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ONG seleciona padrinhos para abrigados

Programa visa criar vínculos entre crianças e a sociedade; desde 2018, dez voluntários participaram

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
18/07/2019 | 07:00
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Qual o valor de poder fazer suas escolhas? As mais simples, como a estampa preferida para um pijama? Essas coisas do cotidiano que passam desapercebidas ao longo da vida podem ter grande importância para quem vive em um contexto social onde é difícil estabelecer a sua identidade, como crianças e adolescentes que moram em abrigos e precisam dividir tudo, em um ambiente realmente coletivo, desde a atenção até o par de meias – e claro, os pijamas. Tomar consciência dessa realidade foi apenas um dos impactos na vida da funcionária pública Janaína Botini, 35, moradora de Santo André.

A servidora faz parte do programa Apadrinhamento Afetivo, lançado em janeiro de 2018 pela instituição Ficar de Bem Crami (Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância do Grande ABC), que busca estabelecer vínculos dos voluntários com os menores (a partir de 10 anos) que estão em situação de abrigamento na cidade e não têm contato com a família. 

“As duas partes têm muitas expectativas. Vejo que nessa nossa convivência ele (afilhado) tem conseguido vivenciar a sua individualidade. Para mim, foi a oportunidade de reforçar a minha vontade de auxiliar, de ter ainda mais empatia. E ele é um grande companheiro”, afirmou Janaína. Ela fez inscrição no programa, assistiu às palestras e participou dos encontros de formação. De um total de 44 pessoas que se interessaram na primeira turma, dez concluíram o processo e apenas três têm contato com as crianças e adolescentes. 

As visitas começam a acontecer no local onde o menor está abrigado e, ao longo do tempo, evoluem para saídas com os padrinhos e até pernoites na residência do integrante do programa, que deve ter mais de 25 anos e não estar inscrito no Cadastro Nacional de Adoção. 

A citação ao pijama que abre a reportagem é real. Janaína levava o afilhado de 16 anos (o nome não pode ser revelado por proibição da Justiça) para dormir a primeira noite na sua casa e notou que ele não tinha a vestimenta. “Quando fomos comprar e eu disse que ele poderia escolher a estampa, vi que ele mal acreditava”, relembrou. “O pijama agora fica na minha casa, junto com as outras coisas dele, como escova de dentes e xampu”, completou.

Coordenadora do Projeto Fênix (série de iniciativas que visam qualificar o serviço de acolhimento e que abrange o projeto de apadrinhamento), Cinthia Castropil explicou que o comportamento do garoto mudou depois das visitas da madrinha. “A gente percebe que ele já consegue expressar a sua vontade, identifica os traços da sua personalidade”, destacou. 

Os pares entre padrinhos e afilhados são montados após entrevistas com os voluntários. A ideia é adequar as necessidades e expectativas das crianças com as possibilidades dos voluntários. “No caso do afilhado de Janaína, a gente sabia que ele precisava de alguém que acreditasse e incentivasse. E foi uma união muito feliz”, afirmou Cinthia. 

O programa de Apadrinhamento Solidário é realizado nos cinco abrigos de Santo André, que atendem até 100 crianças. Há tratativas em curso para levar o programa para São Bernardo. Em 27 de julho e 24 de agosto, o Ficar de Bem Crami realiza palestras para disseminar informações para a formação de novas turmas de voluntários. As inscrições podem ser feitas pelo link http://twixar.me/vY01.




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