Política Titulo
Excentricidade e autoritarismo deram a Tortorello fama de coronel
Regiane Soares
Do Diário do Grande ABC
18/12/2004 | 13:02
Compartilhar notícia


Muitos adjetivos poderiam ser elencados para qualificar a personalidade do prefeito Luiz Tortorello. Mas o jeito Tortorello de ser é um misto de excentricidade e autoritarismo, quase incompatível com os dias de bom humor em que fazia piadas com quem passasse por perto. Para muitos, Tortorello parecia mesmo um personagem, uma caricatura, com seus inconfundíveis óculos quadrados, de estatura alta e barriga saliente, com um gosto inconfundível pelo futebol, pela pescaria e pela música sertaneja. De tão auto-confiante, poucas foram as vezes que foi humilde ao ponto de admitir erros. Seu conhecimento jurídico e a experiência política não permitiam. Chegou a enfrentar as leis, as mesmas que usava para aplicar suas sentenças de quando era juiz. Em uma ocasião, admitiu usar uma placa fria (sem documentação) em um carro oficial da Prefeitura, e justificou a atitude como uma defesa do patrimônio público. "Em qualquer confusão, o carro oficial é o primeiro a ser visado", havia dito na época.

Entre tantos adjetivos, o de coronel e de autoritário foram os mais usados. Tanto que o próprio Tortorello admitiu as qualidades. "Sou um pouco autoritário e não sei se isso é defeito ou virtude. Sou perfeccionista e gosto de acompanhar as coisas de perto, de modo que sempre acompanho as obras do município e gosto de dar um palpite", disse em entrevista ao Diário publicada em 28 de abril de 1991. Aliás, dar palpite e fazer críticas faziam parte da rotina do prefeito. E não só com os seus subordinados, a imprensa e a oposição também foram alvos de seus desatinos em público. "A oposição é inconseqüente e burra", comentou na mesma entrevista.

Já o estilo coronel de administrar, Tortorello assumiu recentemente. Em reportagem publicada no Diário em dezembro do ano passado, disse que era chamado de coronel porque impunha sua opinião e sua vontade e, quando preciso, dava murro na mesa para as coisas funcionarem. "Eu não nego, não. Eu sei que eles estão usando a definição coronelismo no aspecto de responsabilidade administrativa. No sentido folclórico", havia dito à época. Mas o jeitão autoritário e de coronel fazia parte do comportamento de Tortorello mesmo quando ele não estava no poder. Três anos depois que deixou o seu primeiro mandato (1989-1992), Tortorello agia como se ainda fosse o prefeito. Tinha o privilégio de discursar em inaugurações de obras públicas, usava vaga exclusiva do então prefeito Antônio Dall'Anese no estacionamento do Paço Municipal e entrava no gabinete pela porta privativa do prefeito sem ser anunciado pela recepção. Tudo autorizado pelo própio Dall'Anese.

Já em relação ao seu trabalho, Tortorello sempre fez questão de ressaltar as conquistas de suas administração com orgulho. Ao fazer um balanço de seu primeiro mandato, em 1992, o prefeito deu nota 10 ao seu governo, pois acreditava, sem modéstia, que tinha feito um excelente trabalho. "Pois é, se eu tivesse que atribuir uma nota para a solução dos problemas na minha administração, daria nota 10", afirmou em uma entrevista publicada no Diário em 13 de dezembro de 1992. As grandes pretensões político-eleitorais também faziam parte do perfil do prefeito. E sonhava alto. Seu maior objetivo era ser governador de São Paulo, e pensava que nas eleições de 1994 isso seria fácil. Chegou até a desprezar o poder de fogo então deputado José Dirceu (PT), hoje ministro-chefe da Casa Civil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A sucessão de 94 será fácil. O Silvio Santos já está fora, o PT pretende lançar o Zé Dirceu ou a Telma de Souza (ex-prefeita de Santos), que são muito fraqüinhos", comentou em 1992.

Multimídia – Tortorello foi um prefeito multimídia. Apresentou um programa de TV em uma emissora local – a TV São Caetano – criada por ele mesmo. Duas vezes por semana entrevistava personalidades da região para discutir os mais variados temas. Foi convidado para atuar na peça teatral Zan Caetano, Amore Mio!. Escrita por João Carlos Lira e Ivan Gonçalves, a peça contava a história da própria cidade, e estreiou no Auditório Santos Dumont em abril de 1992. Tortorello fez o papel dele mesmo: o prefeito que decretou estado de calamidade pública em março de 1989 em razão das enchentes que desde então castigam a cidade.

Mas foi com a música que o prefeito quase deixou a política de lado para seguir carreira artística. Com seu vozeirão de tenor e um violão em punho cantou vários sucessos sertanejos, e não precisava nem de ocasião especial. Até mesmo em seu gabinete foram entoadas várias modas de viola. Formou uma dupla sertaneja com Luiz Carlos Grecco, ex-prefeito de Ribeirão Pires. A idéia surgiu durante uma pescaria – outra paixão de Tortorello. Eles fizeram sucesso na Festa de Nossa Senhora do Pilar de 1991, quando cantaram músicas de João Mineiro e Marciano e de Chitãozinho e Xororó para um público estimado em três mil pessoas. Chegaram a fazer repertório e alguns arranjos para gravar um disco. Ensaios foram feitos em um estúdio de Santo André, mas o projeto não decolou.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;