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'Não existe alto rendimento sem dinheiro'

Secretário de Esportes e Lazer de São Bernardo deseja manter equipes de elite, mas com participação social

Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
26/01/2009 | 07:00
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São Bernardo muda radicalmente a sua política esportiva com a nova administração encabeçada pelo prefeito Luiz Marinho. Ideologicamente, o PT - que volta a comandar o município após 20 anos - privilegia o esporte comunitário ante o chamado alto rendimento. A cidade, entretanto, planeja seguir um caminho híbrido, no qual as equipes de elite deverão impulsionar a formação de jovens atletas e o lazer da população será tão (ou mais) importante quanto a conquista de medalhas em competições.

A experiência pode ser perigosa, visto o que ocorreu em Santo André. A potência esportiva dos anos 1980, a segunda maior vencedora dos Jogos Abertos do Interior (ao lado de São Caetano), com 12 títulos, não vence a principal competição intermunicipal do País desde 1996. Coincidentemente, no período em que esteve sob o comando do partido.

A missão de comandar tal mudança cabe ao secretário de Esportes e Lazer, José Luiz Ferrarezi, 45 anos, que na juventude (dos 11 aos 23) jogou futebol pela cidade, foi responsável por elaborar a questão no plano de governo de Marinho e procura desmistificar o estigma de que o PT é inimigo do esporte. "Foi no governo do presidente Lula que se criou o Ministério do Esporte", afirma.

Confira os principais trechos da entrevista do secretário de Esportes e Lazer, na qual ele revela os planos para o setor.

Diário - O que muda no esporte de São Bernardo a partir da sua gestão?
José Luiz Ferrarezi - Nós temos em São Bernardo uma estrutura de esporte muito boa. Porém, centralizada. Os melhores equipamentos estão na região central da cidade e nos bairros com maior capacidade financeira. Então, daqui para frente, vamos pensar descentralizado, na periferia da cidade. Uma outra coisa é equilibrar o orçamento. Na ótica de quem gerenciou a Secretaria de Esportes até então, o esporte de alto rendimento tinha prioridade. Nós vamos trabalhar a questão do lazer. Creio que será a grande marca da nossa gestão.

Diário - Por falar em orçamento, quanto a sua secretaria dispõe de verba?
Ferrarezi - Até o ano passado, a secretaria tinha um orçamento aproximado de R$ 24 milhões. E para 2009 caiu para R$ 18 milhões, lembrando que 50% disso vai para a folha de pagamento. Sobra em torno de R$ 9 milhões para trabalharmos.

Diário - Com relação ao futebol do São Bernardo Futebol Clube, quem irá controlar o clube e como será essa parceria?
Ferrarezi - Para nós o futebol está inserido em uma relação que queremos desenvolver com todas as demais modalidades. O futebol é extremamente importante. Se temos escolinhas e uma liga amadora forte, é importante também um time profissional. E nós queremos que ele suba para a Primeira Divisão. Porém, seja qual for a equipe que use espaço público, tem de trazer uma contrapartida. Hoje o São Bernardo utiliza o campo de jogo, treinamento e alojamentos que são da Prefeitura. E nós estamos esperando essa definição de quem será o interlocutor para discutirmos essa contrapartida.

Diário - Quando fala em contrapartida o senhor quer dizer uma compensação financeira para a cidade?
Ferrarezi - Existem várias possibilidades. Penso que hoje a Metodista é um bom exemplo disso. Nós temos um convênio que visa o alto rendimento e eles mantêm a escola de handebol para a cidade. Para que exista o alto rendimento, eu necessito que exista o trabalho de base. Uma das possibilidades, no caso do futebol, seria o São Bernardo atuar junto com a administração pública nas escolas de futebol.

Diário - A possível renovação de contrato com a equipe de vôlei (Santander) também passa por isso?
Ferrarezi - Sim. Já estamos em processo de discussão com o vôlei nesta mesma ótica. Para que eles continuem, uma das possibilidades é que trabalhem todo o vôlei da cidade, pensando nas escolas, na periferia, até a participação desses jovens. Com esse trabalho vamos, inclusive, ter um número maior de torcedores nos jogos da equipe profissional. Hoje temos um dos melhores times do País, que joga em um ginásio praticamente vazio.

Diário - Por falar em ginásio, como será sua utilização do Poliesportivo?
Ferrarezi - Costumo comparar com um teatro, que por sua qualidade merece bons espetáculos. Estamos conversando com todas as confederações esportivas, para que sejam realizados eventos aqui. Falamos também com o Ministério do Esporte e acredito que vamos voltar à rota dos grandes eventos.

Diário - Desde que o senhor foi nomeado falou-se muito na questão do futebol e a renovação de contrato do vôlei e do handebol. E as demais modalidades esportivas, como ficam?
Ferrarezi - Não existe esporte de alto rendimento sem dinheiro. Nesta época em que teremos um orçamento menor temos de fazer uma análise para saber como vamos estruturar cada modalidade. Mas cada uma delas terá obrigatoriamente de ter um vínculo com a cidade. Não vamos contratar atletas apenas para ganhar Jogos Abertos e Regionais.

Diário - O PT é contrário ao investimento no esporte?
Ferrarezi - Primeiro que foi no governo Lula que se criou o Ministério do Esporte e, a partir daí, com uma pasta específica, deu-se tratamento igualitário às demais políticas públicas. Além disso, é necessário entender o esporte com uma visão mais ampla que a do alto rendimento, quando alguns poucos competem e muitos apenas assistem. É importante que todos tenham condições de praticar. O lazer é essencial para todas as pessoas. Temos de conciliar o esporte competitivo com o comunitário. Ser campeão ou vice de competições como Jogos Abertos ou Regionais não determina se você faz ou não um bom esporte.




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