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Vizinhos pedem
tombamento da
Chácara Colúmbia

Área verde na Vila Vivaldi foi adquirida em leilão para construção de empreendimento

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
08/06/2013 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


A Chácara Colúmbia, área verde com valor histórico localizada na Avenida Senador Vergueiro, na Vila Vivaldi, em São Bernardo, corre risco de desaparecer. O terreno foi adquirido no fim do ano passado pela MZM Construtora, com sede em Santo André, que pretende derrubar os pés de laranja e abacate e as construções da propriedade, incluindo um casarão anterior à década de 1950, para construir empreendimento imobiliário.

Os moradores do bairro, porém, querem que o Compahc-SBC (Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural de São Bernardo) finalize o processo de tombamento da chácara e a Prefeitura, por sua vez, faça a desapropriação, com o objetivo de criar área de lazer. Para tanto, criaram o Movimento em Defesa do Tombamento e Desapropriação da Chácara Colúmbia, que realiza amanhã passeata para chamar a atenção da cidade para a preservação do patrimônio. Os manifestantes vão se reunir a partir das 10h na esquina da Vergueiro com a Rua Sapucaí.

“Desde que a chácara foi leiloada, o patrimônio vem sendo depredado. Fecharam o portão de grades com placas de ferro e não vemos mais o que acontece ali. O casarão perdeu o telhado e árvores foram derrubadas. Parece até que querem descaracterizar o patrimônio para, então, justificar a destruição completa”, afirma a professora e uma das líderes do movimento Meire Lima, 43 anos.

O pedido da população para revitalizar o espaço é antigo. Reportagem na coluna Memória do Diário de 1983 mostra solicitação feita ao então prefeito Aron Galante para que a área fosse transformada num Crec (Centro Recreativo Educacional e Cultural). Em 2005, a população voltou a se mobilizar ao saber que a chácara iria a leilão. “Fizemos abaixo-assinado e encaminhamos ao Ministério Público para que ficasse ciente do descaso”, relembra Meire.

Em 2007, a Prefeitura contratou empresa para realizar o levantamento histórico do prédio, mas teve de rescindir o contrato em 2008. Desde agosto, a empresa Pindorama Arquitetura desenvolve trabalhos de aprofundamento das informações e definição de diretrizes e grau de preservação dos bens, serviço que deve ser concluído ainda neste mês, conforme a administração. O tombamento definitivo da área será deliberado pelo Compach-SBC após a análise dos documentos que serão apresentados pela empresa.

A MZM, por sua vez, informou estar ciente do processo de tombamento e afirmou que, caso ele seja efetivado, o contrato de compra do terreno será cancelado. “Já previámos isso quando adquirimos a área, que tem forte apelo comercial. Mas, se tiver de ser preservada, vamos desfazer o negócio”, garantiu o responsável pela área de novos negócios da construtora.

Propriedades rurais dominavam bairro por volta dos anos 1950

A Chácara Colúmbia é remanescente da antiga propriedade do Coronel Agenor de Camargo, o Sítio dos Camargo. Agenor de Camargo foi um dos grandes proprietários de terra na região, entre o fim do século 19 e início do século 20.

Na década de 1920, seu filho loteou a área em várias chácaras menores, distribuídas ao longo da então Estrada do Vergueiro, dando origem à Vila Camargo. Nessa época, São Caetano e Santo André cresciam com a industrialização ao longo da ferrovia, enquanto São Bernardo permanecia subúrbio rural.

Conforme dados da escritura do imóvel, a chácara possuía uma casa, dois estábulos, galinheiro e poço. Parte desses equipamentos é ainda hoje identificável. Em 1935, Renato Estafoquer vendeu o lote a Antonio Russo e Luigi Maranesi, que no ano seguinte a repassaram a Sylvio Abrahão Laban, que teria ficado com ela até a década de 1950.

A escritura do cartório, datada dos anos 1970, informa que a propriedade era de Armando Chimenti e sua mulher, donos da Persianas Colúmbia, no bairro Ipiranga. Por isso a área é conhecida como Chácara Colúmbia.

Ela foi tombada provisoriamente em 2001 pela importância histórica, paisagística e ambiental. Tem ainda valor arqueológico, conforme estudo entregue em 2009 ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que constatou restos cerâmicos, carvão, conchas e fragmentos de louça ou porcelana. 




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