Economia Titulo Beleza
Número de salões de beleza dobra na região

O salto, ocorrido em apenas cinco anos, mostra a força do aumento da renda disponível

Por Andréa Ciaffone
25/05/2013 | 07:02
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Entre 2006 e 2011, o número de salões de beleza com CNPJ dobrou na região - de 145 para 291 - e o número de funcionários registrados nestes estabelecimentos aumentou 67,8%. Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego, com base na Rais (Relatório Anual de Informações Sociais), e confirmam a impressão de que há cada vez mais gente investindo em beleza - tanto no papel de empresário como no de consumidor.

No Brasil, não cuidar da aparência equivale a desleixo. Por isso, ir ao salão é prioridade sempre que há renda disponível. Essa atitude se revela no resultado da pesquisa contratada pela Beauty Fair, realizada pela Gouvea de Souza, que aponta que, nos últimos três anos, os salões cresceram, em média, 30% em faturamento e que a expectativa é de continuar com receita em ascensão.

Como as clientes passaram a ir com maior frequência, a única forma de ampliar a produtividade é contratar mão de obra.

INDEPENDÊNCIA - O número de contratações foi grande, mas o contingente de trabalhadores nos salões ficou ainda maior nos últimos anos devido a uma estrutura de trabalho característica deste setor, em que os profissionais valorizam muito a sua independência em relação aos donos dos salões.

Assim, boa parte dos funcionários da beleza - cabeleireiros, manicures, maquiadores, depiladoras, esteticistas, visagistas, coloristas e outros - trabalha como MEI (Micro Empreendedores Individuais) em sistema de parceria com os salões. No Grande ABC, os MEIs somavam 4.411 em 2011. "Existe movimento de formalização das atividades deste setor. Mas, a informalidade ainda predomina", observa o coordenador da Anabel (Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza), Marcelo Paris de Mattos).

A entidade coloca como razões que incentivam a entrada das empresas no sistema formal a criação da nota fiscal eletrônica e do Simples nacional que, somados à sofisticação dos sistemas de informação dos diversos órgãos do governo - especialmente da Receita Federal -, dificultam cada vez mais a sonegação de impostos.

FORMALIZAÇÃO - O desejo dos empresários por regularizar suas atividades por meio da obtenção de CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) pode nascer, também, de razões práticas como, por exemplo, emitir nota fiscal. Outra forte razão foram as exigências dos fabricantes de produtos exclusivos para salão de beleza, que deixaram de vender para estabelecimentos sem CNPJ. "Isso obrigou muitos empreendedores a fazerem a sua inscrição no cadastro", diz Mattos.

Franquia traz nova vida para profissional empresário

Depois de 30 anos trabalhando como cabeleireiro, Reginaldo Sangiacomo, 48 anos, se viu diante de uma encruzilhada. Embora seu salão estivesse bem localizado na Rua das Figueiras, no bairro Jardim, em Santo André, sentia que precisava oxigenar seu negócio onde só ele sua mulher trabalhavam. Sua agenda de cortes vivia cheia, mas havia pouco espaço para aumentar a clientela.

Já desanimado, Sangiacomo pôs seu prédio para alugar. Quando já estava negociando com um banco para locar o espaço por R$ 25 mil por mês para uma agência, tudo mudou. "Fui procurado pela equipe da rede (de salões de beleza premium) Jacques e Janine, que me ofereceu a possibilidade de me tornar franqueado. Desisti de alugar e embarquei na franquia", conta. "Tudo isso aconteceu em duas semanas. Minha mulher não gostou nada da minha decisão", conta Sangiacomo, que acabou se separando.

Seis meses depois, a unidade administrada por ele já conta com 15 profissionais e deve chegar a 35 até o fim do ano. Outro ponto que anima o empresário é que o prestígio da rede atrai para seu salão novos talentos com boa vontade para aprender e que não exigem salários altos. "Como a franquia oferece cursos de qualificação, os profissionais têm interesse em se manter no emprego, o que reduz a rotatividade", aponta o franqueado.

Tudo isso para atender à demanda, que não para de crescer. "Antes da franquia, apenas três ou quatro clientes novas apareciam por mês. Hoje, aparecem entre cinco e dez clientes novos por dia atraídos pela grife", diz Sangiacomo, que registrou o aumento da clientela masculina interessada em serviços especializados para eles. Além do corte, a unidade oferece manicure, pedicure, estética, depilação, massagem e dia da noiva. "O custo da franquia acaba sendo compensado pela facilidade de captar clientes", observa o cabeleireiro, que vive o auge da sua vida como dono de salão de beleza.

Modelo tradicional quer reconhecimento

Tradicionalmente um salão nascia da habilidade de um cabeleireiro e da sua capacidade de congregar outros profissionais especializados em beleza (manicures, maquiadores, depiladoras) para atuarem em parceria. Foi assim que surgiu, há mais de um século, o sistema de meeiro.

Nele, o pagamento por cada procedimento feito pelo cliente era dividido meio a meio pelo dono do salão e pelo profissional que fez o atendimento. Embora seja a base das relações de trabalho neste setor, essa prática nunca foi reconhecida pelo governo.

"Os pagamentos eletrônicos e a formalização mudaram o cenário. Com eles, o dono do salão fica com 50% do valor pago pelo cliente e 100% dos impostos que incidem sobre a transação, o que desequilibrou a relação", diz o coordenador da Anabel (Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza), Marcelo Paris de Mattos.

A saída para esse dilema, conforme desejam alguns setores do governo, é a contratação de todos os profissionais com carteira assinada.

Entretanto, os empresários do setor acham que isso pode inviabilizar o negócio devido aos custos que acarretam e ao costume de muitos dos profissionais, que preferem atuar de forma independente, sem vínculo empregatício, tendo o salão só como um espaço para realizar seu trabalho.

Preocupada com os desdobramentos da mudança de cenário, a Anabel participa do Conselho de Serviços do Plano Brasil Maior para reivindicar junto ao governo o reconhecimento do sistema de parceria entre o profissional e o salão de beleza por meio do Projeto de Lei 5.320/2013, que tramita no Congresso Nacional.

NOVOS CORTES - Além do modelo predominante no mercado que é o salão administrado pelo cabeleireiro, nos últimos 15 anos surgiram redes administradas por investidores que nunca tiveram contato com esse segmento e também grupos que nasceram do trabalho de um cabeleireiro idealizador que, em função do seu sucesso, deixou de cortar cabelo e se tornou administrador do seu negócio.

Outra variação que vem ganhando terreno no setor é a franquia, que atrai mais facilmente o consumidor, que tende a confiar em marcas conhecidas.

 

 




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