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Presidente da Fundação do ABC pede integração
André Vieira
Do Diário do Grande ABC
21/12/2009 | 07:02
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Após dois anos no comando, Marco Antonio Espósito deixará a presidência da Fundação do ABC. A entidade, que mantém a Faculdade de Medicina do ABC e presta serviços na área de Saúde, foi criada há 42 anos pelas prefeituras que emprestam nome à sigla. O biênio do representante de São Caetano foi marcado pela incorporação de cinco unidades ao quadro de gerenciamento da entidade, que presta atendimento, entre outros, no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André.

Vieram para o rol da Fundação o Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein, em Santo André, o Hospital de Emergências Albert Sabin, em São Caetano, o Hospital Municipal Irmã Dulce e o AME (Ambulatório de Especialidades Médicas), em Praia Grande, e o Hospital Municipal de Bertioga, na cidade de mesmo nome.

Por outro lado, a troca de prefeitos no início do ano dificultou as negociações para a renovação dos contratos, sobretudo em Santo André. Em entrevista ao Diário, Espósito fez o balanço de sua gestão, falou dos rumos da entidade e apontou os desafios para a Saúde pública na região.

DIÁRIO - Que balanço o senhor faz da sua gestão?
MARCO ANTONIO ESPÓSITO - Neste período foram incorporadas cinco instituições. Aumentamos o número de funcionários colaboradores, que era por volta de 3.500 e hoje são 6.500. O orçamento anual era de R$ 300 milhões e foi fechado agora em R$ 640 milhões.

DIÁRIO - Qual a importância de incorporar as instituições?
ESPÓSITO - Oferecemos em todo o Grande ABC e na Baixada Santista, onde os munícipes da região passam suas férias, a mesma assistência médica hospitalar. O exemplo que eu dou: o cara tem uma ameaça de infarto. Se ele for ao hospital aqui ou no Litoral, será atendido com o mesmo padrão, vai receber o mesmo exame e tratamento. Em segundo lugar, é mais um campo de trabalho para nossos alunos. Formamos 100 médicos por ano, 50 enfermeiros, 50 nutricionistas, 50 farmacêuticos e, quanto mais hospitais dirigirmos, mais chance esse pessoal vai ter para exercer sua profissão, então melhora a visibilidade da faculdade.

DIÁRIO - Como tem sido a experiência no Litoral?
ESPÓSITO - Muito boa. Excelente. Temos 92% de aceitação da população em Praia Grande em relação ao Hospital Irmã Dulci. O ambulatório que está funcionando há menos tempo (AME), cerca de 4 meses, tem 100% de aprovação, atendendo munícipes desde Praia Grande até Pedro de Toledo (8 cidades). Os pacientes têm transporte que os levam até o ambulatório, lá eles fazem a consulta, os exames, retornam para o médico, pegam o medicamento e vão para casa.

DIÁRIO - Essa experiência vai servir quando a Fundação assumir o AME em Sto.André?
ESPÓSITO - Sem dúvida. Esse trabalho está programado para o final de março de 2010. Nós entregamos a proposta orçamentária e de equipamentos para a secretaria de Saúde do Estado, que é quem financia o AME. E, agora, o município está discutindo a reforma do prédio para adequar o ambulatório.

DIÁRIO - E quanto ao Hospital do Idoso (que deverá ser inaugurado em Santo André no ano que vem)?
ESPÓSITO - Ainda não conversamos, mas o prefeito disse (em 4 de novembro) que vai entregar para nós.

DIÁRIO - Como tem sido o interesse pela Fundação?
ESPÓSITO - Fomos procurados por Brasília, Maranhão, Espírito Santo e Santo Catarina. Os quatro manifestaram interesse e, para os quatro, dissemos não. Não temos condições de acompanhar o serviço nem deslocar pessoal técnico e operacional para trabalhar nestes lugares. Vamos trabalhar onde temos continuidade, pelo menos é a minha ideia. Temos o interesse no Nardini (hospital em Mauá), apesar do problema que é. Temos uma reunião para discutir hoje com o secretário de Saúde da cidade, Paulo Eugênio. Aquilo que podíamos fazer, fizemos. Agora depende do município.

