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Profissionais resistem ao tempo
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
11/01/2009 | 07:01
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Nario Barbosa/DGABC


Entrar na alfaiataria de Sérgio Veruzza, 82 anos, é como fazer uma viagem no tempo. Ao som de música clássica e do canto de um canário, o alfaiate - que não aparenta a idade que tem - realiza o ofício que aprendeu ainda jovem com o pai.

O ateliê foi fundado em 1928, na Rua Lino Jardim, em Santo André. Em 1932, transferiu-se para a Avenida José Cabalero, 369, onde permanece até hoje. A máquina de costura é companheira antiga, uma Singer com cerca de 100 anos, comprada de segunda mão pelo pai de Sérgio.

O alfaiate é mais um profissional que resiste ao tempo. "Estamos sobrevivendo por teimosia. Já tivemos épocas áureas, mas o auge foi até a década de 1980", relembra. O mundo mudou e, para Sérgio, não foi possível concorrer com as confecções de roupas que cresceram nos anos 1990.

"Trabalho porque não me sinto bem sem fazer nada. Faço com prazer. Minha satisfação é quando um cliente fica feliz", explica. Muitos fregueses permanecem fiéis, principalmente os mais antigos. "Tem gente que nunca fez roupa fora da minha alfaiataria", orgulha-se.

BARBA E CABELO - Há 52 anos a barbearia na Avenida Doutor Getúlio Vargas, em Mauá, funciona no mesmo lugar. Mário Queiroz de Freitas, 77, trabalha no local desde o começo. "Mudou tudo, só nós não mudamos."

O companheiro de trabalho Fernando Benedetti, 71, chegou dois anos depois. Porém, aprendeu a manejar a tesoura e a navalha cedo, aos 13 anos. Questionado se é apaixonado pela profissão, ele afirma: "Para aguentar todos esses anos, precisa ser."

A barbearia guarda história, pois conserva as mesmas cadeiras, azulejos, pisos e espelhos da fundação. Na frente do espaço foi construída a primeira rodoviária da cidade, que já não existe mais. Uma foto, guardada em uma das gavetas, mostra o interior do salão em 1959. "O barbeiro tradicional vai desaparecer. Aqui em Mauá têm poucos. Hoje, o pessoal quer ser cabeleireiro", diz Benedetti. Apesar disso, ele e Freitas ainda possuem muitos clientes, inclusive jovens.

FOTOS E MOLDURAS - Uma caixa de madeira cheia de tubos de tinta, pincéis de diversos tipos, lápis e papel são alguns dos instrumentos de trabalho de Silvio Dantas, 64. Há 50 anos ele restaura fotografias, ofício que aprendeu aos 14 anos com o italiano Maurílio Briquezi.

Na parede do pequeno ateliê, um quadro chama a atenção. "Olha lá o topete de Elvis", diz Dantas, referindo-se a uma imagem de quando tinha 16 anos.

O restaurador participava das feirinhas de artesanato em Santo André, mas há poucos meses deixou de frequentá-las. Ele explica que o movimento caiu muito nos últimos anos. "Teve um tempo, entre 1965 e 1988 que a gente fazia cerca de 100 quadros por semana. Éramos quatro e mais três moças que faziam a afinação (últimos retoques)."

Porém, Dantas não consegue abandonar o trabalho que desenvolve há meio século. "A gente fala: ‘vou parar com isso', mas para? Não tem mais ninguém fazendo", afirma.

INUSITADOS - Quem nunca desejou trabalhar no emprego dos sonhos? O gerente de produtos da Grow, Gustavo Arruda, 32, conseguiu. Uma das funções que desempenha é testar os jogos produzidos pela empresa. "No processo de seleção, eu já sabia que faria esse trabalho. Foi um dos fatores que me deixaram mais motivado."

O profissional, que atua na área há quase 10 anos, afirma que já escutou muitas piadas. "No fundo, as pessoas sabem que não é bem assim." Aliás, esse tipo de procedimento influencia diretamente no sucesso de um produto. Por isso, em geral, os jogos também são levados para casa para serem testados por familiares e amigos.

Profissões inusitadas como a do gerente de produtos são mais comuns do que se imagina. No Grande ABC é possível encontrar desde degustadores de chocolates e doces a maquiadores de cadáveres.




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