D+ Titulo Pesquisa nacional
Nos limites do contato dos jovens com o álcool

Entre as curiosidades das descobertas juvenis, 62,3% dos adolescentes brasileiros admitem beber

Por Luís Felipe Soares
06/05/2018 | 07:05
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Marcos Santos/USP Imagens


Festas e celebrações de todos os tipos são regadas a animação, energia e bebidas. Parece que todo evento social é marcado pela presença de diferentes tipos de drinks, de sucos e refrigerantes a cervejas e batidas. Na adolescência, a curiosidade pelas descobertas deixa um pouco de lado os líquidos ‘infantis’ para aumentar a relação com populares compostos alcoólicos. O contato entre as duas partes tem ocorrido cada vez mais cedo. Pesquisa nacional realizada pela Microcamp aponta que um a cada três adolescentes que bebem iniciou consumo entre 11 e 15 anos (37,3%), sendo que, na faixa mais velha (15 a 18 anos), o índice de contato inicial atinge 23,2%. Os dados têm como base conversa com 2.788 alunos da rede de escolas de informática e inglês com idade entre 11 e 24 anos. 

É preciso lembrar que esses itens são proibidos de serem vendidos para menores de 18 anos. Não que a existência da lei seja obstáculo. Os produtos são voltados para os adultos, mas 62,3% dos adolescentes admitem beber algo alcoólico. 

“No âmbito das drogas, o consumo de álcool está em primeiro lugar, antes de qualquer químico. É de acesso fácil, mesmo com tanta propaganda lembrando que é proibida para menores. Não há controle. As vendas ocorrem abertamente, sendo fácil, por exemplo, ver grupo de jovens, que, claramente, não têm 18 anos ainda bebendo esse tipo de produtos nos postos de gasolina”, afirma a psicanalista Cristiane M. Maluf Martin, especialista em alcoolismo e dependência química, comentando ainda que a maioria das pessoas começa o hábito na própria casa, com brincadeiras em festas familiares.

Entre os motivadores da experimentação, destacam-se curiosidade (43,7%), vontade de descontrair (9,8%) e influência de amigos (5,6%). “Os adolescentes gostam de fazer parte da turma e, muitas vezes, se você não beber, acaba sendo o ‘careta’. Daí vai na onda mesmo. Adultos ficam um pouco mais tranquilos a não cair nessa por serem mais bem resolvidos como indivíduos. Já os jovens estão na corda bamba”, explica a clínica. 

A pesquisa também listou algumas das bebidas mais consumidas, com a popular ‘cervejinha’ (13,6%) sendo deixada para trás por grupo formado por vodca, rum e tequila (33,3%). Apesar dos números, 71,3% dos entrevistados admitem reconhecer o álcool como droga perigosa. O consumo do álcool é capaz de afetar atividades cognitivas, causando lesões no cérebro e comprometendo desempenho na escola e no trabalho, além de influenciar no desentendimento com outras pessoas.

O relaxamento trazido pela substância – ao corpo e à mente – talvez seja sua principal característica. Tomar alguns copos pode ser divertido e não há como mentir para os mais novos. O problema a ser recordado sempre é lidar com os limites. “Penso em um limite emocional e não de quantidade de bebida ingerida. Depende muito de como cada um lida com as questões da vida e isso pode refletir na sua ligação com as bebidas”, analisa Cristiane. “Tanto o alcoolismo quanto a dependência química são doenças comportamentais e falamos de frustrações, alegrias e tristezas.”

A ação para de ser prazerosa quando os vínculos, sejam com família, amores, amigos e vida social, são deixados de lado para que doses de cerveja e vodca, por exemplo, tornem-se prioridade. Quando a euforia trazida pelos drinks ultrapassa essas barreiras, intervenções são necessárias, com a família sendo fundamental para enfrentar a doença. “Há um choque, mas se a família não estiver junto, não existe tratamento.” Não importa a idade, lidar com o álcool nunca é apenas uma brincadeira. 




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