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Diadema ignora política de saneamento básico

Estudo do IBGE mostra que menos de 40% das cidades brasileiras têm lei específica para o tema

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
20/09/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Diadema é a única entre as sete cidades da região que não possui política pública voltada ao saneamento. O município sequer conta com legislação específica para identificar problemas e traçar plano de trabalho para ampliar índices de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e de águas pluviais. Isso é o que aponta a pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros - Aspectos Gerais da Política de Saneamento Básico, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Conforme o estudo, menos de 40% dos 5.570 municípios do País contam com política municipal de saneamento básico instalada, embora 41,5% deles afirmem possuir plano de ação em relação ao tema. O levantamento do IBGE corresponde ao ano de 2017 e avalia a implementação, por parte das cidades, de Lei federal regulamentada em 2010 e que dispõe sobre os objetivos, metas, órgãos reguladores, monitoramento e avaliações capazes de

oferecer condições adequadas de vida para a população.

Professora e pesquisadora sobre recursos hídricos da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Marcondes analisa que a situação do Grande ABC é positiva se comparada com o restante do País, no entanto, ainda está longe do ideal. A especialista destaca que a existência de políticas e planos voltados ao saneamento não necessariamente refletem em bons índices de coleta e tratamento de esgoto e de despoluição dos reservatórios de água, por exemplo. “Somos região rica, mas ainda com muitos problemas. Temos avanços, como o projeto Billings (pró-Billings, programa da Sabesp para coleta e tratamento de esgoto, com investimentos de mais de R$ 350 milhões na região), que vão trazer muitas melhorias, tirar grande quantidade de esgoto dos reservatórios, mas precisamos ficar de olho na sua total implementação”, pontua. 

Marta avalia que a questão do saneamento na região vai ter uma mudança de perspectiva em breve, mas ressalta que é preciso seguir cobrando os gesotes públicos e fiscalizando a implementação de programas. Embora as demais cidades da região contem com planos e políticas de saneamento básico, apenas Santo André e São Bernardo têm conselhos municipais voltados à discussão de assuntos relacionados ao tema. “Toda instância de discussão e fiscalização garante mais transparência às decisões dos governos. Inclui a sociedade, as universidades e são de suma importância”, aponta a especialista.

SAÚDE

A relação entre a ausência de saneamento e a incidência de doenças infectocontagiosas (diarreia, dengue, viroses, entre outras) é estreita, afirma a professora responsável pela disciplina de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Vânia do Nascimento. “Em toda comunidade onde se investe em saneamento básico há redução importante dessas enfermidades.”

De acordo com a pesquisa do IBGE, Diadema reconhece a ocorrência de endemias do tipo nos últimos 12 meses relacionadas à falta de saneamento. Além da cidade, São Caetano – apesar de contar com 100% de coleta e tratamento de esgoto – também notificou ao sistema federal a ocorrência de casos de dengue no período. “Por serem conurbadas, as cidades compartilham os problemas”, observa Vânia.

As prefeituras de Diadema e São Caetano não se manifestaram até o fechamento desta edição.

Santo André e São Caetano pleiteiam verba para realizar obras

Reportagem do Diário mostrou ontem que o governo federal incluiu quatro projetos do Grande ABC na relação de obras de saneamento que serão contempladas com recursos do programa Avançar Cidades. Duas propostas de São Caetano e duas de Santo André preveem investimentos da ordem de R$ 59 milhões. 

Santo André pretende instalar 20 estações de coleta (ecopontos) para manejo de resíduos sólidos e melhorias e ampliação no sistema de abastecimento de água da cidade, com construção de adutora, ao custo de R$ 28,7 milhões. 

Já em São Caetano, a administração espera a liberação de R$ 30 milhões para execução de serviços e obras de redução e controle de perdas de água no sistema de distribuição e melhoria da estrutura de triagem dos resíduos recicláveis e implantação de ecopontos.

Mauá também pediu financiamento de projeto para redução e controle de perda de água, além de ampliação do sistema de abastecimento, mas não foi contemplada até o momento.

Especialista cobra atualização de planos

Apesar de seis das sete cidades do Grande ABC figurarem em estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na lista de municípios que contam com planos municipais e políticas municipais de saneamento básico, o ambientalista e presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC), Virgílio Alcides de Farias, destaca que é preciso que os documentos estejam atualizados. 

“Sabemos que Santo André vai discutir isso por meio do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), mas é preciso saber qual a situação em todas as cidades. De uma forma geral, a região não leva a sério as políticas ambientais”, afirmou.

Integrante do Condema (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Diadema), Farias relatou que o colegiado chegou a pautar a necessidade de aprovação do plano municipal de saneamento básico em Diadema no ano passado, e que até existe um projeto (que começou a ser debatido em 2011), mas que nunca chegou a entrar em vigor. “Inclusive, já passou do prazo de ser revisado. Diadema e Rio Grande da Serra são dois exemplos claros de cidades onde as questões ambientais são esquecidas. Políticas de saneamento básico, ambiental, que significam maior qualidade de vida e mais dignidade às pessoas, não são levadas a sério”, acusou.

O ambientalista lembrou que o governo federal já adiou por três vezes o prazo para que os municípios brasileiros aprovem seus planos de saneamento básico, sendo a última delas de 2017 para 2019. “É um estudo amplo e complexo. Se estamos em 2018 e Diadema não começou, certamente não ficará pronto em tempo”, avaliou. 

O Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental de São Caetano) informou que o plano municipal de saneamento básico da cidade está em vigência e em processo de atualização. O Semasa informou que o plano municipal de Santo André é válido até 2034 e será revisto esse ano, conforme prevê a lei. Em São Bernardo, o plano está vigente e foi atualizado em 2017. As outras prefeituras da região não informaram a situação dos documentos.




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