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Nancy Wilson mostra que o Natal é mais que 'Jingle Bells'
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
25/12/2001 | 18:20
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Nos Estados Unidos e na Europa, o fim de ano é uma das épocas mais interessantes para as gravadoras. A cada dezembro, elas despejam dezenas de CDs com novos registros das sempre eternas músicas natalinas. A coisa funciona mais ou menos como era no Brasil, até os anos 60, período em que os lançamentos de discos podiam ser divididos em antes e depois da enxurrada de marchinhas que invadiam o mercado no Carnaval.

Músicas de Natal, porém, podem significar muitas coisas diferentes. Para os mais cultivados, o oratório O Messias, de Haendel (aquele que contém o célebre coral Aleluia), ou então as canções folclóricas que há centenas de anos embalam o Natal de adultos e crianças em todo o mundo. Para a turma que gosta de jazz também há costumeiros lançamentos, que sempre levam como carro-chefe o mega-sucesso de Bing Crosby dos anos 30, White Christmas.

Um CD Telarc importado que acaba de chegar às lojas premia a sensibilidade de quem gosta de músicas de Natal com “um plus-a-mais”, como diria aquele pagodeiro metido a intelectual. A Nancy Wilson Christmas (Telarc importado; R$ 40, em média) traz de volta, depois de muitos anos de aposentadoria, uma das melhores cantoras populares norte-americanas dos anos 60 e 70, em performances atraentes, acompanhada pela Dizzy Gillespie Alumni All Stars Big Band. A renda obtida com a venda do CD será destinada à Manchester Crafstmen’s Guild de Pittsburgh, instituição que acolhe crianças abandonadas e lhes dá formação artística e cultural – com destaque, claro, para o jazz.

Nancy posa com seus netos na contracapa, mas mostra que continua em ótima forma como cantora. Claro, a voz não tem mais o brilho dos anos 60. Mas o talento continua intacto. Ainda mais que ela conta com ótimos convidados, como o pianista jamaicano radicado nos Estados Unidos Monty Alexander; e os brasileiros já totalmente aculturados por lá Claudio Roditi (trompetista) e Duduka da Fonseca (batera); e um dos mais populares flautistas do jazz “comercial” dos anos 60, Herbie Mann. O grupo vocal New York Voices e a pianista Renne Rosnes também participam.

É envolvente a versão de Nancy para Let It Snow! Let It Snow!, de Sammy Cahn, e o spiritual Sweet Little Jesus Boy. Magnífico também o arranjo do trombonista Slide Hampton para God Rest Ye Merry Gentlemen e The Christmas Song, assinada pelo excepcional cantor Mel Tormé.

Cannonball – A voz de Nancy, aos 21 anos, em 1958, capturou o saxofonista Cannonball Adderley, quando seu quinteto acompanhou-a em uma série de shows em Columbus, Ohio. Imediatamente, Cannonball levou-a a Nova York e conseguiu-lhe um contrato com a Capitol – então a rainha das gravadoras norte-americanas. O momento não poderia ser pior, afirmou Pete Welding em um grande e precioso texto no folheto do álbum que reúne em três CDs o melhor de arte de Nancy Wilson. Chama-se Ballads, Blues & Big Bands – The Best of Nancy Wilson (R$ 100, em média), caixa da Capitol compilada por Brad Benedict em 1996 e ainda disponível nas lojas de importados.

O rock começava a explodir, os Beatles estavam chegando e, por isso, declinava inexoravelmente a era das grandes canções e dos grandes intérpretes vocais que tinham o ótimo hábito de se acompanhar por grandes orquestras em arranjos escritos por notáveis criadores do porte de Billy May, Nelson Riddle e Oliver Nelson.

Mesmo assim, Miss Wilson compôs um songbook de muito respeito e travou uma dura batalha para continuar em cena mantendo o chamado padrão de qualidade da era de ouro da música popular norte-americana. O grande público, porém, já reduzira drasticamente suas exigências musicais – e Miss Wilson, que ainda desfrutou nos anos 80 de certo prestígio e fez turnês extensas pela Europa e Japão, acabou se aposentando.

O triplo Ballads, Blues & Big Bands é um verdadeiro oásis de qualidade musical. Arranjos de primeira para uma cantora que possuía um delicado timbre de soprano e uma agilidade vocal a toda prova. São, ao todo, 60 músicas. E pode ter certeza: todas aquelas grandes canções que você não consegue esquecer estão lá. Obras-primas como The Best Is Yet To Come, de Cy Coleman; Sophisticated Lady, de Ellington; a deliciosa When The Word Was Young, de Johnny Mercer; Call Me Irresponsible, de Sammy Cahn (olha aí ele de novo); Here’s That Rainy Day, da dupla Burke e Van Heusen. Há outras tão boas quanto essas, porém menos conhecidas. Por isso mesmo, soam como descobertas: You Can Have Him de Irving Berlin; The Very Tought of You, de Ray Noble; e What a Little Moonlight Can Do, de Harry Woods.




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