Memória Titulo MEMÓRIA
Taunay. E o santo que São Bernardo perdeu
Por Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
14/08/2017 | 07:00
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Na 2ª Semana São Caetano 2017, a presença ilustre do professor José de Souza Martins. Ele rememora – e perpetua aqui em Memória – detalhes da pesquisa que realizou e que resultou no seu primeiro livro, lançado em 1958, São Caetano do Sul em Quatro Séculos de História.

Nesta segunda aula do professor Martins, destacamos duas ilustrações: a capa de um dos livros de Taunay, que Martins cita, e a imagem histórica do santo Bernardo de Claraval, que São Bernardo não soube preservar e que hoje, felizmente, ocupa espaço de honra do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, ao lado de uma segunda imagem desprezada pela Igreja em São Bernardo, a de Nossa Senhora de Montesserrate.

Os sons de Tijucuçu

José de Souza Martins – 2

Desde 1953, durante o dia, eu trabalhava na Cerâmica São Caetano, como office-boy e responsável por pequenas tarefas, como servir café aos engenheiros e visitantes, das 8h às 17h30, no escritório do Dr. Renato, o Dr. Renato Martins de Siqueira, engenheiro da Divisão de Terra-Cota e diretor da empresa. À noite, eu fazia o curso secundário no Instituto de Ensino de São Caetano, curso pago pela fábrica, que inspecionava minhas notas e minha frequência às aulas.

Gostava muito de ler e, nas comemorações do quarto centenário de São Paulo, ficara muito motivado para ler livros sobre a história paulista.

Comecei a frequentar a Biblioteca Municipal de São Paulo, hoje Biblioteca Mário de Andrade, em fins de semana, em feriados e à noite nas férias escolares. Tornei-me autodidata. Aos 17 anos, eu conhecia razoavelmente bem a história paulista, a história do Brasil e a história do ABC.

Fui às Atas da Câmara de São Paulo, ao Registro Geral da Câmara, aos Inventários e Testamentos, aos Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo.

Pedi conselhos ao grande historiador das bandeiras e do café, Affonso d’E. Taunay.

Ele me recomendou que conversasse com o historiador João Baptista de Campos Aguirra, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, que morava em sua biblioteca, no meio de livros e documentos, em antigo e monumental edifício da Rua Líbero Badaró, documento arquitetônico das construções da República Velha. Ainda existe. Ele tinha um enorme arquivo pessoal sobre a história de São Paulo. Hoje o Arquivo Aguirra está incorporado ao acervo do Museu do Ipiranga. Em alguns sábados, antes de ir para a Biblioteca Municipal de São Paulo, passava por lá, para conversar com ele. Idoso e quase completamente surdo, sempre generoso, deu-me verdadeiras aulas sobre a história de São Paulo. Morreu em silêncio e solitário no meio de seus maiores companheiros, os livros.

Consegui do Dr. Renato autorização para faltar ao trabalho um sábado por mês (naquela época, nas fábricas, em sábados, se trabalhava até ao meu dia). Nesse dia, eu ia para o Arquivo do Estado, o nosso arquivo histórico estadual, na Rua Dona Antonia de Queiroz, que também funcionava até o meio-dia.

No começo, tive ajuda de Nello Garcia Migliorini, paleógrafo do Arquivo, que me ensinou os rudimentos da leitura paleográfica dos documentos antigos.

Os dos séculos 16 e 17 tinham que ser decifrados. Os nomes toponímicos ainda eram grafados como reprodução dos sons da língua tupi. Tijucuçu, que viria a ser São Caetano, escrevia-se TeyuguoSu. “Sua mulher” era “Sª mer.” “Deus” era “Ds”. “Caminho” era “Cº”. Não havia vírgulas nem acentos.

No começo do século 18, a caligrafia muda, torna-se barroca, artística, cheia de volteios, elegante e de leitura mais fácil.

