Apesar de inflação menor em 2009, alta no poder
aquisitivo impactará no preço dos alimentos neste ano
O custo de vida das famílias com renda mensal entre um e dois salários mínimos e meio ficará mais caro neste ano em comparação com 2009. Isso se deve ao aumento do poder aquisitivo, que elevará a procura por alimentos, subindo os preços. O cenário será oposto ao do ano passado, quando itens como arroz branco, feijão carioca, pão francês e carne moída registraram forte deflação.
A inflação sentida por estas famílias será maior, visto que 40% do orçamento mensal delas é gasto com alimentos. Graças ao valor menor dos alimentos no ano passado, o IPC-C1 (Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1) apresentou alta de 3,69%, quase a metade da inflação apurada pelo índice em 2008 (7,37%).
De acordo com o economista da FGV (Fundação Getulio Vargas), André Braz, os alimentos subiram 1,52% em 2009, a elevação mais fraca desde 2006, quando os preços caíram 1,26%. No período, os itens que protagonizaram as quedas foram o feijão carioca (-30,89%), carne moída (-8,80%), tomate (-27,88%), arroz branco (-17,02%) e pão francês (-2,03%).
"A aceleração nos preços destes produtos dependerá das condições das safras, da exportação e da demanda internacional", pontua Braz. Entretanto, não ocorrerá uma explosão de aumento de preços, mas sim de forma gradativa.
O economista afirma que a pressão no preço de commodities como trigo, soja e milho será maior. "O aumento na passagem do ônibus na cidade de São Paulo carrega a inflação dos últimos dois anos", acrescenta.
Para o frentista Alessandro Santos, de Santo André, as despesas com alimentos foram as que surtiram maior impacto nas contas da família no ano passado. "O salário não acompanha o aumento da inflação", reclama. A dona de casa Vera Lídia Gomes Juvenço, de São Bernardo, também lembra que o leite subiu bastante em 2009.
HABITAÇÃO - A taxa do indicador da FGV poderia ter sido mais baixa se não fosse os aumentos de tarifas. Neste grupo, estão inclusos os gastos com aluguel residencial (6,69%), gás de botijão (11,57%), ônibus urbano (2,97%) e cigarro (21,11%).
A frentista Elaine Alves Queiroz relata que precisou negociar bastante com a proprietária da casa onde mora com sua filha de sete anos. "Pagava R$ 230, mas a dona queria subir o valor para R$ 350. Negociamos e e fechamos em R$ 280", diz. Ela recebe dois salários mínimos e acrescenta que o valor do gás de botijão também pesou no orçamento em 2009.
Cerca de 30% da renda mensal das famílias de baixa renda são destinados para o pagamento de aluguel, de condomínio e de telefone. Segundo o economista da FGV, o que sobra é dividido entre educação e transporte, que corresponde a 11% deste montante.
Morador da região gastou menos para comer no ano passado
O consumidor do Grande ABC gastou menos com alimentos em 2009 do que no ano anterior e, portanto, a inflação registrada foi inferior. De acordo com o IPC-USCS (Índice de Preços ao Consumidor da Universidade Municipal de São Caetano), a inflação no ano passado alcançou 4,81%, sendo que, em 2008 foi de 5,54%.
"Isso ocorreu por conta da baixa demanda por commodities no cenário externo (devido à crise) e pela consequente oferta maior no mercado interno", explica Lúcio Flávio Dantas, assistente de coordenação do IPC-USCS. Outro fator que influenciou foi a vantagem nos preços frente a 2008, quando houve a crise dos alimentos e diversos produtos agrícolas sofreram elevação em seus custos.
Em dezembro, a inflação ao consumidor da região caiu frente a novembro, passando de 0,46% para 0,28%. Segundo Dantas, o que pesou no crescimento comportado foram os setores de alimentos, habitação, transportes e despesas pessoais.
O grupo dos transportes sofreu uma desaceleração inflacionária de 0,74% para 0,16% em dezembro. O etanol, um dos principais responsáveis, passou de 4,21% para 1,23%. A gasolina, de 1,25% a 0,14%. "Isso não significa que o combustível está mais barato, mas que a variação de seu preço foi menor de um mês para outro. Embora nas bombas ainda se observe o aumento do custo, o crescimento foi menor em dezembro, pois o preço já estava em um patamar elevado", explica o assistente.
Quanto à habitação, cuja variação passou de 0,73% para 0,47% de um mês para outro, a desaceleração aconteceu porque o indicador já havia absorvido o impacto do aumento das taxas de água e esgoto em outubro e dezembro, sobrando apenas um residual.
Os alimentos apresentaram pequeno recuo, de 0,36% para 0,32%. Os itens de fim de ano, como azeites e pescados, segundo Dantas não ficaram mais caros devido à influência cambial - pois geralmente são importados, e o dólar está desvalorizado. Em relação às frutas, a variação foi pequena, de 3,99% para 3,32%. O custo das uvas, entretanto, sofreu deflação de 12% em dezembro, devido à época de colheita e da oferta maior.
As despesas pessoais caíram de 0,31% para 0,07%, por influência dos gastos com recreação e cultura, que foram reajustados em novembro. (Por Soraia Abreu Pedrozo)
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.