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Legado de padre assassinado gera trabalho e renda
Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
24/07/2004 | 17:32
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Um dos trabalhos mais marcantes da Igreja Católica no ABC nesses 50 anos da Diocese de Santo André foi realizado por um missionário italiano, padre Leo Comissari, que chegou a morar numa favela para interagir com a comunidade carente. O legado de Comissari inclui uma escola profissionalizante em São Bernardo que já atendeu aproximadamente 6 mil pessoas e levou à abertura de cerca de 100 micro e pequenas empresas, hoje comandadas por ex-alunos da instituição. O padre foi assassinado com três tiros em 1998, aos 56 anos, numa noite em que voltava para a sua casa na favela, após participar de uma quermesse na Igreja Jesus de Nazaré, na Vila São José.

Com o apoio financeiro de dioceses italianas, como as das cidades de Ímola e Lugo, Comissari e seus auxiliares melhoraram as condições de vida dos moradores da favela do Oleoduto, onde morou, e das regiões circunvizinhas, no Jardim Silvina. Além da escola profissionalizante, o padre fundou um centro comunitário e pastorais para auxílio a crianças, idosos e mulheres grávidas.

Hoje, quem dá continuidade ao trabalho do padre é a missionária italiana Daniela Bonello, que coordena o Centro de Formação Profissional Padre Leo Comissari, localizada na rua que também ganhou seu nome, a 10 m da entrada da favela. O trabalho começou com as crianças e hoje envolve toda a comunidade.

A escola oferece cursos de cabeleireiro, pedreiro, computação, padaria e outros de caráter profissionalizante. Além desses, são oferecidos cursos culturais, de balé, dança de salão, capoeira e teatro. "Quem comprova que não pode pagar, não paga nada, mas costumamos cobrar um valor simbólico da maioria para valorizar o trabalho. Mas o que arrecadamos não dá para pagar nem uma pequena parte do material utilizado, portanto, sempre dependemos da ajuda das dioceses italianas, que sempre organizam eventos para arrecadação de fundos para o nosso trabalho", explica Daniela.

Ao todo, dez prefeituras de cidades italianas se revezam no trabalho. Foi a Diocese de Ímola que arrecadou o dinheiro para comprar o terreno onde foi construída a escola. "Lá, a própria comunidade ajuda na organização dos eventos e, depois, paga caro para comparecer a esses mesmos eventos e por isso sempre rende um bom dinheiro. Inclusive, num dos eventos em Ímola, o piloto de Fórmula 1 Rubens Barrichello compareceu e deu o seu apoio", conta a missionária.

Algumas empresas do ABC também contribuem com o trabalho, mas Daniela diz que grande parte do orçamento ainda é fruto da parceria com as cidades da Itália. Segundo a missionária, hoje a escola está com os gastos controlados, mas já houve períodos críticos. "Sempre dizemos aos que receberam o benefício dos cursos para darem sua contribuição posteriormente, se puderem. A maioria não volta para ajudar, mas alguns ajudam e nos sentimos gratos", declara Daniela.

Uma das últimas iniciativas da escola foi uma parceria com o Sebrae que abriu novos cursos, como os de gestão empresarial e fluxo de caixas. As cerca de cem microempresas abertas pelos alunos são, portanto, resultado de um trabalho que sempre evolui, como era o sonho do padre Leo Comissari.




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