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Poucos entendem jargões políticos
Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
05/06/2006 | 08:08
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‘Choque de gestão‘, ‘primeiro escalão‘, ‘base aliada‘. Em ano eleitoral, para quem não está acostumado com essas expressões fica difícil entender o discurso dos políticos. Embora os marqueteiros afirmem que a melhor opção é o uso do vocabulário popular, os candidatos insistem em usar jargões. Esta postura pode se tornar o principal adversário durante a campanha.

Para o marqueteiro Chico Malfitani, que coordenou a campanha do prefeito de São Bernardo, William Dib (PSB), os ‘clientes‘ são aconselhados a falar mais fácil, o que nem sempre é acatado. “Cada político faz o discurso que quer, não podemos impor um que não seja o dele”, explica. No entanto, ele destaca que a atitude pode atrapalhar o candidato. “Se você usar termos que a maioria da população não entende, estará jogando palavras fora.”

Malfitani cita como exemplo o termo ‘choque de gestão‘, usado pelo pré-candidato à Presidência da República Geraldo Alckmin (PSDB). Com a expressão, Alckmin quer dizer que fará uma gestão melhor que a do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que ocasionaria esse ‘choque‘. “Esse tipo de jargão é para um público específico, não atinge a maioria da população”, explica. Para o marqueteiro, neste ponto, Lula leva vantagem. “Porque ele fala a linguagem do povo.”

Por diversas vezes este tipo de discurso pode ser notado nas Câmaras do Grande ABC. O pré-candidato a deputado federal e vereador de São Bernardo Carlos Maciel (PDT) usou a tribuna, durante a última sessão, e disse “massa de manobra” para caracterizar uma atitude de outro parlamentar, que colocou seu assessor para discursar na tribuna popular. Questionado sobre o jargão, Maciel afirmou que durante a campanha tenta “se policiar”. “Dependendo do ambiente, temos de usar expressões mais básicas.”

Registrar marca – O também marqueteiro Toni Cotrin, que já coordenou duas vezes a campanha de Lula, afirma que os jargões podem ser usados para registrar uma marca pessoal. “Isso faz parte, porque de tanto ser repetido, fixa na memória do eleitor”, explica. Cotrin cita como exemplo o uso de slogans, que são feitos pelos publicitários como uma forma de sintetizar o diferencial político de seu candidato.

Para ele, principalmente os políticos mais velhos resistem em mudar o vocabulário durante as campanhas. “Eles têm tradição, gostam de usar uma linguagem mais erudita.” Mesmo assim, o marqueteiro costuma a aconselhar seus clientes a melhorar o vocabulário que não esteja “caindo no gosto popular”.

Para exemplificar, Cotrim contou que o presidente estadual do PMDB, o ex-governador Orestes Quércia – assessorado por ele em 2002 na campanha para senador –, gostava de colocar em seu discurso expressões extraídas de hinos ou de poesias. “Algumas até ficaram legais, mas outras tivemos de mudar”, disse, sem revelar quais foram. O marqueteiro também cita o ex-presidente Fernando Collor de Melo (PRN), que, apesar de sempre usar palavras difíceis, conseguiu ser eleito. “Ele falava coisas complexas, o povo não entendia, mas achava que ele era muito culto”, finaliza.

Entenda as expressões:

Base aliada: Conjunto de parlamentares que compõem as bancadas dos partidos que apóiam os governos federal, estadual ou municipal

Cabide de emprego: nomeação de funcionários

Cargo de confiança: cargo público ocupado sem realização de concurso
Clientelismo: prática política de troca de favores, na qual os eleitores são tratados como ‘clientes’
Demagogia: política que desperta apoio popular com promessas que não pode cumprir
Choque de gestão: novo gestor administrativo assume e faz mudanças revolucionárias em relação ao governo anterior
Coligação: método usado pelos partidos para aumentar suas forças eleitorais, também conhecido como aliança partidária
Coronelismo: práticas políticas e hábitos dos grandes latifundiários, que exercem domínio sobre agregados que são seus dependentes
Dança das cadeiras: troca de cargos no governo
Efeito dominó: momento de crise generalizada quando ocorre queda consecutiva de pessoas, grupos e instituições
Estado de bem-estar social: características assumidas pelo governo com o objetivo de melhorar a vida diária e promover segurança ao indivíduo, por meio de programas econômicos de governo
Fidelidade partidária: característica medida pelo número de vezes que o político migrou de um partido para o outro
Governo de coalizão: é aquele governo composto por partidos que não fazem oposição ao partido do chefe de governo
Massa de manobra: determinado segmento da população usado pelos políticos para conseguirem seus objetivos
Oligarquia: significa governo de poucos
Populismo: política com objetivo de conseguir apoio das classes sociais de menor poder aquisitivo
Prévias eleitorais: eleições realizadas internamente nos partidos para escolha dos candidatos que vão concorrer às eleições
Primeiro escalão: grupo de secretários e ministros, os chamados cargos de confiança
Reforma: mudanças no sistema atual
Segundo escalão: cargos que não foram indicados diretamente pelo chefe do Executivo
Verticalização: instituto que obriga os partidos políticos a efetuar coligações iguais a da esfera federal
Volatilidade eleitoral: instabilidade dos eleitores quanto à identificação ideológica de uma sigla partidária
Votos válidos: aqueles que podem ser contabilizados numa dada eleição



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