Eleições 2016 Titulo Representatividade
Grande ABC reduz espaço às mulheres

Dentre 142 cadeiras, somente quatro vereadoras
são eleitas; há apenas uma vice-prefeita até agora

Leandro Baldini
10/10/2016 | 07:00
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Montagem/DGABC


Ainda conservador, Grande ABC sofreu retrocesso e elegeu apenas quatro vereadoras dentre as 142 cadeiras dos Legislativos da região, enquanto na última legislatura eram dez as vagas femininas.

Dentre as sete cidades, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra ficaram sem nomes nas Câmaras. Em Santo André, Elian Santana (SD) e Bete Siraque (PT) mantiveram suas cadeiras, enquanto a diretora do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Ana Nice (PT), conquistou vaga em São Bernardo e Sueli Nogueira (PMDB) retorna à Casa de São Caetano.

Segundo especialistas consultadas pelo Diário, o atual cenário e o crescente machismo contribuíram para a não eleição de vereadoras na região. Ainda conforme cientistas políticos, a política brasileira, já considerada hostil para mulheres, se tornou um campo ainda mais difícil para as postulantes depois do recente impeachment da primeira presidente da República Dilma Rousseff (PT), que se concretizou no mês passado.

Para ter dimensão da redução de espaço às mulheres na política regional, nenhuma das seis candidatas aos Executivos venceu ou foi para a próxima fase do pleito. Até agora, há apenas uma vice-prefeita eleita para o próximo mandato, a de Rio Grande da Serra, Marilza Oliveira (PSD). Dos postulantes que estão segundo turno, em Mauá, apenas Atila Jacomussi (PSB) tem uma vice, a ex-primeira-dama Alaíde Damo (PMDB), enquanto em Diadema, Cida Ferreira (PMDB) ocupa a segunda cadeira de Vaguinho do Conselho (PRB) e Oswana Famelli está com o candidato à reeleição em Santo André, Carlos Grana (PT).

De acordo com a psicóloga e pesquisadora do Instituto Opinião Raquel Moreno, o ambiente político ainda é machista e dá pouca oportunidades. “Aqui no Brasil, de alguma maneira, o eleitor tinha a visão de que as mulheres tinham reserva de credibilidade, mais honestas, tinha essas colocações positivas. Mas a campanha neste último ano acabou batendo forte na credibilidade de todos os políticos, alimentou rejeição a política e aos políticos.”

A análise converge com o ponto de vista da socióloga e cientista política da UFABC (Universidade Federal do ABC) Maria Caramez Carlotto, ressaltando o fim do financiamento privado, a redução do tempo de campanhas e o quociente eleitoral como questões importantes na hora de analisar o resultado deste pleito. “A chamada ‘primavera feminista’, bem como o movimento pelo aumento das mulheres na política, se beneficiaram de modo desigual dessas mudanças. Em cidades maiores, onde o movimento feminista conseguiu reunir um eleitoral mais expressivo, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo, conseguiu-se eleger candidatas feministas de expressão.”

Feminista e militante do movimento negro, Ana Nice (PT) é a primeira mulher negra eleita para a Câmara de São Bernardo. “Eu fui eleita com expectativa dos movimentos sociais e do movimento negro. Pretendo deixar meu gabinete aberto para discutir as pautas com as mulheres negras, os movimentos sociais. Em geral, teve abstenção muito grande na eleição. No entanto, a violência em relação às mulheres, o processo do golpe, pode ter um pouco de influência na eleição por conta de Dilma ser a primeira presidente e a primeira presidente deposta. Quando tem um retrocesso na sociedade, ele ataca primeiro as mulheres, que ainda não atingiram igualdade na sociedade.”
Santo André foi a única cidade que manteve o número de parlamentares mulheres, duas, sem, no entanto, estimular o aumento de representantes femininas no Legislativo. “É muito triste esse quadro porque a Justiça Eleitoral auxiliou muito divulgando a necessidade da igualdade com eleição de mulheres, mas infelizmente a população ainda não despertou para esse lado da democracia. Infelizmente também há um despreparo de mulheres politicamente e não há incentivo por parte dos partidos”, disse Elian.

“Eu acho que isso é o resultado de sociedade conservadora, machista, a política é espaço predominantemente de homens. É muito mais difícil você conquistar um voto para uma mulher. Isso é apenas um reflexo de uma sociedade que ainda tem uma visão muito conservadora e machista da política. Quanto mais governos conservadores serem eleitos, maior a tendência desses números piores”, concluiu Bete.

Eleita em São Caetano, Sueli Nogueira (PMDB) não retornou aos contatos do Diário.




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