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Mortes mancham futebol e MP promete perseguir organizadas
Raphael Ramos
Do Diário do Grande ABC
18/10/2005 | 08:31
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Quando, por volta das 14h de domingo, o palmeirense Diogo Lima Borges, 23 anos, levou um tiro na estação Tatuapé do Metrô e logo em seguida morreu, iniciou-se ali as 24 horas mais tristes do futebol paulista. Após o jogo entre Corinthians e Palmeiras, o corintiano Wellington Martins, 24 anos, também morreu vítima do confronto entre as duas torcidas rivais e, para aumentar o saldo trágico da selvageria protagonizada pelos torcedores, o pontepretano Anderson Ferreira Thomás, 28 anos, morreu depois de envolver-se numa briga com são-paulinos nas bilheterias do estádio Moisés Lucarelli, em Campinas.

As três mortes devem provocar profundas mudanças no relacionamento do poder público com as torcidas, principalmente as organizadas. O Ministério Público de São Paulo deve designar um grupo de promotores para tratar do caso. A princípio, a idéia é que as mortes ocorridas na capital sejam tratadas de forma separada, pois há a suspeita de que as ações tenham sido premeditadas – ou seja, os criminosos foram até o local onde acontecem as mortes com a intenção de matar, e obtiveram êxito. Já o caso de Campinas, além de ter ocorrido no interior, deve ser considerado uma casualidade, graças ao encontro das duas torcidas no Majestoso.

Enquanto o MP não define os promotores que cuidarão exclusivamente destas mortes, Fernando Capez, adianta quais devem ser primeiras ações do órgão. De imediato, o promotor, em entrevista à Radio Globo, pediu às pessoas que pretendem continuar freqüentando os estádios que parem de vestir camisas dos clubes. "Vamos aconselhar os torcedores que, se forem aos estádios, que evitem ir com a camisa do time", disse. Na visão do promotor Capez, isso dificultaria a ação dos grupos que pretendem atacar torcedores rivais.

O promotor também defende uma "caça às torcidas organizadas". Ele, que quase dez anos luta pela fim de Gaviões da Fiel, Mancha Alviverde e Independente, deseja que medidas mais duras sejam tomadas. "As punições devem ser severas a estes grupos, proibindo-os de pisar nos estádios e até fechando suas sedes se for o caso", afirmou.

Histórico das mortes

24 de Janeiro de 1992 – O corintiano Rodrigo de Gásperi, 13 anos, é atingido por uma bomba de fabricação artesanal, durante o jogo São Paulo x Corinthians pela Copa São Paulo de Futebol Júnior, no campo do Nacional. Ele morreu após três dias internado no Hospital das Clínicas.

  

29 de Setembro de 1992 – Sérgio Vivaldini, 17 anos, palmeirense, é morto com uma punhalada no coração após briga de torcedores da Mancha Verde e da Torcida Independente, do São Paulo. A tragédia aconteceu antes do jogo São Paulo x Santos, pela extinta Supercopa dos Campeões da Libertadores da América.

  

6 de Junho de 1993 – O torcedor do São Paulo, Leandro Araújo Lopes, 16 anos, foi morto com um tiro no coração depois de reagir quando tentaram tirar-lhe a camisa do clube.

  

20 de Outubro de 1994 – Após oito dias em coma, morre o corintiano Sérgio Francisquini, pisoteado durante conflito entre torcedores do Guarani e do Corinthians, no estádio Brinco de Ouro, em jogo do Campeonato Brasileiro.

  

15 de Dezembro de 1994 – O corintiano Paulo Sérgio Costábile Elias, foi atingido por um tiro na cabeça, quando estava sentado na caçamba de uma pick-up. O disparo foi feito no cruzamento da avenida Henrique Schaumann com rua Artur de Azevedo, em Pinheiros. Paulo Sérgio retornava do Pacaembu, onde fora assistir ao primeiro jogo da final do Brasileiro daquele ano, entre Palmeiras e Corinthians.

  

20 de Agosto de 1995 – O são-paulino Márcio Gasparim da Silva foi outra vítima das tragédias relacionadas ao futebol. Depois da decisão da Supercopa de Juniores, entre Palmeiras x São Paulo, no Pacaembu, torcedores se armaram com pedras e pedaços de madeira de um local do estádio que passava por reforças. Mais de 100 pessoas, entre policiais e torcedores, ficaram feridos, além da morte de Márcio Gasparim.

  

22 de Fevereiro de 2003 – Em pleno sábado de Carnaval, um tumulto entre palmeirenses e são-paulinos, no sambódromo de Anhembi, provocou a morte de três pessoas: o carnavalesco Ruy Luciano Nogueira, 25 anos; o palmeirense Mauro Roberto Costa, 24, e Dhiógenes Ventura, 20.

  

4 de Maio de 2004 – Morre o torcedor Marcos Gabriel Soares, 16 anos, em conseqüência de traumatismo craniano após ter sido espancado próximo da estação Barra Funda, do Metrô. Ele não pertencia a torcidas organizadas.

3 de Novembro de 2004 – O torcedor Renato de Lara Mendes Júnior, 35 anos, morre em Sorocaba, três dias após ter sido agredido ao assistir a partida entre Atlético Sorocaba e Palmeiras pelo Campeonato Paulista Sub-20.

  

16 de Outubro de 2005 – Diogo Lima Borges, 23 anos, morreu no domingo à tarde ao ter sido baleado depois que torcedores corintianos e palmeirenses se encontraram nas Tatuapé e Belém do Metrô, na zona leste de São Paulo. Palmeirense, Diogo viajou de Bragança Paulista, onde morava, para ver o clássico do Morumbi. Também no domingo, mas à noite, o corintiano Wellington Martins, 24 anos, morreu ao ser atingido por um tiro na cabeça depois que cerca de 160 torcedores, entre palmeirenses e corintianos, se envolveram em tumulto na avenida Santo Amaro, zona sul de São Paulo.

  

17 de Outubro de 2005 – Anderson Tomás, da Torcida Jovem da Ponte Preta, morreu após conflito entre torcedores do time de Campinas e da Torcida Independente, que tem sub-sede em Campinas, durante a distribuição de ingressos para a partida remarcada nesta quarta-feira à noite, no estádio Moisés Lucarelli. Ele sofreu traumatismo crânio-encefálico e morreu no início da tarde, no Hospital Mário Gatti.




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