Economia Titulo Crise
Sindicato irá requerer falência da Karmann

Objetivo é garantir pagamento de verbas;
empresa não deposita salários desde fevereiro

Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
29/06/2016 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC irá entrar na Justiça para requerer a falência da Karmann Ghia, empresa de autopeças sediada em São Bernardo. O objetivo da ação, que foi aprovada em assembleia da categoria, é garantir o pagamento das verbas trabalhistas aos cerca de 330 trabalhadores, que estão sem receber salários desde fevereiro. Também não foram pagas as indenizações a aproximadamente 150 pessoas que foram demitidas desde o ano passado.

A companhia possui dívidas na ordem de R$ 300 milhões e, além de ter sido afetada pela queda nas vendas de peças para as montadoras, também é alvo de impasse judicial entre dois grupos empresariais, que disputam o controle da firma. Enquanto não há definição de quem é o dono, a fábrica segue sem comando.

“A falência não é para dilapidar o patrimônio da empresa, e sim para assegurar direitos”, afirma o presidente do sindicato, Rafael Marques. Ele explica que, quando uma companhia possui muitas dívidas, os credores podem entrar na Justiça para garantir o recebimento dos valores pendentes. “Cada um procura garantir o seu e quem chegar primeiro leva. Com a falência, ocorre o contrário. Os trabalhadores passam a ter preferência, até o limite de 150 salários mínimos”, acrescenta.

Marques destaca que também será solicitada a rescisão indireta dos contratos. “A fábrica está abandonada, então, não houve desligamentos oficiais. Com isso, os ex-funcionários não tiveram acesso sequer ao seguro-desemprego.”

Este não será o primeiro pedido de falência da Karmann Ghia a ser feito ao Judiciário. Ao menos outros dois processos semelhantes já correm no Tribunal de Justiça de São Paulo: um movido pela Continental Securitizadora e outro pela Banpar Fomento Comercial e Serviços Ltda.

Desde o dia 13 de maio, a fábrica está ocupada pelos funcionários, que tentam garantir que o patrimônio da empresa seja preservado. Ontem, entretanto, a Fiat, que era a principal cliente da empresa, terminou de retirar todo seu maquinário que estava em poder da Karmann Ghia em regime de comodato. A reintegração de posse foi autorizada pelo juiz Fernando de Oliveira Domingues Ladeira, da 7ª Vara Cível de São Bernardo.

O sindicalista relata que, sem receber, os empregados estão dependendo de doações. “Temos uma campanha de solidariedade para manter o mínimo de assistência aos trabalhadores. Além de arrecadar dinheiro, estamos recebendo alimentos, roupas e produtos de limpeza.”

HISTÓRICO

Em 2014, dom Eudes vendeu a Karmann Ghia para a empresária Maristela Astorri Nardini por R$ 17,8 milhões, valor que seria dividido em 52 prestações. Entretanto, segundo descrito nos autos, apenas a primeira parcela, de R$ 400 mil, foi paga.

A justificativa de Maristela foi a de que o Grupo ILP, do qual dom Eudes faz parte e que constava como proprietário da empresa até 2014, fez transações com firmas deficitárias, entre elas a Quasar, de Mauá, que está em recuperação judicial. Por esse motivo, a empresária alegou a necessidade de revisão do valor contratual, demanda que foi rejeitada pelo juiz Rodrigo Faccio da Silveira, sob argumento de que o fato de apenas uma parcela ter sido paga caracteriza ato de má-fé.

Diante do indeferimento do pedido, em maio, a titularidade da Karmann Ghia voltou para as mãos do grupo do príncipe. O problema é que, desde então, ninguém apareceu ao local se apresentando como proprietário para viabilizar a retomada das atividades.

A fábrica foi aberta em São Bernardo em 1960. Até 1972, produzia a carroceria do Karmann Ghia coupé. O chassi e a parte mecânica eram fornecidos pela Volkswagen. Os problemas financeiros se agravaram depois que a montadora alemã tirou de linha a Kombi e o Gol G4. 




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