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Esporte oferece amor a refugiados em S.Bernardo

Muçulmano Anuar Pechliye ensina jiu-jítsu a crianças e adultos; hoje, ele disputa Mundial da modalidade em Campinas

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
11/12/2020 | 01:31
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DGABC


Diz o dicionário que refugiada é “toda pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem”. Mas, neste caso a ser contado a seguir, mais do que abrigo as pessoas vêm recebendo amor. E isso por meio de um lutador e professor de jiu-jítsu de São Bernardo, o representante comercial Anuar Pechliye, 40, que há 37 anos mora na cidade (o Grande ABC tem a segunda maior comunidade muçulmana da América Latina, atrás somente de São Paulo) e há dois meses iniciou um projeto voltado aos refugiados (mas que também atende demais públicos) na mesquita são-bernardense localizada na Vila Euclides. Em meio aos seus próprios treinos – o muçulmano (filho de libanesa e turco, cujos pais fugiram da guerra) também é atleta e, inclusive, hoje estará em ação buscando pelo menos o pódio no Mundial, a ser disputado em Campinas – orienta desde crianças a adultos dos mais diversos países, como Líbano, Síria, Marrocos, Guiné e Turquia. Mas, justamente pelo fato de não ser restrito, conta com brasileiros e está de portas abertas para novos interessados.

Oferecer uma oportunidade para refugiados é há anos um objetivo de vida para Anuar, que agora dá os primeiros passos – e, apesar do pouco tempo, já tem aproximadamente 115 alunos. A ideia é, em breve, ampliar as aulas para outras modalidades, como judô e muay thai, inclusive com turmas exclusivas femininas sob orientação de uma professora. “A ideia é ser um projeto social que tem o esporte como porta. Tirar as pessoas das margens da sociedade e introduzi-las”, conta o lutador e professor, que espera oferecer também outras experiências, como aulas de português aos estrangeiros, aulas de árabe para brasileiro e mais.

Entre os alunos refugiados, sem citar o nome, Anuar explica o tipo de história com a qual se depara e que o motivou a iniciar o projeto. “Tenho um aluno sírio com três pós-graduações em marketing, que saiu debaixo de bombardeio e o pai morreu na guerra”, inicia. “Guerra é complicado, iguala e nivela todo mundo por baixo. Machuca muito, porque hoje você está com seu pai e de repente cai uma bomba e explode sua casa. E sai do país em situação de miséria, fugido. Não tem rico ou pobre”, relata. O projeto não conta com uma mensalidade fixa. Anuar – mesmo desempregado – dá a liberdade para que os participantes colaborem com o valor que puderem. “Acredito que estamos formando pessoas melhores, não apenas ensinando jiu-jítsu.”

Ontem Anuar deu aulas na mesquita até tarde da noite. Nas primeiras horas de hoje, seguiria para Campinas para a disputa do Mundial. Em sua bagagem, mais do que o sonho de conquistar medalhas (estará disputando no peso médio – até 82,3 kg – e no absoluto), carrega um quimono sem patrocínios e repleto de remendos, marcas das batalhas anteriores, e o fato de ser referência para seus alunos. “É gratificante de um jeito que não sei explicar.”

O muçulmano já se aventurava nas artes marciais antes de ingressar naquela em que se tornou especialista (é graduado na faixa roxa). Seu início no jiu-jítsu, em 2014, foi justamente para ter ainda mais artifícios de combate, visando carreira no MMA. Porém, uma dengue hemorrágica quase fatal o fez permanecer restrito à modalidade na qual – desde então – participou de pelo menos uma dúzia de eventos (estaduais, nacionais e continentais) e só não conseguiu ir ao pódio em apenas um, justamente o Mundial de 2019. Assim, espera quebrar esse tabu hoje. “Tenho que resolver isso.” 




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