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Quatro filmes de Kubrick sao lançados em DVD
Orlando Fassoni
Especial para o Diário
03/10/1999 | 16:53
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Já está sendo anunciado para outubro o lançamento, em DVD (Digital Video Disc), das primeiras quatro obras da Coleçao Stanley Kubrick, lançada recentemente nos Estados Unidos e Europa com grande sucesso e que é formada por nove títulos que incluem as obras principais do cineasta de 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Kubrick morreu em 7 de março deste ano e como último trabalho deixou o polêmico De Olhos Bem Fechados, em exibiçao nos nossos cinemas sem tanta polêmica como a que provocou nos Estados Unidos por causa de suas cenas eróticas. Aqui, pelo menos, a maioria dos espectadores nao viu nada que pudesse ser tao provocante, talvez porque estamos acostumados a ver diariamente na TV cenas de sexo quase explícito.

A Stanley Kubrick Collection, que todo cinéfilo vai querer ter em casa, é uma reuniao da Warner e Columbia: a primeira lança sete títulos, a outra dois. No mês que vem, a Warner promete distribuir em DVD, no Brasil, os primeiros quatro filmes: Laranja Mecânica, Nascido Para Matar, Barry Lyndon e O Iluminado. Kubrick foi um cineasta que, de alguma forma, sempre provocou debates. Com exceçao de 2001, todos os seus filmes dividiram opinioes, mas viraram clássicos.

Laranja Mecânica, que abre o pacote, foi realizado em 1971 com base no livro homônimo do escritor Anthony Burgess, uma história futurista desenvolvida sob um clima constantemente opressivo e onde o diretor analisa a estética da violência e o processo de lavagem cerebral utilizado para eliminar os instintos agressivos dos jovens e adolescentes. Ao som de Beethoven, Elgar e Rossini, Kubrick criou um fantástico balé de sangue, sexo e brutalidade, mas nao deixa de falar sobre liberdade de escolha, livre arbítrio e repressao social. Na época de seu lançamento, Laranja Mecânica recebeu classificaçoes que foram de "nojento" a "genial". E virou clássico.

A violência que Kubrick abordou em Laranja Mecânica foi transferida em 1987 para a Guerra do Vietna no filme Nascido para Matar, obra que o diretor realizou depois de oito anos parado, numa época em que falar sobre o conflito no sudeste asiático, e suas seqüelas, estava em voga no cinema norte-americano. Talvez pelo oportunismo, Kubrick nao teve, aí, um grande momento, mas o drama é impecável principalmente na sua primeira parte, que impressiona pela crueldade e pela violência das cenas envolvendo os recrutas que vao à guerra sem saber exatamente porque e sao submetidos a entrar num inferno onde ver sangue é tao trivial quanto comer um hot-dog.

Barry Lyndon, de 1975, baseado em romance de William Makepeace, foi o trabalho mais elegante e sensível de Kubrick, diferente dos horrores das guerras (Glória Feita de Sangue, Nascido Para Matar), longe da ficçao (2001) e do fantástico (O Iluminado). É um filme ambientado no século XVIII e que tem uma excelente reconstituiçao de época, uma fotografia notável que imita as artes plásticas daqueles tempos, uma boa história que mistura aventura e romance e uma seleçao musical que inclui peças de Schubert.

Kubrick, preciosista que gostava de todo o processo de feitura de seus filmes, gastou mais encomendando lentes especiais para obter os efeitos cromáticos que queria do que qualquer filme brasileiro de médio orçamento.

A Coleçao Stanley Kubrick terá, ainda, o irresistível O Iluminado, de 1980, uma incursao do diretor no cinema fantástico, de horror e suspense, obra maravilhosa que até hoje, quando revista, consegue eriçar os nossos temores por suas situaçoes absolutamente imprevisíveis, um clima sempre arrepiante e uma trama que brinca com as sensaçoes de medo que o espectador sempre traz consigo, embora, já dizia Hitchcock, seja preciso ser muito fraco de espírito para acreditar que uma múmia possa ressuscitar.

Ambientado dentro do hotel Overlock, nas montanhas, onde crimes terríveis aconteceram, O Iluminado tem a boa história do escritor Stephen King, um criador de sustos, e também fala das formas como um pacato professor que pensa ser escritor acaba se tornando um capeta.

Jack Nicholson, que defende o personagem principal, deve dar graças a Kubrick por tê-lo permitido ter tido aí um dos seus melhores momentos no cinema. Tanto que, até hoje, Nicholson nunca conseguiu se livrar dos maneirismos e da constante cara de demônio, mesmo em filmes mais serenos e menos assustadores.

Vamos, portanto, aguardar em outubro os primeiros quatro títulos da Coleçao Stanley Kubrick em DVD. E esperar que, no resto do pacote, estejam incluídas outras obras clássicas do diretor, desde Doutor Fantástico até o inigualável 2001, o filme que dividiu a ficçao-científica em "antes" e "depois" e que já foi considerado muito mais religioso do que qualquer obra inspirada na Bíblia.




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