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Vale a pena deixar o PT?

Antigos militantes tiveram dificuldade em enfrentar o Partido dos Trabalhadores nas urnas após desfiliação

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
11/10/2015 | 07:00
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Em momento de desidratação interna, o PT vive a principal debandada de figuras simbólicas do partido após o escândalo do Mensalão, em 2005, protagonizada outra vez pela saída de lideranças no Grande ABC, onde a legenda teve seu nascimento político. O cenário atual é de crise institucional. Em contrapartida, a história mostra que poucos quadros da região, até hoje, tiveram sucesso eleitoral fora das fileiras da sigla. O ex-vice-prefeito de Mauá Márcio Chaves, que migrou para o PSD, e o vereador conterrâneo Rogério Santana (PT), de malas prontas à Rede, entraram para a lista de dissidentes, e tentam quebrar esse tabu.

Os ex-prefeitos Mauricio Soares (PT, de São Bernardo), Gilson Menezes (PDT, primeiro nome do petismo a ser eleito ao Executivo, em 1982) e José Augusto da Silva Ramos (PSDB), ambos de Diadema, são exceções no cenário de 35 anos de fundação. Isso porque a maioria dos ex-petistas não repetiu a trajetória política aliada a cargo eletivo (veja quadro ao lado), depois de desfiliação motivada por série de brigas ou pela instabilidade partidária.

O panorama envolve até fundadores do PT. Em Santo André, José Nanci (morto em 1998) foi eleito vereador pela sigla em 1982. Deixou a legenda em 1987 para ajudar a fundar o PSDB. Foi candidato derrotado duas vezes à Prefeitura (1988 e 1992). Ex-parlamentar por quatro mandatos no petismo, Heleni de Paiva deixou o partido em 2007, ingressando no PDT. No páreo seguinte, de 2008, sofreu revés, sem alcançar retorno ao Legislativo, pulando posteriormente a PSDB, PSD e DEM. Com dois mandatos, Ricardo Alvarez saiu depois do Mensalão e caminhou para o Psol, ao lado de então correligionários. Foi prefeiturável em 2008 e perdeu. Candidatou-se à Câmara Federal sem sucesso.

Professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Jacqueline Quaresemin analisou que o PT era grande ícone da política e os dissidentes traduziam isso ao seu eleitorado. “Existia fator simbólico (a favor) do PT: as pessoas iam votar com a estrela no peito. O peso da eleição do Lula (em 2002) é absurdo do ponto de vista da vitória da luta social. E esses nomes (que deixaram a legenda, posteriormente) se indignaram (com os rumos) e não conseguiram lutar internamente. Acabaram deixando e perdendo esse legado.”

As derrotas eleitorais, por outro lado, principalmente durante o governo Lula (2003-2010), que estava bem avaliado, refletiam o panorama positivo no País, o que implicava na dificuldade em enfrentar o PT nas urnas durante esse período. O cenário agora é diferente, com desgaste da sigla e do governo federal. Isso pode influenciar nas disputas locais. Número significativo de petistas cogita abandonar o partido. Na região, o PT tem três prefeitos e 29 vereadores.

Horácio Neto (Psol) teve passagem marcante pela Câmara de São Caetano então pelo PT, na oposição. Saiu da sigla, justificando desvio ético, mas não retomou espaço político. O ex-vereador não lamenta a saída. Pelo contrário. “Continuamos com perspectivas de esquerda”. E mantém as críticas. “O PT ‘mudancista’ acabou. Houve esgotamento. Virou apenas mais um no jogo. O fato de entregar o governo (federal) nas mãos do PMDB mostra a revogação das ideologias”, disse, ao enxergar evolução do Psol, fundado em 2005. “Estamos num novo caminho, esperançosos.”

Cotado a deixar o PT, o ex-prefeito mauaense Oswaldo Dias falou que é necessário reconhecer o momento difícil no âmbito político. Segundo ele, o partido pagará pelas práticas cometidas. “São questões que outros também fizeram, não só o PT. Mas o PT é partido com formação operária, tem história.” Gilson argumentou que a sigla abriu mãos de seus princípios no decorrer do tempo. “O PT nasceu para ser diferente, e hoje está igual. Foram com muita sede ao pote. Perdeu a moral, pegou rumo difícil de defender. Prefiro ficar à margem do que nesta situação.”

O secretário de Governo de Santo André, Arlindo José de Lima (PT), afirmou grande parte dos dissidentes pensa na melhor maneira de se salvar no processo, desconsiderando o passado. “O PT quando grande marca ajudou muitas pessoas, foi ferramenta. Na hora em que mais precisa que seus soldados estejam juntos para enfrentar momento de crise alguns acham melhor fazer mudança.”




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