (-30,89%), carne moída (-8,80%), tomate (-27,88%), arroz branco (-17,02%) e pão francês (-2,03%).

"A aceleração nos preços destes produtos dependerá das condições das safras, da exportação e da demanda internacional", pontua Braz. Entretanto, não ocorrerá uma explosão de aumento de preços, mas sim de forma gradativa.

O economista afirma que a pressão no preço de commodities como trigo, soja e milho será maior. "O aumento na passagem do ônibus na cidade de São Paulo carrega a inflação dos últimos dois anos", acrescenta.

Para o frentista Alessandro Santos, de Santo André, as despesas com alimentos foram as que surtiram maior impacto nas contas da família no ano passado. "O salário não acompanha o aumento da inflação", reclama. A dona de casa Vera Lídia Gomes Juvenço, de São Bernardo, também lembra que o leite subiu bastante em 2009.

HABITAÇÃO - A taxa do indicador da FGV poderia ter sido mais baixa se não fosse os aumentos de tarifas. Neste grupo, estão inclusos os gastos com aluguel residencial (6,69%), gás de botijão (11,57%), ônibus urbano (2,97%) e cigarro (21,11%).

A frentista Elaine Alves Queiroz relata que precisou negociar bastante com a proprietária da casa onde mora com sua filha de sete anos. "Pagava R$ 230, mas a dona queria subir o valor para R$ 350. Negociamos e e fechamos em R$ 280", diz. Ela recebe dois salários mínimos e acrescenta que o valor do gás de botijão também pesou no orçamento em 2009.

Cerca de 30% da renda mensal das famílias de baixa renda são destinados para o pagamento de aluguel, de condomínio e de telefone. Segundo o economista da FGV, o que sobra é dividido entre educação e transporte, que corresponde a 11% deste montante.

Morador da região gastou menos para comer no ano passado

O consumidor do Grande ABC gastou menos com alimentos em 2009 do que no ano anterior e, portanto, a inflação registrada foi inferior. De acordo com o IPC-USCS (Índice de Preços ao Consumidor da Universidade Municipal de São Caetano), a inflação no ano passado alcançou 4,81%, sendo que, em 2008 foi de 5,54%.

"Isso ocorreu por conta da baixa demanda por commodities no cenário externo (devido à crise) e pela consequente oferta maior no mercado interno", explica Lúcio Flávio Dantas, assistente de coordenação do IPC-USCS. Outro fator que influenciou foi a vantagem nos preços frente a 2008, quando houve a crise dos alimentos e diversos produtos agrícolas sofreram elevação em seus custos.

Em dezembro, a inflação ao consumidor da região caiu frente a novembro, passando de 0,46% para 0,28%. Segundo Dantas, o que pesou no crescimento comportado foram os setores de alimentos, habitação, transportes e despesas pessoais.

O grupo dos transportes sofreu uma desaceleração inflacionária de 0,74% para 0,16% em dezembro. O etanol, um dos principais responsáveis, passou de 4,21% para 1,23%. A gasolina, de 1,25% a 0,14%. "Isso não significa que o combustível está mais barato, mas que a variação de seu preço foi menor de um mês para outro. Embora nas bombas ainda se observe o aumento do custo, o crescimento foi menor em dezembro, pois o preço já estava em um patamar elevado", explica o assistente.

Quanto à habitação, cuja variação passou de 0,73% para 0,47% de um mês para outro, a desaceleração aconteceu porque o indicador já havia absorvido o impacto do aumento das taxas de água e esgoto em outubro e dezembro, sobrando apenas um residual.

Os alimentos apresentaram pequeno recuo, de 0,36% para 0,32%. Os itens de fim de ano, como azeites e pescados, segundo Dantas não ficaram mais caros devido à influência cambial - pois geralmente são importados, e o dólar está desvalorizado. Em relação às frutas, a variação foi pequena, de 3,99% para 3,32%. O custo das uvas, entretanto, sofreu deflação de 12% em dezembro, devido à época de colheita e da oferta maior.

As despesas pessoais caíram de 0,31% para 0,07%, por influência dos gastos com recreação e cultura, que foram reajustados em novembro. (Por Soraia Abreu Pedrozo)




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