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O que mais falta acontecer no reino do ó?
Por Rodolfo de Souza
31/05/2018 | 07:00
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Mais uma vez no exuberante e inconcebível reino do Ó, que depende exclusivamente das carroças para levar mercadorias para os vários confins do seu vastíssimo território, um movimento de repúdio fez cruzar os braços os carroceiros, manifesto que literalmente parou a nação.

O povo, categoria da qual também fazem parte os carroceiros, está revoltado por causa da persistência do rei, aquele que deu rasteira feia na rainha, em estar à frente do comando da nação, uma vez que ficou clara sua habilidade nenhuma para lidar com a coisa pública, além de estar totalmente comprometido com as mazelas das ratazanas que seguem soltas, devorando grossa fatia do queijo do Ó e, que de sobra, ainda entregam de bandeja a maior parte do quinhão para os longínquos reinos do norte, bem debaixo das barbas dos ratos de plantão. Claro que cada um recebe a sua parte para que não dê um único grunhido em favor da pátria. Tudo muito justo!

Mas, afinal, o que deu nos carroceiros para que parassem assim, do nada? Não. Não pararam do nada. Alegam que têm motivos de sobra. Um deles é o preço do feno, alimento essencial para fazer trotar tantos cavalos vapor que perambulam por essa terra, transportando riquezas.

Acontece que o país está entregue ao capital estrangeiro que determina os preços do capim e, consequentemente, que rumo deve tomar a vida dos súditos deste triste recanto do mundo. O rumo do abismo, sem dúvida, caminho que certamente o povo do norte nem imagina existir.

Mas o movimento é grande reino afora, e a mídia do Ó, que há décadas conspira contra o bem-estar do seu povo, conduzindo o seu pensamento miúdo segundo os desígnios de determinado seguimento da sociedade, esforça-se agora para denegrir a imagem do carroceiro e da gente que faz levante nas ruas a seu favor. Não aceita, a TV estatal, que, finalmente, tenha partido da garganta do pobre o grito de basta que há muito vem contido em seu peito de pessoa simples, sujeita aos desmandos de quem detém o poder do dinheiro.

E o rei não sabe o que fazer nem o que dizer em momento tão crucial. Atrapalha-se ele e equipe para explicar o inexplicável, e tenta convencer quem o assiste de que possui a solução e que a qualquer momento a tirará da cartola do mágico oficial do reino.

Mas o que os súditos desejam desesperadamente é a queda do soberano, embora estejam sem esperança, já que todos os candidatos ao trono estão no mesmo nível de sua majestade: abaixo da crítica. Por isso é que esse povo não vê alternativa, senão colocar a cabeça na boca do leão, o que significa na prática vender a alma ao diabo. 

Aliás, o tinhoso anda mesmo à espreita, de tocaia e, como sempre faz, deve se aproveitar do momento de fragilidade suprema para botar suas garras de molho. Lembra até o tempo em que os arqueiros mandavam no reino e submetiam aos rigores da chibata o súdito que tivesse a ousadia de se contrapor às suas ordens. 

E preste atenção que é assim que ele chega, devagar, com uma conversa amistosa ao pé do ouvido, papo de quem é solidário à situação da gente humilde do reino. Então, ouve, aqui e ali, o clamor que pede a sua volta, e se baba, e acirra o discurso, e o coitadinho que o escuta se enche de orgulho sem saber que, mais uma vez, se engana e toma a direção errada. 




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