DIÁRIO - Como foram as renegociações dos contratos com as prefeituras?
ESPÓSITO - Com São Bernardo foi muito fácil. Nos reunimos desde o período de transição dos governos, entre novembro e dezembro (de 2008), quando eles começaram a entender o que era a Fundação e, entre março e abril (de 2009) assinamos por cinco anos um contrato de R$ 1,2 bilhão. São Bernardo manteve todos os nossos diretores, trocaram, é claro, os superintendentes, que são cargos de confiança. Com Santo André, assinamos em novembro, depois de 10 meses, e foi muito difícil. Não houve um mês em que o repasse foi em dia. É possível que continue do mesmo jeito, pois a secretaria de Saúde de Santo André ainda não entendeu o que é a Fundação.

DIÁRIO - Em 2010, quais trabalhos novos a Fundação pode desempenhar?
ESPÓSITO - Na verdade, estamos negociando com o Nardini, o Hospital do Idoso, o Hospital Maria Parteira e a maternidade do Hospital Santo Amaro (ambos no Guarujá). Tem também o Hospital de Clínicas, que São Bernardo vai construir e, segundo o secretário de Saúde, Arthur Chioro, será nosso. Além disso, provavelmente, é só questão de tempo, vamos ter a gestão do Complexo Maria e Márcia Braido, em São Caetano.

DIÁRIO - Como está a negociação com os outras cidades?
ESPÓSITO - Tínhamos convênio com Diadema, no Quarteirão da Saúde, mas rompemos esse ano por falta de pagamento. Inclusive, estamos acionando judicialmente para tentar recuperar o prejuízo. Rio Grande da Serra conversou com a gente, mas eles não têm hospital, são duas unidades de atendimento 24 horas. Sobre Ribeirão Pires, encontrei com o prefeito Clóvis Volpi (PV) e ficamos de conversar. A Fundação já teve uma experiência no passado com a Maternidade São Lucas e acabou tendo alguns problemas e foi desfeita a parceira. Na região, onde precisarem, estamos disponíveis.

DIÁRIO - Até mesmo em Diadema?
ESPÓSITO - Sem dúvida nenhuma. Aprendemos a perdoar todo mundo. O interesse da instituição está acima dos interesses pessoais.

DIÁRIO - De que a forma a Fundação é reconhecida nacionalmente?
ESPÓSITO - Posso dizer que a Faculdade de Medicina é considerada uma das melhores do Brasil e a quarta melhor do Estado. A Fundação, em São Paulo, é bastante conhecida. No resto do País, não tenho noção. Mas, pelo fato de termos sido procurados por outros estados, tenho a impressão que somos, pelo menos, lembrados.

DIÁRIO - Quais são os desafios da Saúde pública?
ESPÓSITO - Recursos. A gente costuma dizer que a vida não tem preço, mas tem custo. No mundo inteiro, o problema da saúde é custo, porque as pessoas estão vivendo mais. As tecnologias estão melhorando muito. Antigamente, o paciente tinha problema nos rins e morria. Depois veio a diálise, a hemodiálise e agora existe o transplante. O paciente que tinha problema aos 30 anos e morria com 35, hoje ele vai até os 70. Cada método que se coloca na medicina não invalida os anteriores - não é como na indústria automobilística, que se coloca um robô e acaba -, sempre agrega mais alguma coisa. Antigamente não havia patente, o remédio era gratuito. Hoje, cada antibiótico novo o laboratório investe milhões e milhões de dólares e depois cobra um custo absurdo. Precisa-se de recurso, de se destinar, no mínimo, 20% ou 25% do orçamento, que tem de vir junto com educação. Governos e pessoas precisam entender que é muito mais barato prevenir do que tratar. Esse gasto é muito alto e vai sempre aumentar.

DIÁRIO - E na região?
ESPÓSITO - É preciso integrar. O famoso Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC) precisa funcionar. Por exemplo, São Bernardo vai ser responsável pela neurologia. Tudo que tiver de neuro, vai para lá. Em compensação, cardiologia, faz Santo André e, ortopedia, faz São Caetano. Mas, para isso, é preciso ter confiança, integração, porque se não um vai fazer mais do que outro e vai ter ciúme. Não tem cabimento todos os hospitais terem todos os serviços. Hoje partimos cada vez mais para a especialização. No Grande ABC, sete hospitais particulares fecharam porque cada um queria fazer tudo.

DIÁRIO - Os municípios parecem caminhar para uma solução como esta?
ESPÓSITO - Eles conversam bastante, mas até hoje não vi nada positivo.

DIÁRIO - E agora que deixa a presidência da Fundação?
ESPÓSITO - Volto para minha atividade básica: diretor-geral do Hospital e Maternidade Bartira.

DIÁRIO - Então, na próxima década, o senhor pode voltar?
ESPÓSITO - Se eu estiver vivo (risos).




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