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Região registra deficit de 24 mil vagas em creches
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
01/08/2011 | 07:37
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Na volta às aulas no Grande ABC, 24.178 crianças de zero a 5 anos de idade permanecem na longa fila de espera de creches na região. Embora as secretarias municipais de Educação tenham apontado o acréscimo de 13.067 vagas entre 2009 até o primeiro semestre deste ano, o deficit ainda é maior que o número de vagas criadas (veja quadro nesta página). Das sete cidades, São Caetano figura como exceção - o município atende toda a demanda de Ensino Infantil.

O cenário desanimador não é exclusividade do Grande ABC. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2009, apenas 18,4% da população de zero a 3 anos estão matriculados em creches no País. Entre 4 e 5 anos, a situação melhora um pouco: em torno de 80% estão na escola, mas ainda existe demanda grande a ser atendida - casos de Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra (não respondeu).

Principal calcanhar de Aquiles dos prefeitos e alvo de promessas em tempos de campanhas eleitorais, o deficit de vagas em creches é ainda um desafio e longo caminho pela frente aos administradores.

As prefeituras não apresentaram apenas o atendimento de zero a 3 anos, demanda especificamente de creches. Nem quantas vagas foram criadas para essa população neste primeiro semestre. Apenas Ribeirão Pires deixou claro que inaugurou em 25 de março, no Jardim Aprazível, na região de Ouro Fino, uma unidade com capacidade para 60 alunos, entre três meses e 4 anos.

Em reportagem do Diário do dia 10 de fevereiro, o deficit apontado era de 22,3 mil crianças de zero a 5 anos fora da escola. Em dois anos, as prefeituras criaram 9.841 vagas na região, que não foram suficientes para suprir a demanda. Quase deis meses depois, o cenário não mudou.

Maior município em área territorial e população, São Bernardo apresenta hoje o maior índice de crianças de zero a 5 anos fora da escola. Dados de cadastramento realizado em abril de 2009, segundo a Prefeitura, apontaram o deficit de 11.948 vagas, na faixa etária de zero a 6 anos. Até 2012, porém, o governo Luiz Marinho (PT) pretende criar em torno de 16 mil vagas. E para o próximo mandato, de 2013 a 2016, a previsão é que sejam construídas mais dez unidades, entre creches e CEUs (Centros Educacionais Unificados), que totalizariam 11.952 vagas.

São Bernardo informou que foram inauguradas neste ano quatro Escolas Municipais de Educação Básica, que criaram em torno de 4.000 vagas. Mas a faixa etária específica não foi mencionada, o que deixa o número impreciso com relação às vagas específicas de atendimento de creches.

Com dotação orçamentária de aproximadamente R$ 105 milhões na Educação, Mauá tem fila de espera que ainda assusta: 3.700 somente para vagas em creches, de zero a 3 anos. Em 2010, a administração Oswaldo Dias (PT) entregou à população duas unidades de ensino, uma no Jardim Elizabeth e outra na Vila Feital, que geraram 900 vagas para a Educação Infantil (zero a 5 anos). Mais seis escolas foram ampliadas (600 vagas) e outras três estão em obras.

 

JUSTIÇA

Diadema, Santo André, São Bernardo, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra são alvo de ações civis públicas ou individuais do Ministério Público, que exige a criação de vagas para todas as crianças.

 

 

Sto.André aponta duplicidade em inscrições

 

Juntas, Santo André e Diadema apresentam deficit de 7.934 vagas na rede de ensino municipal, entre zero e 5 anos. Somente de zero a 3 anos, a segunda cidade apontou ser 3.200 crianças em lista de espera. Já o município governado pelo prefeito Aidan Ravin (PTB) não informou especificamente.

No caso de Santo André, que atende atualmente 13.042 crianças matriculadas em creches e Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental, a Prefeitura justificou que o número de 3.434 crianças em lista de espera segue ordem de classificação. Ou seja, as unidades realizam as matrículas de acordo com a disponibilidade de vagas. Nesse caso, pais podem realizar as inscrições em mais de uma unidade, fato que pode implicar duplicidade. A Secretaria de Educação finaliza novo levantamento de dados.

Segundo a Prefeitura andreense, cerca de 4.000 vagas foram criadas de janeiro de 2009 até hoje ­- exatamente o período governado pela primeira vez pelo petebista, antes a administração era petista.

Duas creches , na Vila Luzita e no Jardim Marek, foram entregues à população. O número de vagas, porém, não foi informado. E a previsão até dezembro é que sejam inauguradas duas outras, na Vila Pires e no Jardim Cristiane. Até 2012, fazem parte do cronograma a entrega de cinco creches, que totalizarão 878 vagas.

Em Diadema, o atendimento à Educação Infantil cresceu, até o momento, 23%, segundo a Prefeitura. O município atende 15.285 crianças de zero a 5 anos. Na cidade, o governo possui parceria com entidades conveniadas, dentro do Programa Creche Lugar de Criança , que gerou 653 vagas entre zero e 5 anos.

No entanto, o deficit na Educação Infantil continua concentrado no segmento de creches (zero a 3 anos) e nas vagas para crianças de 4 anos, fruto de ação civil pública interposta pelo Ministério Público e julgada procedente pela Justiça para zerar a fila de espera no período de dois anos, sob pena de multas diárias.

Segundo a administração, não existe demanda para público de 5 anos. O governo petista prevê, até 2012, a construção de dez unidades para 1.688 vagas, de zero a 3 anos. Também estão previstas as entregas de três escolas de Educação Infantil, de 4 a 5 anos, que totalização 1.500 vagas.

Em dezembro de 2010, a Creche Carolina Maria de Jesus, no Jardim Inamar, foi entregue - o número de vagas não foi informado. Para o fim deste ano, outras três unidades devem ser inauguradas. Com cerca de R$ 9 milhões em recursos federais, Diadema prevê ainda a construção de mais quatro escolas - três creches e uma de Educação Infantil, entre Centro, Casa Grande, Jardim Yamberê e Parque Real.

 

Enquanto espera, mãe recorre à família

Bruna Gonçalves

 

Diversas famílias encontram alternativas até conseguir uma vaga para o filho no Ensino Infantil na região.

Deixar com parentes é a saída da babá Kátia Aparecida dos Santos Severino, 29 anos, do Jardim Santo André. Desde novembro, ela tenta uma vaga para o filho Jefferson, de 1 ano e 10 meses.

Enquanto não consegue, deixa a criança com a sogra ou com a irmã. "Deixo meio período com a minha sogra e o restante com a minha irmã. Eu vou com o coração apertado, porque deixo o meu filho para cuidar dos outros. Mas é preciso, para ajudar com a renda da família", diz ela, que trabalha em período integral na Vila Curuçá, em Santo André, e tem outra filha.

A sogra de Kátia, a dona de casa Auricélia Maria Severino, 61, tem alguns problemas de saúde e, quando vai ao médico, não pode olhar o neto. "Tem muitas mães que não precisam e deixam as crianças nas creches, e mulheres que trabalham e precisam, realmente passam por essa dificuldade", afirma.

A irmã da Kátia, a diarista Edilaine dos Santos, 26, também passa pela mesma dificuldade. Além de olhar o sobrinho, aguarda a vaga para o filho Petrik, de 1 ano e 10, há três meses. "Como fico com as duas crianças, nem sempre consigo fazer os bicos de diarista. Evito sair muito, porque com os dois pequenos é muito complicado. ainda mais grávida", explica a moradora do Jardim Santo André.




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