Cultura & Lazer Titulo Cia. Lambe-Lambe
Memória vira arte

Companhia monta trabalho sobre resgate das
lembranças de um grupo de mulheres de 64 a 88 anos

Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
26/11/2009 | 07:01
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A memória afetiva, como um sonho flutuando na mente humana, ganha corpo a partir da montagem de Ao Cair da Tarde, da Cia. Lambe-Lambe, que é apresentada hoje, no Sesc Santo André, gratuitamente.

O material de trabalho da companhia foi o resgate das lembranças de um grupo de mulheres de 64 a 88 anos, que estão reunidas desde 2007 e que já foi abordado em de uma exposição fotográfica.

Foram cinqüenta encontros entre os artistas e as mulheres que, juntos, foram resgatando suas histórias e compondo cenas para elas. Agora, no palco, artistas e as protagonistas da história relembram as cenas que marcaram suas vidas.

"A convivência entre nós foi intensa. Elas se abriram e se esqueceram da idade. O grande barato é o resgate delas para elas mesmas. Passaram a valorizar suas histórias", conta Mônica Sucupira, diretora do espetáculo.

A relação definida por Mônica para a composição da pesquisa passou longe do assistencialismo e de oficinas ministradas por artistas para um grupo de idosas. "Duas palavras simbolizam nosso trabalho: afeto e arte. Trabalhamos relatos, memórias e vivência através da arte."

O roteiro se desdobra através de cenas de passagem, que relatam identidade, amor, filhos e família. O recurso cênico mais utilizado no palco é o corpo, que através da música ou da ação, simbolizam cenas que marcaram a vida das senhoras e que de algum modo dialogam emocionalmente com a plateia. "A maneira como isso é tratado, poeticamente, é como se cada um de nós estivesse vendo um filme em cena. O canal pelo qual a comunicação é estabelecida, é o da sensibilidade,"

Cenas como a mulher que fugia de casa para namorar na linha de trem, da que guarda a lembrança do bucolismo da noite em sua cidade ou da que lembra do avô, de origem espanhola, que tocava guitarra toda noite, em uma casa que ficava em uma rua de terra e tinha pouca iluminação, simbolizam essa troca de vivência que o público poderá conferir.

"Essas lembranças, transformadas em imagem, ação e arte, dialogam com a história de cada um. Quem nunca viveu um momento de despedida? Ou então fixou na memória uma paisagem ou guarda uma história apaixonada".

Sete artistas das áreas de dança, cinema, teatro, fotografia e figurino, compõem o espetáculo, ao lado de 15 senhoras. Todos no palco a todo momento, trabalham fundindo o movimento corporal e a imagem em dez cenas.

Sem roteiro fixo, o espetáculo sempre pode trazer algo novo. "Elas passaram a se lembrar mais de suas histórias. Sempre nos trazem uma lembrança nova." O estabelecimento dessa relação, que configura arte, história e confidências, tornou o grupo um elo de valorização à memória. "As transformações que a arte e o contato humano nos trouxeram, beneficiam a todos. Nós artistas estamos mais espontâneos, enquanto elas, as senhoras, passaram a ver a vida mais artisticamente," completa a diretora.

Ao Cair da Tarde - Teatro. Sesc Santo André - Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Hoje, às 16h. Grátis.




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