Quando os Titãs se apresentavam no Cassino do Chacrinha – programa transmitido pela TV Globo com grande sucesso nos anos 80 – com um rock à Dire Straits que virou um dos maiores hits daquela década, a pegajosa Sonífera Ilha, grande parte da molecada que vê a programação da MTV sequer tinha nascido. Duas décadas, alguns percalços e muitas regravações depois, a banda é vista por esse mesmo público como um dinossauro que, volta e meia, emplaca uma baladinha nas rádios.

Preocupados em desfazer esse rótulo e apresentar o amplo espectro de estilos presentes em sua trajetória, com destaque para a faceta roqueira, Sérgio Britto (teclados e vocais), Tony Belloto (guitarra), Paulo Miklos (guitarra e vocais), Branco Mello (baixo e vocais) e Charles Gavin (bateria) lançam o disco MTV ao Vivo Titãs (Sony-BMG, R$ 31,50 em média). O show que resultou no álbum, gravado no mês passado na paradisíaca Fortaleza de São José da Ponta Grossa (SC), foi registrado também em versão DVD, que chega às prateleiras em outubro.

A emissora musical exibe neste domingo, às 19h, um especial com o show, que precede o lançamento do disco, na próxima segunda-feira (dia 26). No repertório, clássicos como Lugar Nenhum, Polícia e Flores dividem espaço com sucessos recentes, entre eles Enquanto Houver Sol e Provas de Amor. "Uma das coisas boas de um projeto assim é que se tem um fio condutor das várias fases e isso te dá uma noção mais clara do que é a banda", explica Sérgio Britto durante entrevista concedida pelo grupo no restaurante Praça São Lourenço, em São Paulo.

Registro elétrico – Outro motivo alegado para mais um projeto baseado em regravações, após uma seqüência de discos revisionistas iniciada com o Acústico MTV (1997) e só interrompida em A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (2001), é o fato de que não há registro em vídeo dos Titãs em shows com sua formação elétrica, plugada. "No Go Back (primeiro álbum ao vivo lançado em 1988), não tivemos registro das imagens. Temos um público que conheceu a gente no Acústico e queríamos mostrar que somos uma banda de rock", definiu Branco, que produz um filme sobre a história do grupo, em parceria com o cineasta Oscar Castro Neves.

O recheio do bolo titânico tem ainda músicas representativas, mas que não tocaram nas rádios. É o caso de Eu Não Sei Fazer Música, resgatada do polêmico Tudo ao Mesmo Tempo Agora (1991), e Mentiras. Esta última foi gravada em 1987 com os vocais de Miklos no disco Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas e ganhou um arranjo mais encorpado, com guitarras turbinadas e, desta vez, Sérgio Britto à frente do microfone.

Como não poderia deixar de ser, o grupo acrescenta à receita três músicas inéditas, todas com as guitarras distorcidas de Tony Belloto e do músico convidado Emerson Villani em primeiro plano. São elas: Anjo Exterminador, O Inferno São os Outros e Vossa Excelência, canção-manifesto sobre a secular corrupção que está arraigada em quase todos as esferas da sociedade brasileira. "Filha da p... / Bandido! / Corrupto! / Ladrão", berra Paulo Miklos no refrão que atinge em cheio alguns engravatados do Brasil. "Estamos chamando a atenção para o que está acontecendo e que não tem nada de político. É banditismo puro e simples", resume o vocalista, que volta a atuar como ator na próxima novela das sete da Globo, Bang Bang, de Mário Prata, com estréia marcada para outubro.

Majestade – Entre as versões, os Titãs refizeram Aluga-se, de Raul Seixas, e, previsivelmente, reverenciaram a majestade de Roberto Carlos, em O Portão, cantada em ritmo punk-pop por Branco Mello, que assume o baixo em cinco das 20 faixas do disco (Vamos ao Trabalho, Cabeça Dinossauro, Não Vou Lutar, Eu Não Sei Fazer Música e Bichos Escrotos). Nessas músicas, Paulo Miklos também toca guitarra, fato inédito no histórico do grupo.

Mas, afinal, o disco acrescenta muito à discografia dos Titãs, que traz em seu currículo álbuns como o seminal Cabeça Dinossauro (1986) e o irrepreensível Õ Blesq Blom (1989)? Definitivamente, não. Mas ele mostra uma banda afiada, tocando músicas que ficaram gravadas na memória afetiva de muita gente e é diversão garantida para o papai, a filhinha, enfim, toda a família, instituição ironizada pelos Titãs em outros tempos mais furiosos.