Claúdio Conz Titulo
A sustentabilidade e as bacias sanitárias

Muito se fala sobre sustentabilidade. Mas será que é possível conseguirmos construir sustentavelmente?

Por Cláudio Conz
03/03/2011 | 00:00
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Muito se fala sobre sustentabilidade. Mas será que é possível conseguirmos construir sustentavelmente?

Até meados de 1970, pouco se falava sobre o assunto. Com a primeira crise do petróleo, em 1973, os países do Oriente Médio elevaram o preço do barril, o que fez com que as grandes potências parassem para pensar em fontes alternativas. A questão da eficiência energética tornou-se pauta das principais economias e entre seus desdobramentos o tema do aquecimento, iluminação, refrigeração e funcionamento em geral dos prédios ganhou destaque.

Assuntos sobre como gerir resíduos, o planejamento sustentável da obra, como economizar água, o uso racional de materiais e as fontes de energia renováveis começaram a fazer parte dos temas ligados à construção. E ideias simples podem economizar milhões. Uma delas é a questão do uso racional da água nos edifícios. Estudos recentes demonstram que 35% da água de uma casa se esvaem pela bacia em descargas sanitárias.

No Brasil, os quase 50 milhões de imóveis existentes desperdiçam cerca de 575 milhões de m³ de água por mês em descargas sanitárias. Levantamento realizado pela Anamaco indica que o País precisa trocar cerca de 100 milhões de bacias sanitárias. São produtos antigos que gastam cinco vezes mais água do que os encontrados hoje no mercado.

Numa residência com quatro pessoas, a descarga sanitária é acionada, em média, 16 vezes ao dia. Se em cada descarga gastamos 30 litros, o total do consumo diário é de 480 litros e mensal 14,4 mil litros. Quando é feita a substituição por produtos com nova tecnologia, que utilizam seis litros por descarga, o consumo é de 2.880 litros/mês.

Essa conta revela economia de 11.520 litros/mês ou redução de 80% no consumo. Podemos começar a construção sustentável por aí.

Como integrante do CDES, quero aprofundar este tema para que ele seja parte do programa de sustentabilidade do governo em relação aos prédios públicos. Um programa de uso racional de água nas escolas federais diminuiria os custos, além de contribuir para disseminar a cultura de que a água é um bem da humanidade. Não se pode permitir o desperdício.

A TROCA DAS BACIAS NA PRÁTICA - A cidade de Nova York foi a primeira a ter a dimensão do problema. E, para evitar despesas abundantes na expansão de infraestrutura para o tratamento e fornecimento de água, desenvolveu programa de incentivo à substituição dos vasos sanitários - o TRP (New York Toilet Rebate Program). O programa trocou 1 milhão de bacias gratuitamente para a população e gerou economia de 30% no consumo de água e 35% nos custos do tratamento de esgoto.

A Cidade do México conseguiu efetuar a troca de todos os produtos em seis anos. Em 1985, o município iniciou programa oficial, reunindo comissão composta por integrantes do governo, fabricantes, escolas, representantes da sociedade e do comércio. Em 1986, determinou prazo de nove meses para que a indústria de produtos sanitários se adaptasse às novas exigências, isso é, todos teriam de se adequar à nova norma de produzir bacias de seis litros.

Entre 1989 e 1991, fabricantes de louças sanitárias precisaram destruir estoques de todos os produtos cujo consumo fosse maior que seis litros e, a partir de 1991, o governo proibiu a venda e comercialização de bacias com funcionamento acima do determinado. Nesse mesmo ano, o governo estabeleceu para todos os modelos de bacias um incentivo chamado de reposition cost. Isso é, os gastos efetuados na troca de bacias foram restituídos aos proprietários de casas, apartamentos, escritórios, lojas, fábricas etc. Para ter direito a esse benefício, o proprietário tinha de efetuar a troca nas revendas, deixando a bacia antiga.

EXPERIÊNCIAS NO BRASIL - Outro case interessante da Anamaco foi o projeto realizado na cidade de Vinhedo, interior de São Paulo, em prédios públicos. Na Escola Municipal de Vinhedo, a troca de louças e metais comprovou economia de 97% no consumo de água. Lá se consumia 129 mil litros de água por mês e, depois da obra concluída, a escola passou a gastar, em média, 3.800 litros/mês. O retorno sobre o investimento aconteceu em menos de três meses.

O projeto também foi implementado na Escola Municipal Integração de Vinhedo, maior colégio da rede pública da cidade, com 1.114 alunos. Lá, o consumo era de 853 mil litros de água/mês e, após a implantação do projeto, a escola passou a consumir, em média, 355 mil litros/mês, redução de 58,4% no seu consumo total.

Assim, com ideias simples, conseguimos economizar muito e mudar nossa realidade, preservando o futuro do planeta.




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