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Questionamentos em pauta

Peça Gota d’Água estreia sexta-feira na região com elenco formado somente por atores negros

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
10/07/2019 | 07:00
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Evandro Macedo/Divulgação


É com um elenco predominantemente negro e com a sugestão de realçar a realidade negra, a discussão social e de classes, e o protagonismo da mulher, que o espetáculo teatral Gota d’Água ilustra a agenda do Sesc Santo André a partir de sexta-feira até o dia 28, às sextas e sábados, a partir das 20h, e aos domingos, às 18h. Os bilhetes custam de R$ 6 a R$ 20 e podem ser comprados nas bilheterias das unidades e pelo site www.sescsp.org.br.

A montagem é assinada pelo ator, diretor e dramaturgo mauaense Jé Oliveira, fundador do Coletivo Negro e que, no trabalho anterior, homenageou o grupo Racionais MC’s com o espetáculo Farinha com Açúcar, que circulou pelo Brasil por três anos.

Inspirada na tragédia Medeia, do grego Eurípedes, Gota d’Água, cujo texto foi escrito por Chico Buarque e Paulo Pontes, em 1975, tem como personagem principal Joana (Juçara Marçal), mulher com vida marcada pelo sofrimento, madura e moradora de um conjunto habitacional. Ela vê seu ex-marido, Jasão (Jé Oliveira), despontando como sambista e em nova relação amorosa. É noivo de Alma, filha de Creonte, homem corrupto, poderoso e dono das casas onde vivia Joana. Feminismo, traição e diversos questionamentos são abordados na obra.

Além dos dois, sobem ao palco Aysha Nascimento, Marina Esteves, Martinha Soares, Mateus Sousa, Ícaro Rodrigues, Rodrigo Mercadante e Sérgio Pires. O espetáculo conta ainda com a participação de banda formada por DJ Tano (pick-ups), Fernando Alabê (percussão), Suka Figueiredo (saxofone) e Gabriel Longuitano (guitarra, violão, cavaco e voz).

Segundo Jé Oliveira, a escolha política-estética da obra traz a força da musicalidade ancestral e a influência das religiões de matriz africana. “É como se estivéssemos realizando a coerência que a peça sempre pediu e até hoje não foi realizada”, afirma. Juçara explica que, com pessoas da comunidade negra, é natural que as religiões de matriz africana estejam presentes. Há canto de candomblé, umbanda e até jongo, que é uma dança de roda acompanhada por tambores. “Tentamos trazer para a peça a maneira que o negro entende sua divindade”, afirma a profissional.

Sobre o texto, Jé Oliveira ressalta que a personagem principal é pobre e da umbanda. “Tudo leva a crer, pelo contexto histórico, social e racial do País, que essa personagem é preta. Estamos realizando o que a peça insinua. Estamos de fato enegrecendo a obra de Chico Buarque e materializando o que ele propõe”, afirma o mauaense.

A sugestão vai além de promover reparação histórica para diminuir hiato sobre a presença negra nos papéis relevantes da dramaturgia nacional. A ideia é, também, propor uma atualização, com base na coerência, ainda não realizada por nenhuma montagem para Gota d''Água.

“Ela é a mulher que foi violentada, agredida. A pessoa sem voz que quer se vingar e não sabe como”, explica Juçara. Para a atriz, sua personagem representa a mulher oprimida desde a formação do Brasil e o grito oprimido desta camada da sociedade.

“Fazer Gota D’Água no (Grande) ABC é uma alegria imensa. Primeiro porque sou de Mauá e depois porque sempre tive uma relação profunda com Santo André. Estudei no Senai, no Senac e na Escola Livre de Teatro (de Santo André), onde também dei aulas”, afirma.

Gota d’Água – Espetáculo teatral. No Sesc Santo André – Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469 1200. Ingressos: R$ 6 a R$ 20 (nas bilheterias e pelo site www.sescsp.org.br. A partir de sexta-feira até dia 28. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, a partir das 18h. 




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