Setecidades Titulo Segurança pública
Criminalidade fecha
2013 em alta na região

Estatísticas mostram que sete cidades tiveram
aumento em crimes contra a vida e o patrimônio

Por Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
28/01/2014 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


O Grande ABC terminou 2013 com aumento nos principais índices criminais – número de vítimas de homicídios e latrocínios e roubos e furtos gerais e de veículos –, na comparação direta com 2012, segundo as estatísticas divulgadas ontem pela SSP (Secretaria da Segurança Pública).

Os dados (veja no quadro ao lado) anunciados ontem são referentes ao mês de dezembro, possibilitaram o fechamento do balanço do ano e confirmaram a tendência da região em liderar os casos de roubos e furtos de veículos na Grande São Paulo.

Cerca de metade dos casos de carros e motos levados de seus donos na Região Metropolitana foi registrada nas delegacias das sete cidades. A média é de quase 67 veículos roubados ou furtados por dia.

Mais do que os crimes contra o patrimônio, o Grande ABC também viu suspeitos não hesitarem em atirar nas vítimas ao menor sinal de reação: proporcionalmente, o número de latrocínios (roubo seguido de morte) aumentou mais que no Estado, 72,7%. Nas sete cidades, apenas São Caetano não registrou ocorrências do tipo – em 2013 nem em 2012.

A região terminou o ano sendo responsável por quase 40% de todos os crimes deste tipo ocorridos na Grande São Paulo em 2013. Antes, em 2012, a participação das sete cidades no índice regional era de 24,4%.

Para o coronel Mauro Cezar dos Santos Ricciarelli, comandante da Polícia Militar na região, um índice está ligado ao outro. “O assalto malsucedido leva os autores a atirar nas vítimas”, explicou. Por isso, não só a corporação como a Polícia Civil apostam nas medidas tomadas pelo governo estadual no fim do ano para ajudar ao menos frear a criminalidade neste ano.

A principal delas é a chamada Lei dos Desmanches. Sancionada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) no início do mês, o texto prevê que a partir de julho estabelecimentos que revendam peças usadas de carros precisarão cumprir série de normas administrativas, ambientais e operacionais.

“Sem dúvida nos ajudará bastante”, disse Mauro. “O comerciante de bem não vai querer se arriscar e até nos ajudará na fiscalização dos comércios ilegais de peças.”

Além da lei, os responsáveis pelas polícias da região também esperam que o programa de bônus por metas cumpridas colabore no controle dos índices.

Lançado na semana passada por Alckmin, o programa prevê pagamento de até R$ 2.000 mensais a cada policial, militar ou civil, caso metas trimestrais e regionais sejam alcançadas.

“É um estímulo providencial, que certamente empenhará ainda mais os policiais na solução dos crimes”, disse Ângelo Ísola, delegado seccional de Santo André.

Especialista teme fraude em números

Especialista em Segurança pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Guaracy Mingardi elogia a medida do Estado em oferecer bônus aos policiais por seu rendimento tendo como base as estatísticas, mas alerta que é preciso atenção para evitar fraudes.

“Tem de haver controle muito bom para que isso (fraude nos números) não aconteça”, disse Mingardi. “Além disso, é importante reforçar que bônus não substitui salário. E os policiais de São Paulo continuam sendo mal pagos.”

Até que ponto o pagamento do bônus poderá ajudar a controlar os índices é incalculável até para as lideranças policiais. Ângelo Ísola, responsável também pela Polícia Civil nas cidades de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, aponta que além do dinheiro, a experiência lançada pela secretaria permitirá maior integração entre as forças policiais.

“Vamos trabalhar com mais inteligência a partir de agora. Vamos sentar mais com a PM (Polícia Militar) e definir nossa estratégia de atuação de forma melhorada, cercando os pontos de maior vulnerabilidade”, apontou Ísola.

O delegado refere-se, principalmente, ao Ragisp (Relatório Analítico Gerencial de Inteligência de Segurança Pública), serviço adotado desde outubro, conforme foi antecipado pelo Diário na ocasião. O sistema disponibilizará, em tempo real, informações hoje faltantes nas consultas imediatas feitas pelas polícias nos programas existentes, como marca e modelo de veículos mais roubados e furtados, se há mais vítimas homens ou mulheres e até a incidência criminal específica em determinada via.

Mingardi, no entanto, refuta a ideia de que roubos e furtos de veículos são praticados exclusivamente com o intuito de abastecer o comércio ilegal de desmanches. “Cada vez mais tem menos veículos velhos nas ruas”, disse.

“A lei e somente ela não melhorará muita coisa. É preciso ver como acontecerá essa fiscalização, quem será o responsável, como acontecerá o trabalho. Não sei se melhorará muito”, disse.

Estado tem 397 homicídios a menos

O Estado de São Paulo registrou queda de 8,2% no número de homicídios dolosos em 2013, na comparação com 2012, mas viu os crimes contra o patrimônio baterem recordes. As estatísticas criminais da Secretaria da Segurança Pública mostram que os latrocínios (roubos seguidos de morte) subiram 10,2%, chegando ao maior nível em nove anos, enquanto que os roubos em geral (alta de 8,1%) e os casos de furto e roubo de veículos (10,1% maior) atingiram o índice mais alto desde 2001.

A tendência das estatísticas de violência no Estado, que vinha sendo observada nos últimos balanços mensais, também se manteve na Capital, onde os homicídios dolosos caíram 14% em 2013, mas os latrocínios saltaram 38,6%. Já os roubos cresceram 12%, com 126.513 casos, o maior número na última década, e os registros de furto e roubo de veículos subiram 14,1%. Foram 99.206 ocorrências, o mais alto índice desde 2005.

Mesmo com a sequência de nove meses consecutivos de redução dos homicídios, o Estado não conseguiu retomar o patamar de 2011, que continua sendo o ano menos violento da última década. “Em dez anos a queda de homicídio foi de 72,4%. Esses indicadores apontam que estamos no caminho certo”, afirmou o secretário estadual da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira.

Para tentar reduzir os índices em 2014, o secretário aposta na Lei dos Desmanches, no pagamento de bônus aos policiais e na lei que prevê multa às empresas que comercializem produtos frutos de roubo de carga. “Essas ações vão permitir a médio prazo viver uma tendência de redução desses indicadores”, disse Grella

Segundo as estatísticas oficiais, a cada dois minutos um veículo foi roubado ou furtado no Estado em 2013. O índice merece atenção especial do governo porque, segundo o secretário, cerca de 50% dos casos de latrocínio estão relacionados a esse tipo de ocorrência, que somou 215.525 registros no ano passado.(da AE) 




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