Setecidades Titulo Saúde
Vida moderna faz
adolescente sofrer
com doenças de adulto

Médicos tentam quebrar tabus e defendem atenção especial
à saúde juvenil; os jovens sofrem com diabetes, por exemplo

Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
23/09/2012 | 07:00
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As preocupações relativas à saúde dos adolescentes mudaram nos últimos 20 anos. A incidência do vírus da Aids, no início da década de 1990 era um dos principais temores, permanece em pauta com regular predominância. Porém, outros problemas evoluíram durante o período, especialmente com os agravantes impostos pela vida moderna. Doenças que antes acometiam apenas adultos, como obesidade mórbida, hipertensão e diabetes, hoje fazem parte da vida da molecada que tem entre 10 e 19 anos.

Para cuidar da saúde do público dessa faixa etária, a hebiatria (referência a Hebe, deusa da juventude na mitologia grega) precisou enfrentar longos tabus e até certa discriminação. A especialidade tem cerca de 40 anos. "Há preconceito enorme na sociedade. Muitos entendem os adolescentes como rebeldes, problemáticos, ‘aborrecentes' que não têm problemas de saúde. Mas são pessoas que passam por momentos de transição e por isso apresentam comportamentos que geram conflitos", explica Ligia de Fátima Nóbrega Reato, coordenadora do Centro de Referência Adolescente Cidadão-Esperança da Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André.

Uma das mudanças que ajudaram a aumentar a procura pela especialidade é o fator social a que adolescentes foram submetidos nas últimas décadas. Entre os problemas, violência urbana, gravidez precoce, acidentes de trânsito e uso de drogas. "Se é uma fase de risco, é preciso dedicar atenção maior."

A capacidade de identificar patologias cresceu com os avanços da medicina. Para isso, além de contar com a atenção dos pais, é fundamental que especialistas trabalhem com equipes multidisciplinares. A queixa clínica do paciente pode esconder o início de instabilidade emocional, causada por bullying e problemas de relacionamento. "Sem outros profissionais, não damos conta. Ficaríamos tratando o sintoma sem cuidar da causa."

O acesso facilitado à informação por meio da internet funciona como aliado dos médicos, uma vez que a fase de questionamentos dos jovens é utilizada como pontapé inicial da prevenção de doenças e até comportamentos de risco. "Eles criam conceitos. São verdadeiras ‘esponjas' e podem entender as consequências na vida adulta. Por isso, tudo o que é feito para o jovem há necessidade de ser melhor", explica Isabel Cristina Bouzas, do Núcleo de Saúde do Adolescente da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

FMABC atende demanda das redes municipais
Diante da escassez de hebiatras nas redes públicas de Saúde, a FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) identificou a necessidade de criar, há dois anos, o Centro de Referência Adolescente Cidadão-Esperança, que funciona no campus da faculdade em Santo André. Antes, o serviço ficou por 23 anos no Centro de Saúde-Escola Parque Capuava.

No novo espaço, centes encaminhados pelas redes municipais recebem atendimentos de ginecológico, dermatológico, nutrição, fisioterapia e psicologia. A capacidade é de realizar até 2.000 consultas por mês. Além disso, os jovens têm oportunidade de fazer cursos de informática, panificação e reciclagem e passar por programas educativos. Segundo Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), a região conta com aproximadamente 398 mil adolescentes, sendo 18% da população.

Na sexta-feira, a FMABC realizou evento para comemorar os 25 anos de hebiatria da faculdade. Estiveram presentes o presidente da Fundação do ABC, Maurício Mindrisz, além de representantes dos governos estadual e federal.

DISCUSSÃO
Na mesa de debate, a coordenadora do Programa Estadual de Saúde do Adolescente, Albertina Duarte Takiuti, e outros convidados discutiram os avanços e perspectivas na atenção integral a esse público. Para a especialista, é fundamental ter cuidado precoce com a saúde dos adolescentes, especialmente por causa das inconsequências que marcam seus atos. Quando o assunto é sexualidade, o quadro se agrava. No Brasil, 4 milhões de adolescentes tornam-se sexualmente ativos anualmente. “Fazem coisas de gente grande com cabeça de criança. A insegurança é maior que a procura por informações. Usar camisinha tem de ser prova de carinho.”




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