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Preço da refeição popular do paulista sobe cinco vezes mais que inflação

Famílias de menor renda têm alta de 7,7% nos gastos, ante o fim do ano, para comer em casa

Por Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
16/03/2014 | 07:05
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A dona de casa tem sofrido na hora de comprar os ingredientes de um dos pratos mais tradicionais dos paulistas. Servir a mesa com arroz, feijão, bife, batata frita, salada e suco de laranja encareceu cinco vezes mais do que a inflação para as famílias com menor renda.

Na média, os preços desses produtos subiram 7,77% no primeiro bimestre em relação último dia do ano passado. Isso considerando a cesta de consumo para as famílias com renda entre um e cinco salários-mínimos, o equivalente a R$ 724 a até R$ 3.620. No mesmo período, a inflação atingiu alta de 1,43%.

As informações são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e estão incluídas no recorte do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de fevereiro para a Grande São Paulo.

Para chegar ao resultado, a equipe do Diário considerou o seguinte grupo de produtos: laranja-pera, alface, tomate, cebola, contrafilé, alcatra, batata inglesa, arroz e feijão-rajado.

Coordenador do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano), Leandro Prearo avalia que os produtos in natura são os que mais influenciaram na inflação da receita básica do paulista. “Entre fevereiro e março esses itens enfrentam problemas na produção por causa do excesso de chuvas ou da seca intensa (como ocorreu neste ano)”, pontua Prearo. Desta maneira, a oferta fica prejudicada e, junto à continuidade da demanda, os preços tendem a subir.

Não há dúvida sobre a tese de Prearo, com base nos dados do IBGE. Fazer um suco de laranja para refrescar o almoço custa 29,8% a mais do que no fim de dezembro. Esta foi a inflação média da laranja-pera, item que mais encareceu dentro do grupo da refeição.

Em relatório de análise de indicadores agronegócio, o IEA (Instituto de Economia Agrícola) avaliou que a laranja teve expansão da demanda e queda na oferta durante a temporada de calor intenso, o que, somado aos investimentos no combate às pragas no plantio, forçou os preços no atacado, que acabam sendo repassados ao consumidor.

E essa é a pior parte. A variação dos custos é sempre mais alta para o consumidor. A dona de casa e aposentada Wilma Maria Defaveri, 60 anos, percebeu os reflexos ainda nesta semana, quando fez as compras na feira. Moradora de Santo André, ela revelou que enfrentou inflação de 133% na dúzia da laranja-pera. “Eu pagava R$ 1,50 (no fim do ano passado). Mas hoje de manhã (quinta-feira), gastei R$ 3,50 pela mesma quantidade”, explicou.

FOLHAGEM - Wilma também reclamou do encarecimento de outro produto. “A alface subiu muito. Paguei R$ 4,50 pelo pé daquele tipo americano. Antes, custava R$ 2”, detalhou.

Esse aumento no primeiro bimestre foi captado pelo IBGE. A alface teve sua cultura amplamente prejudicada por causa da temporada de seca na Grande São Paulo. Na época, muitos agricultores perderam quase toda a produção porque o sol queimava as folhas, a temperatura da terra matava as raízes e a irrigação artificial não dava conta de manter a vida das folhagens.

O resultado desse cenário foi uma inflação acumulada de 29,7% nos preços da alface ao consumidor nos dois primeiros meses do ano. Junto a isso, ainda com o impacto do clima, aparece a cebola, com alta de 9,74%, e o tomate, com incremento de 1,54%. O fruto, por sinal, sofreu também com o clima em fevereiro, tanto que, no mês, apresentou alta média nos preços de 15,8%. No entanto, em janeiro, teve deflação de 12,3%.

A batata inglesa teve peso inverso para o bolso do consumidor. Mostrou deflação de 2,53% no bimestre. E o feijão também, com queda média no preço de 7,92%. O arroz, base para a refeição, encareceu apenas 1,08%.

CARNES - Os pecuaristas têm enfrentado algumas dificuldades que elevaram os seus custos, principalmente no que diz respeito às rações, cujas bases são de milho e soja – que tiveram encarecimentos no atacado nos últimos meses. Além disso, as altas temperaturas têm deixado o boi magro e, como o produtor evita colocar à disposição do mercado esse tipo de animal, a oferta para os frigoríficos diminuiu. Outro ponto foi o aumento do custo dos combustíveis, que influenciam toda a cadeia produtiva de carne, tendo em vista que é feita, em sua maioria, por transporte rodoviário. Desta maneira, os preços subiram e chegaram ao consumidor.

Isso fez com que o contrafilé ficasse 7,22% mais caro. E, a alcatra, 7,39%, para as famílias moradoras da Grande São Paulo. 




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