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Yeltsin contesta críticas contra operaçao militar
Por Do Diário do Grande ABC
18/11/1999 | 11:26
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O presidente russo, Boris Yeltsin, contestou energicamente as críticas ocidentais contra a ofensiva na Chechênia, enquanto seu colega norte-americano Bill Clinton o aconselhava a aceitar uma mediaçao da Organizaçao para a Segurança e a Cooperaçao na Europa (OSCE). "Vocês nao têm direito de criticar a Rússia sobre a Chechênia", disse Yeltsin aos dirigentes de 54 países da organizaçao, reunidos em Istambul.

O presidente russo se negou ainda a negociar ``com bandidos e assassinos', enquanto os europeus o pressionam para aceitar uma soluçao negociada para a crise.

A reuniao de cúpula foi aberta pelo presidente turco, Suleyman Demirel, em um palácio otomano situado às margens do estreito de Bósforo.

Em resposta as críticas do Ocidente sobre a sofrida situaçao de civis chechenos presos em meio aos combates, o presidente russo assinalou que os militantes islâmicos chechenos teriam seqüestrado civis e realizado uma série de atentados terroristas.

"Os terroristas nao têm preocupaçoes humanitárias", ressaltou Yeltsin. O presidente russo pediu que outros países colaborem com a Rússia a fim de eliminar o terrorismo.

Observadores haviam antecipado que as matanças na Chechênia e a sorte de 200 mil refugiados dominariam a reuniao de 54 chefes de estado e de governo convocados pela OSCE.

Yeltsin disse quarta-feira, que se recusaria a assinar a declaraçao da OSCE se outros países tentassem inserir no texto uma mençao crítica ao desempenho dos russos na Chechênia. Yeltsin deve se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e de forma conjunta com o presidente francês, Jacques Chirac, e com o chanceler alemao, Gerhard Schroeder, à parte.

A OSCE compete a prevençao de conflitos, a conduçao da crise e a vigilância dos direitos humanos. O grupo, que inclui a Rússia e os Estados Unidos entre seus membros, desempenhou um papel importante para a reconstruçao da Bósnia-Herzegovina e no restabelecimento da ordem na província iugoslava de Kosovo. Mas na Chechênia, a Rússia limitou o papel da OSCE ao de uma missao humanitária simbólica.

É lícito supor que a Chechênia e seus aspectos direitos humanos, segurança, desarmamento provavelmente constarao dos discursos dos chefes de estado, como também no documento final.

Outros tópicos de debate devem incluir Kosovo, a província sérvia que está sob administraçao internacional há alguns meses.

Os membros da organizaçao também esperam modificar um tratado para reduzir os limites no número de armas pesadas em toda a regiao da OSCE, desde o Oceano Atlântico até os Montes Urais russos.

Clinton, que cumpre uma visita de cinco dias a Turquia, deve assinar acordos, respaldados por outros países ocidentais, para construir oleodutos na Turquia, em investimentos de vários milhoes de dólares. Os acordos fortalecerao a influência norte-americana na regiao e beneficiarao a Turquia, situada no extremo sudeste do mapa da OTAN.

Yeltsin também assegurou que seu país firmará a carta de segurança para o século XXI, que será aprovada durante este encontro de cúpula. Mas a assinatura da carta, que estava prevista inicialmente para esta quinta-feira, foi adiada para sexta-feira, segundo o presidente em exercício da OSCE, Knut Vollebaek, devido às divergências entre russos e ocidentais sobre a Chechênia.

Este adiamento, disse Vollebaek, está relacionado com a maneira de tratar a questao chechena em todos os documentos da reuniao de cúpula.

``A Chechênia ofusca manifestamente a conferência e ninguém sabe o que acontecerá nas próximas 24 horas', declarou o comissário europeu de Relaçoes Exteriores, Chris Patten.

Boris Yeltsin, presente no encontro, recebeu as críticas sobre a operaçao militar na Chechênia. Os europeus condenaram esta guerra nefasta para os civis e pediram a Boris Yeltsin para iniciar um diálogo político. ``A guerra nao é um meio para acabar com o terrorismo', afirmou o chanceler alemao Gerhard Schroeder, dirigindo-se a Yeltsin.

O presidente francês, Jacques Chirac, ameaçou nao assinar a carta e o tratado CFE de desarmamento convencional na Europa se a Rússia nao se comprometer firmemente a aplicá-los.

Clinton adotou uma posiçao muito mais moderada, confessando que se colocou no lugar de Yeltsin, antes de emitir um julgamento. ``Para isolar e reduzir o terrorismo, deve haver um diálogo e uma soluçao política, nao com os terroristas, mas com os que buscam uma soluçao política', disse o presidente norte-americano. Opinou que a estratégia militar da Rússia, ao causar um número crescente de vítimas civis, corre o risco de dar resultados contrários aos buscados por Moscou.

Yeltsin nao rejeitou explicitamente a idéia de uma mediaçao da OSCE, mas se revelou contra o princípio de ``ingerência humanitária', responsável, segundo ele, pela agressao da Otan contra a Iugoslávia. ``Queremos a paz e uma soluçao política na Chechênia. Precisamente por isso, temos que eliminar os grupos armados e os terroristas', argumentou.




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