Os casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus na região, bem como o número de descartes de pacientes com a doença, devem aumentar substancialmente nos próximos dias. E por um bom motivo: o laboratório de análises clínicas da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), em Santo André, foi habilitado oficialmente pelo Instituto Adolfo Lutz, em publicação no Diário Oficial do Estado, para realização de diagnóstico da Covid-19 em moradores do Grande ABC.

Sobrecarregado, o centro de pesquisas da Capital vem habilitando locais que possam dar celeridade à fila de exames que aguardam confirmação para o novo coronavírus. Depois de se candidatar e preencher série de requisitos, o laboratório da FMABC foi aprovado.

A capacidade atual do local é de fazer 300 testes por dia, o equivalente a 7.000 em um mês, com resultados em até 48 horas. “Pretendemos, como instituição no combate à Covid-19, seguir a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), que é testar o maior número de pessoas possível. Vai ajudar na detecção para aumentar número de casos e ter realidade do que está acontecendo”, declarou o vice-reitor do centro universitário e coordenador do laboratório de análises clínicas da FMABC, Fernando Luiz Affonso Fonseca. “A partir desse momento, podemos, junto com as prefeituras, traçar política pública de alta capacidade de testes”, complementou ele, que celebrou a habilitação do laboratório e agradeceu as parcerias com a UFABC (Universidade Federal do ABC) e com as secretarias municipais.

Na última quinzena, o local já analisou amostras de São Bernardo, São Caetano e Santo André. Atualmente, negocia para expandir o processo para Mauá e pretende levar também a Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Diadema e até a Baixada Santista. Os próprios municípios são responsáveis pela coleta. E, depois de diversos testes e do resultado, os dados são enviados à Secretaria Estadual da Saúde.

A equipe do laboratório da FMABC desenvolveu método próprio de detecção a partir de uma região do gene viral do Sars-CoV 2, o vírus que causa a doença Covid-19. Essa reação própria – estudada desde antes de a doença chegar ao Brasil e baseada em protocolos internacionais – garante autonomia para a sequência das pesquisas. “A gente fica mais independente das grandes marcas de reagentes. Tendo essa metodologia desenvolvida no laboratório da faculdade, tenho mais liberdade”, disse Fernando Fonseca, que admitiu a chance de difundir o procedimento. “Podemos multiplicar a técnica para outras instituições da região e capacitá-las”, afirmou. Assim, aumentaria ainda mais a capacidade de testagem no Grande ABC.

O vice-reitor da FMABC ainda elogiou o trabalho que vem sendo desenvolvido no Grande ABC pelas administrações municipais. “As prefeituras estão fazendo trabalho excelente com recomendação do isolamento social e medidas de restrição impostas desde o início. A região está aliada com a ciência. É possível a gente testar bastante gente nos próximos dias”, exaltou. “Com nosso método, podemos detectar aquele que está doente, que tem o vírus e é assintomático, o que é sintomático e precisa de atendimento urgente. Com certeza, no momento em que a gente vai ter escalada do número de casos, vai poder ampliar medidas de restrição, já que ainda não existem tratamento e vacina”, finalizou.

Diadema confirma mais uma morte; região já chega a 30

O Grande ABC chegou à marca de 30 mortes pelo novo coronavírus. Ontem, Diadema confirmou a segunda vítima fatal no município, que tem ainda outras 14 em investigação. Em vídeo publicado nas redes sociais do município, o prefeito Lauro Michels (PV) detalhou informações do caso. “O segundo óbito, confirmado hoje (ontem), trata-se de homem de 65 anos, morador do bairro do Serraria que estava internado no Hospital Mário Covas por conta de uma cirurgia. Houve evolução do quadro para insuficiência respiratória e, posteriormente, o óbito. Foi testado o coronavírus positivo”, explicou.

Além das duas mortes em Diadema, a região contabiliza 17 em São Bernardo, cinco em Santo André, quatro em São Caetano e duas em Mauá. Além disso, contabilizando os dados que foram publicados ontem por quatro das sete administrações públicas, o Grande ABC alcançou 427 pessoas confirmadas de infecção por Covid-19, enquanto outras 3.616 aguardam resultados dos exames para saberem se estão ou não com a doença – neste dado, Santo André quase dobrou as suspeitas com relação ao boletim epidemiológico de sexta-feira, saltando de 470 para 881.

Ontem, em transmissão ao vivo nas redes sociais, o prefeito andreense Paulo Serra (PSDB) falou sobre as medidas que a cidade vem tentando adotar para conter o avanço da doença. “Temos pesquisado muito o que está sendo feito no mundo, acertos e erros, e tem algo que quero colocar para reflexão: de uma maneira preocupante, um fenômeno no Brasil tem acontecido, que são as faltas de união e solidariedade de parte da sociedade. Tem gente querendo encontrar heróis e vilões. Quem se fortalece com isso é o novo coronavírus. A solidariedade é o único caminho que vai nos tirar dessa”, defendeu. (colaborou Marcela Ibelli)