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Documentário ‘escolhe’ Vladimir Carvalho
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
09/12/2007 | 07:11
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É impossível dissociar o documentário O Engenho de Zé Lins, que estréia na próxima sexta em São Paulo, de seu criador, o cineasta paraibano Vladimir Carvalho. Para quem o conhece, dizer que o filme conta a vida de um seu conterrâneo, o escritor José Lins do Rego (1901-1957), já explica tudo.

Carvalho é fã do autor. Não só daquele tipo que coleciona primeiras edições (coisa que também faz). Lins do Rego foi modelo até de penteado de cabelo para o diretor na adolescência, tamanha a admiração que tinha pela personalidade.

O projeto, que culminou no filme exibido em Brasília em 2006, no Rio e na Mostra Internacional de São Paulo deste ano começou de verdade em 2001, centenário do autor. Mas já era algo que rondava Carvalho, hoje com 72 anos, há mais de seis décadas. Ele diz que o tema o escolheu, e não o contrário. Dois minutos de conversa bastam para perceber que não se trata de clichê.

Garoto pequeno em Itabaiana, Carvalho foi apresentado a Menino de Engenho (1932) e Doidinho (1933) pelo pai. “A partir das 22h não tinha mais rádio. A gente sentava e ele lia trechos. E contava como se tivesse vivido tudo aquilo”, afirma o documentarista, radicado em Brasília.

Por questão de poucos anos, a fantasia do pai poderia ter sido verdadeira. O escritor, que nasceu em Pilar, se alfabetizou na vizinha Itabaiana. A catequista D. Marieta lecionou tanto para Zé Lins quanto para Vladimir Carvalho.

E as semelhanças – coisa de fanático ou não – continuam. “Também tive um tio Juca, um parente chamado Dedé (apelido de Zé Lins)...”, enumera.

Mas a coincidência que o fez ter certeza da necessidade do filme sobre o ídolo viria em 2005, quando decidiu se mudar para o Rio para facilitar o contato com as filhas do autor. Escolheu um apartamento na praia do Flamengo de maneira aleatória. Certo dia recebeu uma visita emocionante. “Um vizinho queria verificar se a fonte do vazamento em seu banheiro era da minha casa. Ele me convidou para ver o lugar. Quando entrei na sala, imediatamente vi um porta-retrato em que Zé Lins segurava um bebê no colo”. O bebê era o vizinho de prédio, José Lins do Rego Veras, neto do próprio. “Viramos irmãos”, conta ele.

Íntimo - O retrato que Vladimir Carvalho fez de seu ídolo vai da criação no engenho à paixão sem limites pelo Flamengo (clube do qual o autor foi dirigente). Mais até do que o personagem riquíssimo em causos e tragédias que era Zé Lins, a seleção diversificada de entrevistados deixou o documentário delicioso. O filme está em pré-estréia em São Paulo.

Carlos Heitor Cony, Ariano Suassuna e Rachel de Queiroz (que teve seu depoimento filmado em 2003, ano de sua morte) situam a importância do autor, injustiçado pela crítica, na opinião deles.

Parentes e amigos nem tão ilustres revelam, em entrevistas charmosas, segredos e gostos de Zé Lins. Trechos de uma fita com a gravação de entrevista concedida em Lisboa um ano antes de sua morte, causada por uma cirrose decorrente de esquistossomose, também emocionam.




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