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Depois do sucesso do almanaque dos 80, é a vez dos 70
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
02/06/2006 | 08:18
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Sob o comando truculento dos militares, o país vivia uma fase de ufanismo no esporte, com a hegemonia no futebol e no automobilismo. Na produção cultural, os tempos eram de efervescência criativa e o desbunde era a palavra de ordem. A juventude buscava formas alternativas de vida em comunidade e rompia com os padrões estabelecidos pelos mais velhos. Esses e muitos outros acontecimentos relevantes da década de 70 podem ser relembrados no saboroso Almanaque dos Anos 70 – Lembranças e Curiosidades de uma Década Muito Doida (Ediouro, R$ 50 em média, 416 págs), da jornalista, escritora e crítica de música Ana Maria Bahiana.

Depois do sucesso do almanaque dedicado aos anos 80, de Luiz André Alzer e Mariana Caldino, que vendeu cerca de 100 mil cópias, a editora resolveu investir novamente no saudosismo e convidou Ana Maria para a tarefa. Recheado de citações, ilustrações, anúncios, entrevistas, cartas e trechos de matérias, o livro é um convite irrecusável à uma viagem nostálgica.

Não é preciso ter mais de 40 anos para se deliciar com a irreverência do antológico jornal O Pasquim, um dos pilares do movimento de resistência à ditadura militar, ou com reproduções de capas da não menos importante revista Rolling Stone, na qual Ana Maria começou sua carreira. Ou então, com as gírias e expressões da época, em que as pessoas consideradas bregas eram chamadas de boco-mocos.

Para os rapazes, poucas coisas eram mais legais que o álbum Guerra nas Estrelas. O setor de transportes parecia estar progredindo e, em 1972, foi realizada a primeira viagem de metrô, em São Paulo.

Fragmentado – Segundo a autora, os anos 70 podem ser divididos em duas partes, já que se trata de uma era fragmentada. A primeira, 1970-1974 – a era dos caretas e dos desbundados, foi marcada por, entre outros acontecimentos, a crise do petróleo, no âmbito internacional, e a forte repressão política no Brasil. Já a segunda parte, 1975-1979 – discoteca, punks e roqueiros, tem como destaques a volta dos exilados, a febre das discotecas, retratada na novela global Dancing Days, de Gilberto Braga, e a consolidação do mercado de produtos para o jovem.

Ainda de acordo com ela, as drogas também ajudaram a delimitar os períodos e pontuaram mudanças na música, nos costumes e na moda. No meio da década, a cocaína, substância que induz ao comportamento arrogante e individualista, substituiu a maconha e o LSD, relacionados à introspecção e à tranqüilidade. “Ao contrário dos anos 80, que são bastante homogêneos, os 70 são idiossincráticos e tribais”, analisa a autora.

Pesquisa – Para elaborar o almanaque, Ana Maria recorreu não somente a centenas de livros e documentos da época, mas ao seu arquivo particular. Pesquisou a coleção completa do Jornal de Música, publicação que pertencia a seu pai, Alberto Bahiana, que morreu quando ela ainda redigia o livro.

Espectadora privilegiada das turbulências da década de 70, ela é autora do argumento e co-roteirista do filme 1972, dirigido por seu marido, o também jornalista José Emílio Rondeau, com estréia prevista para o próximo mês.



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