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Falta de apoio leva campeã do Pan a renunciar à seleção brasileira de kung fu
09/06/2017 | 06:30
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Quem vê Rosana Neves durante o horário comercial no salão de beleza em que trabalha como manicure não imagina que ela é campeã pan-americana de kung fu tradicional. À noite, põe o uniforme e se preocupa em fazer o melhor treino possível. No esporte há 33 anos, coleciona medalhas e troféus e convocações para a seleção brasileira, além de ser instrutora e altamente graduada. No entanto, este ano teve de pedir afastamento da seleção por falta de dinheiro.

"Existem três campeonatos superimportantes: o Pan (de 2017), o Sul-Americano e o Mundial na China. Eu passei na peneira entre diversas atletas. Mas, por falta de dinheiro para viajar, para me custear, acabei mandando um e-mail pro técnico dizendo que ia ficar desvinculada da seleção neste ano por falta de oportunidade", explica a manicure.

Aos 44 anos, Rosana se emociona ao relembrar do Pan-Americano de Kung Fu de 2015, no Brasil, quando conquistou a medalha de ouro. "Eu nem imaginei, ainda ganhei por desempate, ainda ganhei no meu País, foi muito legal! É uma conquista grande", relembra.

Por outro lado, ela lamenta ficar fora da competição em 2017, que será no próximo mês na Costa Rica. "É Brasil? A gente vê que não tem apoio. Você traz títulos importantes para o País, representa, chega aqui e parece que nada aconteceu", desabafa. Ela nunca teve patrocínio.

Mayara Rios, 33 anos, e Tamara Gonzaga, de 28, que treinam com Rosana, também sentem que falta apoio e incentivo. As três "bancam?? toda a despesa do próprio bolso. Até os treinos da seleção brasileira, se quiserem participar, têm de pagar.

Tamara, que treina desde 2004, lembra que há alguns anos deixou de ir ao Mundial da China por falta de dinheiro. Em 2015, no Pan, conseguiu o segundo lugar em sua categoria e, por isso, conquistou uma bolsa-atleta e conseguirá ir à Costa Rica.

Há pouco tempo no esporte, Mayara já percebeu ser difícil encontrar apoio. "As pessoas são muito boas e, às vezes, realmente têm que trabalhar, têm que ter vidas paralelas e não conseguem treinar o necessário."

A atleta explica que são elas quem têm de pagar seus uniformes, as armas que usam, participação na federação e em campeonatos e outros gastos.

Marcio Augusto Ferreira, o shifu (mestre) da academia em que as três treinam, reconhece o esforço das alunas e lamenta que falte apoio. "Se eu tivesse condições financeiras, ajudaria as minhas alunas a irem para a competição. A gente fica muito chateado, porque são pessoas que se dedicam, se esforçam, e que, acima de tudo, estão fazendo algo muito positivo para nossa bandeira, pro País", pondera.

Mesmo com as dificuldades, Rosana, Tamara e Mayara sentem gratidão pelo kung fu. Rosana diz que aprendeu a ser mais paciente depois de começar a praticar a arte marcial. Tamara, que sofria de fobia social e teve dificuldade para começar a competir, conseguiu enfrentar o medo e percebe como o esporte ajudou na vida pessoal. E Mayara, chamada de irmã caçula pelas companheiras, afirma que aprendeu a ser mais humilde.




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