Cultura & Lazer Titulo Lembranças
Cinemas charmosos ficaram para a história

Livro-reportagem disponível na internet relembra
famosas salas de rua do município de São Caetano

Miriam Gimenes
18/10/2015 | 07:00
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Arquivo/DGABC


Regina Monteiro, 60 anos, ‘cansou’ de ir, quando criança, na matinê do Cine Átila, no bairro Nova Gerty, em São Caetano, para comer pipoca e ganhar suco com groselha de brinde. A primeira vez que saiu com seu namorado – que virou marido – foi para assistir ao filme Vitória em Entebbe no Cine Vitória da Rua Baraldi. A aposentada é uma das personagens do livro-reportagem Cenas do Passado –História das Salas de Cinema de São Caetano do Sul, feito por grupo de estudantes de Jornalismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), com orientação de Gino Giacomini Filho. Tamanha repercussão do trabalho fez com que eles disponibilizassem este ano a obra na íntegra no site cenasdopassado.contently.com.

O grupo, que se formou em 2012 – Bruna Moura, Caio Lima e Vanusa Nascimento –, levantou que só na cidade foram 11 cinemas de rua, o primeiro aberto em 1921, o Cine Central, com 640 lugares. O último a ser fechado foi o Vitória com o filme Armageddon, em 30 de agosto de 1998. “As pessoas iam ao cinema paquerar antes de começar os filmes. No (Cine) Vitória tinha até exposição de arte. Era bem cultural”, lembra Bruna.

Ao todo, a região abrigou 35 endereços com salas regulares de cinema, além das projeções esporádicas em igrejas, clubes e outros espaços públicos. Essas casas ofereceram cerca de 41,2 mil lugares entre 1905 e 1998. A primeira foi a do Cine Flor da Serra, em Paranapiacaba, e a maior, a do andreense Tangará, com 3.089 cadeiras. No local hoje funciona uma igreja.

Regina, que agora mora em São Bernardo, lembra com saudosismo desta época. “Havia musiquinha que sempre tocava antes dos filmes, parece que estou ouvindo.” Ela diz que, se existissem ainda os cinemas de rua por aqui ela frequentaria mais. “No shopping sempre tem muita muvuca, apesar de ter o conforto do estacionamento”, analisa. O Cine Átila, que ela ia com os irmãos, encerrou as atividades em 1970 e já foi bingo, casa de tecidos, pizzaria e hoje abriga um supermercado.

Falta de oferta de lançamentos afastou público
Desde 1976, Tércio Antonio Nelli, 74, trabalha com cinema. A sua empreitada mais recente foi em 2003, quando fundou o Cine Popular (R. Santa Filomena, 345), em São Bernardo, com preços e filmes populares. A ideia era manter a tradição e combater os shoppings. Não teve sucesso: o ‘sonho’ durou três anos e meio. Segundo Nelli, as distribuidoras só davam os lançamentos semanas após a estreia, o que prejudicava o interesse do público. “Dois Filhos de Francisco, por exemplo, só veio após três meses. Coloquei o filme a R$ 2 e só vieram oito pessoas em uma semana.”

Para manter o empreendimento, decidiu passar filmes adultos. O público (99% homens) aumentou e mantém-se fiel. “Aqui vem gente o dia todo, de todo tipo: rico, pobre, de carrão, de ônibus. Da porta da sala de projeção para lá não quero nem saber o que acontece, só se tiver algum incidente. Infelizmente foi a única maneira que encontrei para conservar a sala aberta.” A entrada (inteira) custa R$ 20.




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