Paranapiacaba vista por seus próprios moradores. É essa a tônica da mostra Olhares sobre Paranapiacaba, que fica em cartaz na Vila aos fins de semana, como parte da programação do 5º Festival de Inverno. As 30 fotografias em preto-e-branco, ampliadas no tamanho 50cm x 70cm, são resultado de uma oficina realizada durante três sábados consecutivos de junho, com 11 jovens da Vila, sob orientação do fotógrafo João Kulcsár.

Cenas de crianças brincando nas ruas, a famosa torre do relógio na estação de trem, a passarela metálica, as ruas, as paisagens - nada escapou ao olhar dos garotos, que antes de ingressarem nessa oficina, mal tinham contato com a fotografia. As idades dos participantes variam entre 14 e 20 anos.

Durante a oficina, os alunos tiveram teoria e prática. "Eles aprenderam a fazer uma leitura crítica da imagem e receberam noções de produção", afirma o orientador. As aulas aconteciam de forma bastante dinâmica. Kulcsár levou reproduções de trabalhos de famosos como Henri Cartier-Bresson, Sebastião Salgado e Cristiano Mascaro, enquanto os jovens levaram revistas com imagens que julgavam interessantes.

Em um dos encontros, Kulcsár exibiu slides feitos por ele mesmo durante uma viagem a Londres. E lá estava o famoso Big Ben, tão lembrado na Vila andreense. "Quando mostrei, falaram 'é parecido!'. E eles perceberam que a torre não é igual, mas ao mesmo tempo há uma referência forte."

Cada jovem recebeu uma câmera comum e automática mais três filmes p&b de 24 poses. As imagens eram captadas no encontro semanal, ao longo das caminhadas do grupo pela Vila e durante a semana, quando o equipamento podia ser livremente utilizado.

"A gente tentava incentivá-los a olhar a Vila de uma forma diferente", afirma Kulcsár. Outra questão levantada pelo curso era: "Será que eles conhecem o local onde vivem?". O orientador se surpreendeu com alguns casos, como o de Rita de Cássia Bonfim Barbosa, 14 anos, que disse: "Durante o curso fui a lugares que eu nunca tinha ido antes e aprendi coisas interessantes. Gostei muito de ter ido ao museu, fiquei muito impressionada comigo mesma por nunca ter tido curiosidade de ir até lá". Sua declaração está no catálogo homônimo à mostra, impresso em 1,5 mil exemplares e que seria distribuído aos visitantes.

As próprias mães sentiram as mudanças que o curso provocou. "Elas contaram que seus filhos só falavam nisso (fotografia)". Kulcsár confessa que ficou abismado com a qualidade do trabalho dos alunos. "São jovens muito espertos, críticos e inteligentes. Estão acima da média, na minha compreensão. Alguns têm nível de faculdade", diz. "Morar em Paranapiacaba significa ter qualidade de vida, mas por outro lado, também é um desafio, porque o local é pouco estruturado e impõe alguns limites. E eles respondem prontamente aos desafios."

Mas nem toda a produção dos garotos pode ser conferida na mostra. O que ficou de fora agora pertence aos alunos. As da exposição seguem, após o festival, para o conjunto cultural da Caixa (Econômica Federal), patrocinadora dessa oficina. "A idéia é que a exposição se torne itinerante e depois seja doada aos moradores de Paranapiacaba. Então, poderia até ficar em mostra permanente", explica.

Kulcsár diz que, embora não fosse objetivo do curso preparar os jovens para a profissão de fotógrafo, não duvida que esse possa ser o caminho de alguns dos alunos. "Acho que isso tudo causou um impacto na vida deles. No dia do lançamento do Festival de Inverno eles foram cumprimentados pelo prefeito (de Santo André, João Avamileno), deram autógrafos nos catálogos e se tornaram orgulho dos amigos", afirma.

A exposição pode ser vista aos sábados e domingos, das 10h às 18h, na r. Campos Sales, 398, na parte baixa de Paranapiacaba.

Sábado (16)

13h e 15h - Joca 7 Cordas e Regional Choros e Serestas. Na Praça do Mercado

14h - Gó do Trombone e Três do Choro. No Viradouro

15h - Banda Sinfônica de São Bernardo. No Clube União Lyra Serrano

16h - Quinzinho Oliveira. No Viradouro

18h - Orquestra Sinfônica de Santo André e Toninho Carrasqueira. No Clube União Lyra Serrano

19h - Celso Pixinga e Banda. No Viradouro

13h e 15h - Joca 7 Cordas e Regional Choros e Serestas. No Largo dos Padeiros

14h - Fernando Noronha (blues). No Viradouro

14h - Banda Lyra de Mauá. Na Praça do Mercado

16h - Nuno Mindelis. No Viradouro

18h - Banda Mantiqueira. No Clube União Lyra Serrano

19h - Blueseiros do Brasil. No Viradouro

Para os espetáculos das 15h e das 18h no Clube União Lyra Serrano é necessário doar um agasalho (uma peça vale um ingresso). Nos demais, o acesso é livre.