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Capela do Pilar, 300 anos, pede socorro

Igreja de Ribeirão tem infiltrações e afundamento do piso; entorno está com mato alto

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
15/03/2014 | 07:00
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A Capela do Pilar, fundada em 25 de março de 1714, é a igreja mais antiga do Grande ABC que permanece de pé com as mesmas fundações. Atingida duas vezes por raios, a construção resistiu ao longo dos anos. Essa senhora tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico) em 1975 e que, no dia 25, completa 300 anos, sofre com o abandono, visível já a partir do acesso pela Avenida Santa Clara. A placa que indica a existência da igreja no alto do morro está emoldurada pelo mato, que sobe os degraus junto com os visitantes.

Ao chegar à capela, o cenário não melhora: o mato continua alto e a cruz que fica ao lado da construção não resistiu ao tempo. A madeira apodreceu e está em pedaços.

Pelo lado de fora da igreja, é possível ver os primeiros sinais de problemas estruturais. As paredes, pintadas de branco pela última vez na festa em homenagem a Nossa Senhora do Pilar, em maio de 2013, não escondem as manchas escuras de infiltrações. Do lado de dentro, o piso afundou e buracos se abriram no assoalho de madeira. As manchas aumentam significativamente na parede esquerda, mesmo lado em que o piso está com problemas.

No teto logo acima do altar com a imagem da santa, que veio da Espanha diretamente para a capela, tábuas soltas correm o risco de cair e danificar a estátua. Ou ainda machucar o padre, que reza missa ali uma vez por mês.

Quem cuida da capela há 38 anos é dona Luzia de Farias Ferreira, 65, que vive em imóvel ao lado da igreja. Ela mantém a limpeza, mas não pode fazer muito em relação ao abandono estrutural. “Fico triste de ver como está. Nunca ficou tão abandonada. A gente pede para o pessoal da Prefeitura fazer alguma coisa, mas eles só vêm mesmo na época da festa (de Nossa Senhora do Pilar).”

A Prefeitura afirma que segue cronograma de manutenções na cidade, mas não disse a data em que será realizada a capina do mato na capela. Além disso, a administração destaca que desde o ano passado trabalha em projeto de restauração da capela, mas depende de aprovação do Condephaat e não há prazos.

HISTÓRIA

A Capela do Pilar Velho foi inaugurada em 25 de março de 1714, em louvor a Nossa Senhora do Pilar, como pagamento de uma promessa feita pelo seu construtor, Antonio Corrêa de Lemos. A data foi descoberta por Wanderley dos Santos e revelada em seu estudo concluído em 1973.

O povoado em torno da capela tomaria a denominação de Pilar Velho no século 19, quando da construção da estação férrea do atual município de Mauá, em território do Pilar. Para diferenciar, o povoado ao redor da capela, mais antigo, ganha o apelido de Velho. Depois, a estação Pilar mudaria de nome e a região iria ganhando os contornos contemporâneos hoje conhecidos por todos.

Evento comemora aniversário do marco histórico da cidade

Para marcar as comemorações dos 300 anos da Capela do Pilar, que serão completados no dia 25, será promovido hoje o 1º Encontro Histórico, idealizado pelo historiador indígena e violonista Robson Miguel, em parceria com o Museu Municipal Família Pires. O evento será realizado das 15h às 17h no Teatro Euclides Menato (Avenida Valdirio Prisco, 193, Jardim Itacolomy).

Segundo o historiador, a ideia é apresentar às autoridades do município documentos que comprovem a polêmica teoria de que a Vila de Santo André da Borda do Campo, fundada em 1553, ficava onde hoje está localizada a igreja aniversariante. Apesar de ser considerado a origem da formação da região, o povoado durou apenas sete anos, até 1560, e deixou poucos vestígios.

As pesquisas de Robson Miguel baseiam-se em estudos da história oral indígena. Inspirado na forma como os índios nomeiam as coisas que os cercam, o historiador acredita que a localização da vila seria na nascente do Rio Piqueri, hoje chamado Ribeirão Pires, perto de onde foi erguida a Capela do Pilar. O Diário publicou suas teorias em reportagem especial há exatamente um ano.

Para Robson Miguel, a proximidade da água e vestígios de que antes havia uma aldeia indígena elegeram a região da Capela do Pilar como a localização da vila.

Provas como documentos que apontam ter sido a igreja edificada sobre a primitiva Ermida Santo Antonio, construída em 1549 pelo Padre Leonardo Nunes Abarebebé (homem voador), que aconselhou João Ramalho a fundar a vila, serão apresentados durante o encontro, aberto ao público e gratuito. 




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