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Feriado de 9 de julho ainda não é tradição no Estado

Movimento contra Vargas em 1932 é pouco debatido

Por Maíra Sanches e Natalia Fernandjes
09/07/2012 | 07:00
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Há 15 anos, moradores do Estado de São Paulo convivem com feriado no dia 9 de julho. No entanto, é comum observar pessoas se perguntando o significado da data. Apesar de sua importância, a Revolução Constitucionalista é pouco analisada até mesmo pelos livros didáticos. O movimento armado, ocorrido entre julho e outubro de 1932, pedia o fim do governo provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova Constituição, para restabelecer a autonomia dos Estados.

Na visão do coordenador de pós-graduação do curso de História da Fundação Santo André, José Amilton de Souza, o ato de se decretar um feriado tem a ver com tradição. E é preciso de tempo para que a importância de um fato histórico seja devidamente compreendida.

Além de ser relativamente nova, a paralisação dos serviços em 9 de julho foi uma determinação do governo, e não ocorreu pela pressão popular, explica. "Demorou 65 anos para que o dia passasse a ser feriado e a população pouco participou deste processo", diz.

Além de a política sempre ter sido distante das massas, este movimento social foi um dos que nasceu de "cima para baixo", explica Souza, ou seja, não foi encabeçado pela população mais pobre. Com isso, nem sempre há compreensão das pessoas sobre o tema. "Até mesmo em sala de aula estudamos outros movimentos com mais intensidade, como a Guerra de Canudos, que aconteceu na Bahia", lembra.

História

Após Getúlio Vargas ocupar a presidência da República devido a golpe de Estado, em 1930, houve inconformismo por parte dos representantes da política do café-com-leite, como era conhecida a alternância de poder entre as elites de Minas Gerais e São Paulo. Com isso, a classe dominante paulista passou a exigir maior participação no governo federal. Em resposta, o então presidente nomeou um interventor não paulista para governar o Estado, o que gerou o conflito.

Uma das questões marcantes desta data foi a morte de quatro estudantes que representavam a participação da juventude: Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o famoso MMDC. Estima-se que cerca de 135 mil pessoas aderiram à luta, que durou três meses e deixou quase 900 soldados mortos no lado paulista. Já estimativas não oficiais reportam até 2.200 mortos.

Depois da revolução, São Paulo voltou a ser governada por paulistas, e, dois anos depois, uma outra constituição foi promulgada.

Praça da Revolução está esquecida em São Bernardo

Sujeira, mato alto e pichações. É nesta condição que atualmente se encontra a ignorada Praça Ângelo Marin, no bairro Paulicéia, em São Bernardo, também conhecida como Praça da Revolução. Próximo da mal cuidada quadra de esportes, um extenso pilar de concreto com as iniciais dos quatro estudantes que lutaram na Revolução de 1932 passa despercebido pelos moradores.

No sábado, o movimento era nulo na praça e proximidades. A diarista Edileuza Ferreira, 44, mora há nove anos na Rua Líbero Badaró, via que leva à área. "Só venho para depositar meu lixo reciclável (há tambores de coleta). Ninguém liga para essa praça. Até mendigos dormem nos bancos. Nem sabia que tinha algum significado histórico."

O proprietário de uma autoelétrica localizada quase em frente à praça tem medo de frequentar o local com a neta. "À noite tem muitos usuários de drogas. Até polícia já baixou aqui. Ninguém do bairro usa." Eduardo Fernandes, 65, afirmou conhecer superficialmente o significado do feriado. "Não sei detalhes. Só lembro que era alguma revolução."




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