Mas não tanto. A língua ainda era outra, diferente da atual. Para enviar ao rei de Portugal um relato, o seu Diário da Navegação, da expedição de 1769 de Porto Feliz aos sertões do Iguatemi, na fronteira com o Paraguai, Teotônio José Juzarte, frequentemente, tem que explicar o significado de nomes e palavras, ininteligíveis para os portugueses que o lerão na Côrte.

Para o fim desse século, a caligrafia se torna mais objetiva, já com o traço do que os calígrafos chamarão no século 19 de caligrafia comercial. A da escrituração obrigatória de documentos públicos. Fui conhecendo uma história do Brasil muito diferente da que se ensinava e ainda se ensina nas escolas, no geral, uma simplificação enganadora.

Do escritório de Aguirre, eu ia para a Biblioteca Municipal da Rua Xavier de Toledo e ali ficava até às dez horas da noite.

Fui ao Rio de Janeiro, à procura de dom Clemente da Silva-Nigra, o arquivista-mor da Ordem de São Bento no Brasil, perito em arte sacra, que foi diretor do Museu de Arte Sacra da Bahia, personagem de Jorge Amado. Mais tarde eu ficaria sabendo que foi ele quem encontrou, abandonada e desfigurada por uma pintura indevida, com identificação errada, na torre da Igreja Matriz de São Bernardo, a escultura de barro de autoria do monge Frei Agostinho da Piedade, que morreu em 1661, do santo que deu nome à antiga fazenda beneditina e, depois, àquele município.

Frei Agostinho fora introdutor da arte erudita no Brasil. Autorizado pelo arcebispo, dom Clemente levou a escultura para o Museu de Arte Sacra da Bahia, onde foi restaurada. E devolvida ao Mosteiro de São Bento, de São Paulo. Antes de ser levada para a capela da fazenda na Borda do Campo, fora imagem de um dos altares da Igreja do Mosteiro. Está hoje de volta ao Mosteiro, ao lado da porta do quarto em que se hospedou o papa Bento XVI.


Diário há 30 anos

Sexta-feira, 14 de agosto de 1987 – ano 30, edição 6520

Manchete – Medidas do CMN vão elevar juros

Movimento Sindical – Comerciários do Grande ABC assinam acordo sobre resíduo inflacionário de 21,26%.


Em 14 de agosto de...

1912 – Pela lei 123, é concedido privilégio à Companhia Melhoramentos de
São Caetano para a exploração, durante 30 anos, dos serviços de água e esgoto no distrito. <CF161>

1977 – Raul Seixas canta no bairro Assunção, em São Bernardo, na sede da Sociedade Amigos
de Bairro, à Rua Ângelo Moriggi, 15.


Hoje

Dia do Cardiologista

Dia do Combate à poluição

Em Santo André, Dia das Sociedades Amigos de Bairro: em 1964, nesta data, havia sido fundada a Federação Municipal das SABs.


Santos do Dia

Maximiliano Maria Kolbe


Municípios Brasileiros

Celebram seus aniversários em 14 de agosto:

Na Bahia, Barra do Mendes, Caculé, Candeias, Cocos, Coribe, Guanambi,
Iaçu, Ibotirama, Itagibá, Itanhém, Itapebi, Ituberá, Medeiros Neto, Olindina, Riachão do Jacuípe, Ribeira do Amparo, Sátiro Dias e Tanquinho.

Em Alagoas, Campo Grande

Em Minas Gerais, Dom Silvério

Em Pernambuco, Iati

No Piauí, Parnaíba

No Ceará, Quixeramobim e Viçosa do Ceará

No Pará, São Caetano de Odivelas

Fonte: IBGE

Amigos Andreenses

Hoje é o aniversário de Vera Lúcia Pivetta. Andreense. Nascida em 14 de agosto de 1953. Braço direito do Clube Amigos de Santo André, o Casa.

Vera organiza as reuniões. Mantém a agenda do Casa. Ela nos ajuda a escrever este cantinho da Memória, sempre que algum dos integrantes aniversaria. Agora, é a Vera aniversariante.

No currículo de Vera está o cargo de assessora da Câmara Municipal de Santo André, nas legislaturas do vereador Joaquim dos Santos.
 




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