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Diário Coletivo relata cotidiano da sala
Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
15/11/2011 | 07:00
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Mamedio /DGABC


O que era para ser atividade que aperfeiçoasse a escrita e a leitura acabou se transformando em dinâmica de grupo para resolver problemas que qualquer amiguinho tem na sala ou fora dos muros da Emeief Profª Maria Cecília Dezan Rocha, na Vila Sá, em Santo André.

Em agosto, a professora de Educação Infantil Regina Campos escreveu: "Querido Diário! É muito bom escrever aqui (...) mas confesso que estou muito nervosa em registrar aqui como foi nosso dia de aula (...) Na aula de Matemática tivemos um pequeno problema... resolvi parar e conversar, ou melhor, dar um sermão, sobre a importância de demonstrar interesse e envolvimento...No final disseram que a aula de Matemática foi muito legal ".

Era a primeira a expor os seus pensamentos no Diário Coletivo, caderno onde todos os alunos do 4º ano têm de registrar a rotina e impressões do dia. Após o término das aulas, a pessoa sorteada leva o diário para casa para elaborar um texto. No dia seguinte faz leitura compartilhada com a classe. Nesse processo são trabalhados o tino para a observação e a forma de expressá-la; concordância verbal, gramática, memorização e leitura oral.

A professora adotou quatro passos para obter o envolvimento dos alunos no projeto: primeiro selecionou fragmentos do Diário de Anne Frank, em que uma garota judia, 13 anos, relata em diário os problemas enfrentados por sua família durante a Segunda Guerra Mundial. No segundo passo, dedicou algumas aulas para orientá-los como registrar fatos relevantes. A terceira parte foi o momento da leitura compartilhada com a classe para que o assunto abordado no texto fosse debatido. E, por fim, todos os alunos recebiam cópia para revisão coletiva.

Os resultados foram diversos. Leonardo Alves dos Reis, 9 anos, senta na última cadeira da terceira fileira. Segundo Regina Campos, era um aluno calado e retraído. "Mas hoje ele dá pulos, pulos mesmo, quando é sorteado para ficar com o Diário Coletivo", diz. Em casa, Leonardo solta o verbo. E no dia seguinte, sai do fundão para soltar a voz na frente de toda a classe: "Olá, Diário Coletivo. Hoje fui sorteado, então vamos logo ao assunto... A gente terminou a lição de História. Pegou o caderno de português e o relógio tocou. A gente foi para a merenda. Hoje foi purê e beterraba. A gente voltou para a sala de aula. O professor passou um texto, só a Isabela terminou".

FUTURA ESCRITORA

Talentos também são revelados. Influenciada pela mãe, a menina Isabela Martins, 9 anos, lê mais de cinco livros (infantis) por semana. Disse que prefere os clássicos e de diversão. Além de perder a timidez, com os exercícios, desabrochou para a escrita. E, com muita segurança, anuncia: "Ah! Vou ser escritora... E de clássicos!".

Regina está tão feliz com os resultados que quer aplicar o projeto já no primeiro dia de aula do ano que vem. Para alegria das crianças.

Preservar meio ambiente é lição desde cedo

Se toda criança já plantou uma sementinha de feijão ou arroz na escola, na Emeief Luiz Sacilotto, no Jardim Alvorada, em Santo André, elas vão além, plantio de árvores frutíferas, trabalhos de pesquisa e de estudos práticos na natureza.

Esse espírito científico é estimulado pelo projeto As Árvores da vida, da professora Karin Salmazzi Guedes, que passou a fazer parte neste ano do programa pedagógico da escola, que tem como tema mais amplo ‘O consumo sustentável'.

Tendo em mente que as pessoas só defendem o que conhecem, Karin quer mostrar aos seus alunos que eles não só fazem parte do meio ambiente como são os responsáveis pela sua preservação. "Só percebendo que fazem parte dela é que eles podem realmente intervir e proteger o meio ambiente."
Em meio a pesquisas e estudos práticos, o projeto explora o uso das múltiplas inteligências, uma vez que cada criança aprende de um jeito, às vezes usando mais tato outras vezes mais visão ou audição, entre os demais sentidos.

Por conta disso, todo o projeto é atrelado ao uso da tecnologia da informação, usando as diversas mídias, como jornais, revistas, livros, rádio e TV. Na internet, além de pesquisas, os alunos também ajudaram a criar o blog superblogeducacao.blogspot.com, para contar mais detalhes do projeto e divulgar os resultados das atividades. Na faixa etária entre 6 e 7 anos, os alunos já estão praticamente alfabetizados e conseguem interagir bem com a rede digital.

Karin conta que criou o projeto inspirada no curso de pós-graduação em Ciências da Natureza e suas Tecnologias, que faz na USP e teve como referência o livro didático Os formadores do saber, usado em toda rede de escolas municipais de Santo André. A partir daí, desenvolveu a ideia tendo como mote o estímulo a natural curiosidade infantil para transformar a relação das crianças com plantas, árvores, flores e frutos. "Hoje o trabalho atinge diretamente as 18 crianças da turma da Karin, mas acaba reverberando em todos os 425 alunos da escola, além das pessoas que elas convivem fora da escola", conta a assistente pedagógica Rita de Cássia Queiroz, responsável pela aprovação e acompanhamento dos projetos. Para ela, trabalhos como esses só são bem-sucedidos porque contam com apoio da família, que participa ajudando nas atividades que as crianças levam para casa.

FIM DA GUERRA

Se na escola o projeto As Árvores da Vida contribui para a ampliação do conhecimento dos alunos e a conscientização sobre o meio ambiente, em casa, as mães agradecem pelo fim da guerra na hora de alimentá-los. Nanda Medeiros, mãe de Matheus, 7 anos, conta que sofria quando tentava fazer o filho comer frutas. "Ele tinha muita resistência até para experimentar", diz ela. As atividades do projeto incluíam o estudo das árvores frutíferas entremeando ações de pesquisa, degustação e plantio. "Isso despertou a curiosidade dele, quebrou a resistência", lembra Nanda. (Mirela Tavares)




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