Política Titulo
'Farei oposição nem que seja sozinho', afirma Dib
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
25/12/2008 | 07:19
Compartilhar notícia
Marina Brandão/DGABC


O prefeito de São Bernardo William Dib (PSB) está disposto a fazer oposição ao adversário e prefeito eleito Luiz Marinho (PT) "nem que seja sozinho". A possibilidade de perder alguns vereadores aliados, atraídos pelo futuro gestor da cidade, é iminente. Mas o socialista garante que tem o compromisso dos 12  parlamentares eleitos pelo atual grupo que lidera e que formarão maioria na Câmara na próxima legislatura.

Apesar do apetite para trilhar uma posição crítica ao mandato petista, também considera viável "elogiar" sem ter "vergonha de dizer que o adversário político fez bem". Na avaliação do atual chefe do Executivo, a derrota nas urnas em outubro e a rejeição de seu governo nas pesquisas eleitorais não significam que a administração teve desempenho abaixo do esperado. Ao contrário: faz um balanço positivo de sua gestão, desde que assumiu a Prefeitura, em março de 2003, no lugar de Mauricio Soares - renunciou por problemas de saúde. "Vou entregar a cidade melhor do que recebi."

Em entrevista exclusiva ao Diário, o socialista atribui a vitória de Marinho ao poderio econômico aplicado na campanha, diz que profissionalmente ficará "desempregado" a partir do dia 1º de janeiro, porém, politicamente trabalhará "como se fosse candidato" a deputado federal.

DIÁRIO - Qual o balanço dos quase seis anos à frente da Prefeitura?
WILLIAM DIB - Extremamente positivo. Avançamos em todas as áreas, mas a Educação tratamos com prioridade. Fizemos mudanças radicais. Oferecemos uniforme e material escolar, evitando os gastos das famílias. Conseguimos colocar em prática a municipalização do ensino. Na Saúde mudamos toda a gestão dos prontos-socorros. Hoje temos mais leitos de UTI do que todo o Grande ABC. Humanizamos o atendimento. Na área habitacional entregamos 3.700 unidades, dando dignidade e qualidade de vida para as pessoas, tirando-as de áreas de risco. Conseguimos viabilizar o projeto São Bernardo Moderna, com nove obras já em execução, algumas já feitas. Em termos de infra-estrutura também tivemos grande avanço. Observamos a vinda de inúmeras empresas para o município, contrariando a história recente de êxodo industrial. Avançamos em saneamento básico, com a implementação de rede coletora e, agora, iniciando o tratamento do esgoto.

DIÁRIO - O que ficou aquém na gestão do sr.?
DIB - Estamos muito longe de construir a cidade ideal, em que todos têm acesso aos serviços e que o cidadão esteja incluído no processo social. Ainda temos um cinturão de pobreza e isso dói muito. Precisamos fazer a inserção, através de projeto constante de habitação, dando dignidade a essas famílias. Mas fizemos o mais importante: nenhuma favela nova foi criada e urbanizamos mais de 50% das comunidades existentes em São Bernardo. Demos respeito ao cidadão.

DIÁRIO - Diante dessas benfeitorias, a população não entendeu o desenvolvimento no processo eleitoral?
DIB - Processo eleitoral é processo eleitoral. Nosso adversário veio com poderio econômico. Foi a campanha mais cara do País. O meu candidato estava preparado para governar e continuar esse projeto. O povo entendeu que precisava mudar, eu não sei o quê. Mas a democracia é isso. Não há o que reclamar da população. O que eu pude fazer eu fiz, não parei de trabalhar. Vou entregar a cidade melhor do que recebi.

DIÁRIO - Avaliação da administração do sr. nas pesquisas chegou a surpreender? (teve 36% de ruim e péssimo na última pesquisa antes do segundo turno)
DIB - Chegou. Mas a estratégia da campanha do adversário foi desconstruir o governo. Com grande potencial econômico transformaram isso numa verdade. No Jardim Detroit, onde eles sempre disseram que estava abandonado, canalizamos um córrego e fizemos uma praça, construímos uma creche, uma escola e uma UBS (Unidade Básica de Saúde).

DIÁRIO - Qual o sentimento do sr. pelo Maurício Soares, ex-aliado e que hoje está no lado adversário?
DIB - Nulo, zero. Primeiro que não nasci pra ter rancor nem raiva. Ele sabe por quanto ou por que foi para lá.

DIÁRIO - Ele fez duras críticas ao sr. e ao seu governo durante o pleito. Isso incomodou?
DIB - Não, porque a pessoa que tem um preço não me incomoda.

DIÁRIO - Foi por dinheiro?
DIB - Não sei. Ele já falou que me achava um grande administrador, um dos melhores prefeitos. Me deu nota nove. Mas passei a não ser o administrador que ele queria. Enquanto estava com os empregos dele, da família, ele me achava bom. Agora ele está elogiando quem não fez absolutamente nada e deixou de elogiar quem já fez. Da mesma maneira que ele falou mal também falou bem. Então, deixo para as pessoas avaliarem.

DIÁRIO - Alguns vereadores já inclinam para o lado petista. O sr. acha que vai conseguir fazer oposição?
DIB - Os 12 vereadores que elegemos dizem que vão estar com a gente. Eu vou fazer oposição nem que seja sozinho. É a minha trajetória. Agora, se tiver de elogiar também vou fazer. Não tenho vergonha de dizer que o adversário político fez bem. Faremos oposição possível, sempre para o bem da sociedade.

DIÁRIO - O sr. acha que o presidente Lula influenciou no resultado da eleição?
DIB -Não sei dizer. Talvez nenhum instituto de pesquisa saberia.

DIÁRIO - Mas sem ele o resultado seria o mesmo?
DIB - Acho que não, porque a campanha não teria a arrecadação que teve. A presença dele motivou (as doações).

DIÁRIO - Qual é o futuro de William Dib, tanto profissional quanto político?
DIB - Vou continuar lutando para uma sociedade mais justa. Vou para meu escritório atender meus amigos, reuni-los em torno de algumas propostas. Na área profissional vou ficar desempregado. Não dá, num primeiro momento, para voltar à área médica (é cardiologista). Primeiro teria de voltar a estudar (está há 7 anos sem atuar na medicina), se atualizar.

DIÁRIO - Em 2010 pretende se candidatar a deputado federal?
DIB - É possível. Vou ajudar alguns amigos que têm mandato. Vou fazer assessoria informal a alguns prefeitos, alguns deputados. E vou montar meu time no escritório. Recebi alguns convites, mas declinei. Até porque, se eu for candidato, teria somente 11 meses pra ficar em qualquer cargo. Minha candidatura, se for consenso natural, sairá. Vou trabalhar como se eu fosse candidato.

DIÁRIO - A dobrada com Orlando Morando (deputado estadual - PSDB) seria natural?
DIB - Quase que natural. Existe um probleminha entre os partidos (PSB e PSDB), mas hoje o sentimento é natural. Tenho nele um grande amigo.

DIÁRIO - Passa pela cabeça do sr. voltar ao Paço?
DIB - Não. Mas não significa que não dispute mais. Acho que seis anos é um bom período, já fiz a minha parte. Aos 62 anos construí uma experiência que não se pode jogar fora. Posso ajudar no entusiasmo de abrir caminho para alguém, mas não como líder ou candidato.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;